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Almirante Saldanha (II)

28/02/2016
Almirante Saldanha (II)

No longínquo 1955, Romeu Saldanha, ao ingressar no Colégio Naval em Angra dos Reis, RJ, ficou encantado com as instalações, limpeza, muito verde, muito mar. Surpreso com ele mesmo, infância livre, leve e solta na praia, adaptou-se ao regime militar. Abominava apenas o “trote” dos veteranos. Em primeira carta a seus pais, escreveu.

“Queridos pais. Estou em período de adaptação aqui no Colégio Naval. Rotina diária é repleta de atividades voltadas para a formação intelectual, moral e física dos cadetes. A formação militar-naval faz a diferença em relação as demais instituições de ensino do país,  proporciona aos cadetes os fundamentos da profissão do mar. O dia começa às 6:00 h, com o toque da alvorada. As aulas são ministradas das 7:30 h às 12:30 h.  Às 14:00 h é realizada a parada escolar, são verificados o apuro dos uniformes e o asseio pessoal dos cadetes, seguida de desfile em continência. Às tardes geralmente os cadetes realizam atividades inerentes à profissão Militar Naval, fazem educação física e treinam nas equipes esportivas. Depois do jantar, os cadetes retornam às salas de aula, estudo obrigatório das 19:30 h às 21:30 h. O dia termina às 22:00 h com o renitente e belo toque do silêncio.

O despertar do gosto pelo mar é a essência da formação marinheira, exercício de vela e remo, travessias e competições a bordo dos veleiros oceânicos, a atuação harmoniosa no remo e o prazer solitário da canoagem proporcionam elementos para fazer o jovem evidenciar seus valores e, principalmente, respeitar os elementos da natureza. Todos os cadetes podem desfrutar dessa experiência que requer, é verdade, dedicação especial e muito espírito marinheiro.

Fiquei feliz no teste de natação, dei um show, o instrutor mandou nadar 100 metros, quase bati recorde. Já estou na equipe de natação do Colégio Naval, muito orgulhoso. Meu pai, aconteceu um fato, lembrei-me muito do senhor, professor e homem honesto. Na primeira prova, português, o professor distribuiu as provas, saiu da sala de aula. Ninguém filou. Faz parte do Código de Honra do Cadete, não escrito, bonito, não? Os instrutores e professores, oficiais da Marinha, nos orientam sobre procedimentos na vida….”

Romeu Saldanha tinha suas folgas, sábado depois da formatura, e domingo eram livres, ida ao Rio ou ficar perambulando por Angra dos Reis, Paraty e adjacências. Nosso herói logo descobriu um cabaré na estrada, surpresa agradável, mulheres bonitas, tornou-se frequentador assíduo.

No Colégio Naval o cadete recebe o soldo de soldado, entretanto, o pai  de Romeu, enviava sempre uma complementação pecuniária, o cadete Saldanha desviava essa complementação às moças do cabaré. Romeu não perdeu o vício, compulsão por mulher.

Foram três anos no Colégio Naval mais três anos na Escola Naval na Ilha de Villegagion, na bela cidade do Rio de Janeiro. Seis anos se passaram para se tornar Tenente da Marinha. Romeu sempre se destacou pela liderança entre colegas, sobretudo, ser atleta de natação. Nos 100 e 200 metros livres, bateu recordes das Forças Armadas.

Durante sua formação, nunca deixou de passar férias na querida Maceió, desfrutar o prazer de nadar até às piscinas naturais da Pajuçara, velejar, rever amigos, fazia sucesso entre as jovens casadoiras. Ao colocar o uniforme de gala para o réveillon do Clube  Fênix, arrasava. Entretanto, diariamente, frequentava os cabarés do bairro boêmio de Jaraguá. Certo verão uma jovem prostituta apaixonou-se pelo alegre Romeu, foi o romance daquelas férias.

Amava as festas natalinas de rua na Praça da Faculdade, observava detalhadamente as moças desfilando, não errava o alvo, sempre havia namorada nas férias, naquela época as jovens eram virgens juramentadas, mesmo assim, Romeu, com o carro do pai, conseguia levar alguma para o Posto de Salvamento na Avenida da Paz, local de noite tranquila.

Desde menino gostou da cultura popular nordestina. Aproveitava as férias para assistir ao folclore natalino, decorou  músicas do Pastoril, Reisado, Guerreiro, Chegança. Ainda hoje é amante, pesquisador, de folguedos.

Em uma manhã ensolarada de 1960, no Rio de Janeiro, aconteceu a esperada, cintilante formatura na Escola Naval, Romeu Saldanha tornou-se Tenente da Marinha, pronto para conhecer o mundo e todas as mulheres do mundo.