Política

Desejo de mudança dá o tom do protesto em Brasília

16/03/2015
Desejo de mudança dá o tom do protesto em Brasília

  Congresso  As manifestações contra a corrupção, o governo e pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, neste domingo (15), em Brasília. No mar de gente em verde e amarelo que encheu a Esplanada dos Ministérios, pessoas de todas as idades, diversas classes sociais e ideologias diferentes – e até de outras nacionalidades, como mostramos ao registrar o depoimento do egípcio Ahmeb Quarm, 27 anos (veja abaixo). Mas todos com algo em comum: o desejo de mudança.
Uniram-se cerca de 50 mil pessoas sob o céu nublado de Brasília, segundo o comando central da Polícia Militar. Como é comum em manifestações, cartazes, faixas, fantasias, rostos pintados e muita palavra de ordem compuseram o cenário cívico no centro das decisões nacionais. Na condução do ato, grupos como o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e o Vem pra Rua, que convocaram o povo pelas redes sociais, davam voz à multidão aos gritos de “fora, Dilma” e “fora, PT” – sobrou também para os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para o ex-presidente Lula e para o senador Fernando Collor (PTB-AL), entre outros.
Para tentar dar uma ideia do mosaico, a matéria reúne abaixo o depoimento de dois aposentados, três advogados, um arquiteto, uma nutricionista, um assessor parlamentar, um diretor de fotografia e três estudantes. Reforma política, impeachment, carga tributária, mudança no Congresso, reajuste de preços e outros temas dão o tom dos desabafos. Confira.

Gleison Lima, estudante de Engenharia Civil

“Não estamos aqui defendendo partidos, nem de direita nem de esquerda. Estamos aqui por melhorias para o país, para dar uma basta na corrupção e na impunidade.  Não sei se o impeachment é possível, mas estamos aqui na luta. É o que todos queremos, porque seria melhor para o Brasil. Se acontecer, vai ser bom. Mas se não acontecer, continuaremos na luta. Não sei se o impeachment seria um golpe, mas há muito o que se investigar ainda.”

Ranier Costa Cardoso, 24 anos, estudante de Economia

“Protestar na Esplanada é um caminho. Talvez não o mais inteligente, talvez não o mais efetivo, mas é um início. É importante encontrarmos uma base sólida para a manifestação, entender exatamente a questão pela qual se luta, e não se perder em achismos. Sou contra o impeachment, porque não é uma via legal, clara, por enquanto, e a favor de agir contra a corrupção.”

Luiza Rocha, 17, estudante ensino médio

“A favor do impeachment porque o Brasil pode aproveitar muito mais as suas riquezas, as pessoas que pagam impostos tão altos não são obrigadas a aguentar tanta roubalheira e ver seu dinheiro ser tão mal investido.”

Antônio Sanchez, 68, arquiteto

“O brasileiro não aguenta pagar tanto imposto e ver a empresa símbolo deste país (Petrobras), criada com tanto sacrifício, arrebentada. Imagina quanto levaram os políticos. Imagina quanto levou o Lula. A Dilma era presidente do conselho gestor da Petrobras na compra de Passadena. O jurista Ives Gandra Martins disse que há elementos de sobra para o impeachment. Uma parte do Congresso é podre e outra é consciente. Mas é com esse Congresso que vamos fazer a reforma política. Temos que trabalhar com o que temos. Se nós tivermos o povo nas ruas com elementos jurídicos, o Congresso é extremamente sensível ao povo.”

Patrícia, nutricionista

“Sou a favor do impeachment. As verbas desviadas bancaram a eleição da Dilma. É preciso investigar. Estamos aqui hoje revoltados com isso. Eu e minha família iremos em quantos protestos forem necessários. Não sei se será possível a realização do impeachment. Mas estou aqui hoje lutando por isso.”

Wislene, 54, aposentada

“Viemos a favor do impeachment. Temos que acabar com essa corrupção toda. Que dona de casa (Dilma) é essa que não sabe o que acontece na sua própria casa? Temos que mudar todo o Congresso. Queremos um Brasil diferente para nossos netos. Hoje o aposentado não consegue viver com seu salário, não consegue comprar seus medicamentos.”

João Marques, 68, aposentado

“Está muito claro que ninguém quer um golpe militar. Nós estamos desnorteados por não enxergar uma liderança positiva que substitua toda essa corja do Congresso. Hoje ser desonesto é uma qualidade. Essa manifestação vem provar o contrário do povo brasileiro. Vejo a cada ano a deterioração do Congresso, cheio de profissionais que só olham para o próprio umbigo, esquecendo o bem geral. Um golpe militar não seria a solução. Me formei em filosofia e,  infelizmente, na época  não havia campo de trabalho. Todos os cursos de filosofia foram cassados pelo regime. Gostaria de ter atuado nesta área, mas no fim optei pela matemática. Sei que os militares não são a melhor opção.

Marcos Gonçalves, 48, assessor parlamentar

“Não sou favorável ao impeachment, mas sim a reforma política. A mudança só vai acontecer se a população fizer o que fez hoje frequentemente.  A pressão da população faz a diferença, sei disso porque estou no meio político.”

Edmo Oliveira, 23, advogado

“O impeachment não resolveria nada. É necessária uma mudança de paradigma social. Se a gente não cobrar, nada vai mudar. Estou aqui para demonstrar minha insatisfação com toda essa roubalheira. Votei no Aécio e acredito que a alternância de poder é um mecanismo político benéfico para a sociedade. O PT completará 16 anos no poder e muita coisa só afundou neste período. A massa se molda em torno deste partido por conta de cargos comissionados e outros favorecimentos. Votei e votaria no Aécio novamente não só pela postura política do senador, mas pela alternância do poder. Sou a favor da reforma política e não confio neste Congresso atual para defender esse propósito. Confio na população, por isso estou aqui.”

Gabriel Rosa, 34, diretor de fotografia

“Sou completamente a favor do impeachment.  Acho que a Dilma agiu de forma errada e agora precisa pagar. Se eu mato ou roubo alguém, se eu cometo algum crime por negligência vou pagar por isso como um cidadão comum. A presidente deve pagar no mínimo pelo crime de negligência pela sua atuação na Petrobras. Eu acredito na participação e pressão popular para uma reforma política efetiva, para que os políticos trabalhem para o povo.

Lázaro Peixoto, 24, advogado

“Acho que por enquanto não vamos conseguir o impeachment. O mais importante é a investigação do caso Lava Jato e a punição dos culpados. Precisamos de um novo estadista, mas não há uma liderança para realizar a reforma política. Eu apostava no Eduardo Campos.”

Ahmeb Quarm, egípcio, 27, advogado

“Estou no Brasil há sete anos e sou a favor do impeachment da Dilma, porque a educação e a saúde neste país não são de qualidade.  O custo da energia aumentou, o valor do dólar está alto. Tudo aumentou. Só queremos viver dignamente. Não estamos pedindo carros importados ou qualquer tipo de luxo, só queremos custear nossas despesas básicas. Tudo aumenta menos nosso salário. Nós no Egito fizemos uma revolução quatro anos atrás e tiramos um presidente do poder. Há 200 milhões de brasileiros. Eles devem agir. Dilma deve sair.”