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A calcinha

27/09/2015
A calcinha

        Gilberto e Sandra são duas extraordinárias criaturas. O que se pode chamar de casal 20 (10 + 10). Pessoas bonitas, politicamente corretas, inteligentes, bem sucedidas na vida, sem preocupações financeiras. Todo ano realizam belas viagens, conhecem o mundo. Casal muito conhecido na cidade,  são queridos e respeitados.

        Como não podia deixar de ser, como toda família bem aquinhoada, eles têm uma casa na praia da Barra de São Miguel. Os filhos crescidos só vão à casa de praia em janeiro e na efervescência do carnaval.

        Depois do carnaval a casa fica vazia por algum tempo. No domingo Gilberto convidou Sandra para ir à Barra fazer alguns pagamentos e verificar os estragos da casa pós carnaval.

          Na bela manhã de fevereiro, Gilberto tirou o carro da garagem, rumaram à praia. O céu azul de brigadeiro e o mar verde fazem a beleza daquela estrada entre coqueirais.

           Ao passar pelo posto policial, na entrada do banho do Broma, um soldado acenou parando o carro. Gilberto mostrou suas carteiras pessoais e pediu à Sandra para apanhar os documentos do carro no porta-luvas. Ao puxar a tampa, Sandra enxergou uma pequena peça de pano branco no fundo. Quando levantou a pequena peça pelos dedos, não conteve o grito:

           – Uma calcinha!!!!!!!

           Era uma tanguinha linda de renda branca, bem cavada. Sandra foi direta, em bom tom encarando o marido:

            – Gilberto me explique isso direitinho, uma calcinha no porta-luvas de seu carro!!!! Essa eu nunca esperava!!!!

            O marido se fez assustado, respondeu que também estava surpreso. Feito o Lula, não sabia de nada!!!

             O guarda constrangido liberou o carro. Gilberto não conseguiu se restabelecer da surpresa, do impacto da calcinha. Depois de algum tempo, passou a primeira, o carro partiu em direção à Barra.

             No terraço daquela bela casa, olhando para a infinitude e a beleza do mar, Gilberto se dizia inocente, não tinha idéia de quem era a bela calcinha. Sandra estava contrariada, chateada por não estar acreditando em seu marido que nunca teve deslize em mais de 28 anos de casados.

               Depois do meio-dia Gilberto foi buscar um almoço num restaurante, voltou uma hora depois. Estava mais calmo, mais confiante. Serviu a lagosta grelhada para mulher, tudo havia de esclarecer.

                Na boca da noite voltaram à Maceió, chegando ao belo edifício na praia da Jatiúca, estavam os três filhos. Sandra pediu que todos viessem para o jantar às oito da noite.

                 Gilberto telefonou pedindo uma gostosa comida italiana no divino restaurante Massarella. Quando serviram os pratos, Sandra com sua maneira espontânea e calma, falou aos filhos:

           – Estamos com um problema. Encontrei uma calcinha no porta-luvas do carro de Gilberto.

       Tirou da bolsa e mostrou a bonita peça artesanal. Rita a filha mais nova, pediu para olhar. Ao examinar, deu um sorriso e falou como tivesse espantada.

           – Êpa! Já sei, a calcinha é da Verônica, minha amiga, filha da Tia Rose, tenho certeza, fui ontem com ela ao Shopping no carro do papai, ela comprou uma calcinha e experimentou no carro, deve ter deixado no porta-luvas.

      Foi um alívio para o casal. Rita no seu papel de bombeira, apressou-se em telefonar para amiga. Nem foi preciso, Verônica surpreendementemente chegou naquele momento.  Confirmou ser a dona da calcinha.

       Foi o bastante, era só isso que Sandra precisava, nada questionou, abraçou-se com Gilberto, tudo ficou como antes no quartel de Abrantes.

       Já dizia o filósofo pernambucano Chacrinha: “Quem não se comunica, se trumbica”, principalmente com as facilidades da alta tecnologia atual de computadores, internet e principalmente celulares.

      Ontem em seu aniversário, Ritinha ganhou do generoso pai, um carro, verde, zero km, com ar condicionado. Os invejosos estão espalhando que o presente tem a ver com a história da calcinha. Isso é maledicência pura de desocupados, picuinha de quem não tem o que fazer. Ninguém pode ser bom e gentil com uma filha tão camarada.