Política
Concessão de água que foi vendida por 40 anos sem a anuência e com o silêncio da Câmara de Vereadores expõe Palmeira dos Índios a crise prolongada
População enfrenta até 60 dias sem abastecimento enquanto contrato firmado pelo ex-prefeito Júlio Cezar entregou, sem resistência da Câmara, o controle da água à iniciativa privada até 2061

Palmeira dos Índios atravessa um de seus períodos mais cruéis no que diz respeito ao acesso à água — um bem essencial que, na prática, vem sendo negado à população. Em vários bairros da cidade e comunidades rurais, famílias relatam viver entre 30 e 60 dias sem uma gota d’água nas torneiras. O sofrimento é diário e a revolta cresce, alimentada por promessas oficiais que não resistem à realidade das cisternas secas e da indignação crescente.
Mas o problema vai além da incompetência administrativa. Ele tem nome, data e responsabilidade: em 16 de junho de 2021, o então prefeito Júlio Cezar vendeu, por 40 anos, a concessão do serviço de abastecimento de água do município à empresa privada Águas do Sertão. Um contrato que entregou à iniciativa privada o controle do sistema hídrico até 2061 — e o fez sem a devida anuência da Câmara de Vereadores, que se calou diante da gravidade do ato, sendo conivente com o que muitos já consideram um atentado à dignidade da população palmeirense.
Não se trata apenas de uma concessão mal planejada. Trata-se de um verdadeiro despojo dos direitos coletivos, um golpe silencioso contra a autonomia municipal e a soberania do povo sobre seus próprios recursos. Um ato que compromete quatro décadas de futuro, firmado sem debate público, sem consulta popular real e sem o crivo do Legislativo, que se omitiu num dos momentos mais decisivos da história recente de Palmeiras dos Índios.

A empresa beneficiada, Águas do Sertão, desde então coleciona falhas operacionais, cobranças abusivas e ausência de respostas concretas diante do caos instaurado. A discutida tarifa de esgoto de 80%, os valores excessivos de ligação, a destruição de calçamentos sem reposição e, acima de tudo, a ausência de água para milhares de pessoas, escancaram uma gestão ineficaz, que se distancia da realidade dos palmeirenses.
Enquanto isso, os vereadores encenam indignação em redes sociais e convocam audiências públicas que mais se assemelham a tentativas de amenizar a pressão popular do que a buscar soluções reais. Ontem (22), inclusive, uma audiência com a empresa foi adiada pela segunda vez consecutiva, após reunião a portas fechadas — como se a sede do povo pudesse esperar mais.
O que está em jogo não é apenas a má gestão de um contrato. É o futuro de uma cidade inteira, amarrado por 40 anos a um compromisso firmado de forma questionável e sem transparência. E a pergunta permanece: quem autorizou vender o bem mais precioso de um povo — sua água — sem sequer consultar quem o representa?
A história, infelizmente, é clara: o ex-prefeito vendeu, a Câmara se calou, e o povo pagará a conta — com sede, indignação e um contrato que o condena até 2061.
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