Geral

O choro silencioso da irmã Arcângela

02/08/2012

  No dia 25 de julho, data de São Cristóvão e de São Tiago, mártires do cristianismo, volto à Igreja Cristã com a esposa Rosângela, na esperança de relembrar a vida e o martírio desses dois santos do calendário litúrgico cristão. No final da Santa Missa, revejo a freira Arcângela Monteiro, da Congregação do Amor Divino, irmã consangüínea da professora Helena Monteiro da Rocha, falecida no último dia 19. Percebo em seu semblante e em suas palavras uma saudade profunda no sentimento da amiga que, além de religiosa e fervorosa, é também uma pessoa abnegada e fiel à sua religião e a sua congregação. 

Acolho sua dor pela perda repentina da sua irmã de sangue. De imediato, relembro o fato ocorrido há mais de dois mil anos, quando Jesus de Nazaré, ao ter conhecimento da morte do seu amigo Lázaro, chora pela surpresa da notícia, embora o Mestre dos Mestres tivesse a certeza absoluta e a crença inabalável da ressurreição dos mortos, após a subida das almas à Jerusalém Celeste. 
Compreendo tudo isso como uma verdade cristalina de que Deus é amoroso, compassivo e sensível diante do sofrimento alheio. Ora, mesmo acreditando na existência da vida eterna e na comunhão dos justos, os crentes em Deus, como a freira Arcângela Monteiro, imita o comportamento de Jesus Cristo, diante da aflição dos familiares e amigos do falecido. Claro que se a irmã Arcângela, freira da Congregação do Amor Divino, tivesse o poder de ressuscitar os mortos, por obra e graça do Espírito Santo, também faria levantar do túmulo frio do Campo Santo sua querida companheira Helena Monteiro, para a felicidade dos filhos, sobrinhos, netos e amigos da sua adorável irmã. Mas esse privilégio é vedado à condição humana porque o Divino Pai Eterno estabeleceu limites nas nossas pretensões. E, como revelou o escritor francês Gustave Flaubert “talvez a morte tenha mais segredos para nos revelar que a vida”.
No entanto, a morte não é o fim, é apenas o começo de uma nova vida. Quem vive o amor não teme a morte, embora sinta a perda daqueles que o amam. Para o escritor irlandês Oscar Wilde “o segredo do amor é maior do que o segredo da morte”. Aliás, o amor se presta a inúmeras virtudes que vão desde a afeição, a ternura e a bondade, estendendo-se à compaixão e a misericórdia. Na teoria triangular do amor, os nossos relacionamentos estão perfilados em três dimensões: intimidade, paixão e compromisso.
Por essa razão lógica a professora Helena Monteiro foi amada, porque era adaptável, espontânea, sempre jovem e atual na aparência. Sua versatilidade e seu intelecto eram invejáveis. Diligente e cordial em suas atitudes. Tive o prazer em tê-la como leitora das minhas crônicas neste semanário. Por várias vezes atravessei a rua para cumprimentá-la na porta da sua residência. Sorridente e amabilíssima, ela sempre elogiava algumas das minhas crônicas, incentivando-me a continuar escrevendo. 
Por sinal, seu nome de Helena traz na raiz da língua grega o significado da palavra. Helena é “tocha”, é “luz”. Isso justifica sua jovialidade e sua luminosidade. Uma mulher inteligente, animada e divertida na conversa, embora aos olhos dos indiferentes, tivesse uma imagem de pessoa solitária, distante e severa. Nada disso! Pelo contrário, uma pessoa engenhosa, de espírito analítico, amiga, fraterna e solidária. 
Comungo da saudade sentida pela irmã Arcângela, que, semelhante à Professora Helena Monteiro, está sempre disposta a viver, cheia de energia, com sua personalidade ativa e decidida. Duas criaturas admiráveis que nos fez conquistar pelo seu entusiasmo e por sua espontaneidade. Duas notáveis mulheres, em campos diferentes de atuação na vida, mas iguais no sentimento do amor, na pureza da alma e na fé inabalável do coração ensangüentado do Cristo.  E, como a morte é só uma mudança do estado físico, já que o espírito se eterniza, então, morrer não é o fim de tudo… Pensemos nisso! Por hoje é só.