O que importa o sexo na velhice, quando existe de sobra a Paixão, o Carinho, a Compreensão e o Amor.  E o Amor não é nada mais nem nada menos do que a tolerância e o respeito ao outro. Nada é mais agradável do que fazer nascer a cada dia no coração o amor, sem preconceito, discriminação ou desconfiança. Mesmo que nos falte um pouco mais de sabedoria para lidar com as diferenças e as ingratidões, o culto permanente do amor na mente humana supera as infidelidades na relação passional entre pessoas, porque o amor é sagrado, é divino, é esplendoroso, é inexplicável. O amor é que nos dá brilho nos olhos, beleza na face envelhecida, paz interior no coração e gratidão na criação de todas as coisas.

Numa família saudável o amor representa a essência da vida. Sim, porque o amor é fonte de prazer, de alegria, de coragem e de esperança.  O amor dá tranquilidade ao espírito e fortalece o corpo, mesmo que haja alguma deficiência física. Mas, realmente, não é fácil amar. Esse sentimento exige renúncia, perdão e tolerância. O verdadeiro amor é tão somente doação, dele não se cobra retribuição. No amor não há espaço para a intriga, o rancor, a inveja nem a usura. No verdadeiro amor não há dominação nem poder.  Não há cobrança e nem se exige reparação.

Aliás, é possível que no transcorrer dos nossos últimos dias de vida neste mundo, impactados pelo sofrimento e pela angústia, a gente perca o ardor de se doar mais aos outros, mas esse negativismo tem que ser vencido, superado e aniquilado. E para tanto, faz-se necessário relembrar as lições dos mestres que povoaram a terra antes de nós. O genial São João da Cruz (1542-1591), falecido aos 49 anos, proclamado Doutor da Igreja Católica, contemporâneo de Santa Tereza D’Ávila, definiu muito bem que o culto pelo amor não nos serve apenas para gerar saudade aos que aqui permanecerem. Ele costumava doutrinar os seus discípulos com este lema: “No entardecer da vida seremos julgados sobre o amor”.

Penso estar aqui à razão da felicidade humana e da paz interior, porque o verdadeiro amor não vislumbra o egoísmo, a centralização em si mesmo, mas se vivencia na plenitude da graça de ser útil e necessário aos outros, como ser humano e divino que somos.

A mesquinharia, a agressividade, a rebeldia e a teimosia não devem fazer parte da vida do idoso. Mesmo alquebrado pelas perdas naturais que a vida lhe proporcionou, o velho deve se mostrar capaz de suportar o desgaste físico do corpo e nunca deixar de aplacar o seu entusiasmo pela obra divina da criação, onde Deus é o principal protagonista. As desilusões e as decepções, mesmo sendo elas existentes, não devem ser transparentes na sua vida diária, porque não há nada mais desagradável e triste do que ver ou ouvir lamentos e blasfêmias de um idoso revoltado com a velhice, que não sabe sorrir, cantarolar nem acariciar. Pois, no amor é preciso sorri… “quando a tristeza lhe sufocar, quando a saudade lhe atormentar… Sorrir para disfarçar a tua dor, para que aos outros pareça que és feliz”.

Neste arremedo final de crônica, é oportuno lembrar a experiência de São Pio de Pietrelcina sobre o Amor: “Se precisamos ter paciência para suportar os defeitos dos outros, quanto mais ainda precisamos para tolerar nossos próprios defeitos!” E não é demais repetir aqui e agora o comentário de Santa Terezinha do Menino Jesus a cerca do Poder de Deus: “… Houve um sábio que disse: «Dai-me uma alavanca, um ponto de apoio, e levantarei o mundo». O que Arquimedes não pôde obter, porque o seu pedido não se dirigia a Deus, e por não ser feito senão sob o ponto de vista material…” Ora, a alavanca que serve de apoio ao homem é a Oração, dizia Santa Terezinha do Menino Jesus: “… e como alavanca é a oração, que abrasa com fogo de amor. E foi assim que os santos levantaram o mundo; é assim que os santos que ainda militam na terra o levantam e que, até ao fim do mundo, os futuros santos o levantarão também”… Pensemos nisso! Por hoje é só.