Vida Esportiva
Filipe Luís, do Flamengo, vence ranking de técnicos e redefine o tempo de espera para ser o melhor treinador do Brasil
Com apenas um ano de carreira, treinador do Flamengo se torna o vencedor mais jovem da história do prêmio; ranking confirma mudança de padrão e consolida estrangeiros, regularidade e impacto imediato como chaves da excelência
O grande vencedor do Ranking de Técnicos O GLOBO/Extra 2025 é Filipe Luís. Campeão da Supercopa do Brasil, do Carioca, da Libertadores e do Campeonato Brasileiro pelo Flamengo, ele liderou a temporada com ampla vantagem sobre os concorrentes — e o fez em um cenário inédito: com apenas um ano de carreira como treinador profissional, bem menos tempo do que o próprio prêmio tem de existência.
Criado em 2018, o Ranking de Técnicos do GLOBO chega à sua oitava edição em 2025. Desde então, três treinadores conseguiram vencer a premiação com menos tempo de carreira do que os anos de vida do ranking. Antes de Filipe Luís, isso havia acontecido com o português Artur Jorge, campeão em 2024 com dois anos de carreira pela temporada no Botafogo, e com Abel Ferreira, vencedor de 2020 com apenas três anos como técnico profissional, desde aquela temporada no Palmeiras. O feito de Filipe, porém, leva essa lógica ao limite máximo: ninguém venceu tão rápido.
Durante boa parte da história recente do futebol brasileiro, o padrão era outro. O prêmio costumava coroar treinadores brasileiros consolidados, com décadas de carreira, ou estrangeiros já prontos, que chegavam ao país depois de trajetórias longas e títulos acumulados fora. Renato Portaluppi, Cuca e Dorival Júnior, por exemplo, só foram eleitos os melhores do ano com mais de 20 anos à beira do campo. A grande exceção foi Jorge Jesus, campeão do ranking em 2019 pelo Flamengo após três décadas de carreira — um estrangeiro, mas amplamente lapidado quando desembarcou no Brasil.
É justamente por isso que a vitória de Filipe Luís representa uma ruptura. Ele inaugura uma terceira via: não é um brasileiro amadurecido pelo tempo, nem um estrangeiro consagrado que chega pronto. Filipe construiu sua trajetória em velocidade recorde, e foi eleito o melhor técnico do país antes mesmo de completar dois anos de carreira.
O Ranking de Técnicos do GLOBO é publicado anualmente ao fim da temporada e contabiliza todos os jogos e campeonatos oficiais disputados por treinadores efetivados por clubes das Séries A do Brasileiro. São avaliados apenas os técnicos que tenham trabalhado por pelo menos metade do ano, com pontuação ponderada de acordo com a dificuldade de cada competição, resultados obtidos, títulos conquistados e objetivos alcançados. O método matemático escolhido privilegia quem sustenta desempenho ao longo da temporada, mas não ignora trabalhos de alto impacto em períodos mais curtos.
No caso de 2025, o impacto foi incontestável. Filipe Luís somou 406,1 pontos, muito à frente do segundo colocado. A distância reflete não apenas a quantidade de títulos, mas também o peso das conquistas: Libertadores e Brasileiro, somados aos troféus do primeiro semestre, colocaram o treinador do Flamengo em um patamar isolado na temporada.
Mesmo sem levantar taças em 2025, Abel Ferreira voltou a aparecer no topo do ranking, desta vez na segunda colocação. O treinador do Palmeiras sustentou pontuação elevada graças à regularidade extrema de seu trabalho. Desde que chegou ao Brasil, em 2020, Abel nunca terminou uma temporada fora do pódio — sempre campeão ou vice — e segue como o único técnico bicampeão do Ranking do GLOBO. Em um ano sem títulos, o desempenho consistente nas principais competições manteve o português entre os melhores, reforçando como a metodologia valoriza constância ao longo de toda a temporada.
Outro nome que chama atenção no top-10 é o de Rafael Guanaes, do Mirassol, nono colocado. Apontado por muitos como o melhor treinador do Brasileirão de 2025, Guanaes acaba perdendo posições quando o recorte se amplia para o ano inteiro. O peso menor do Campeonato Goiano, disputado pelo Atlético-GO, e a ausência do Mirassol em competições como a Copa do Brasil e torneios sul-americanos — que distribuem mais pontos — ajudam a explicar sua colocação. Em 2026, com calendário mais robusto, o técnico tende a se beneficiar de um contexto mais favorável dentro da lógica do ranking. Campeão do Baiano e da Copa do Nordeste e com vaga garantida na Libertadores, Rogério Ceni, do Bahia, se aproveitou da ausência de outros grandes destaques para fechar o pódio.
Já a quarta colocação de Renato Portaluppi passa diretamente pelo desempenho no Mundial de Clubes, a competição que mais distribuiu pontos na temporada. O bom aproveitamento do Fluminense no torneio teve peso decisivo para impulsionar a pontuação do treinador, que mais uma vez aparece entre os principais nomes do país. A presença de Renato no alto da tabela reforça como o ranking responde a grandes performances em palcos de maior exigência competitiva.
Ao longo de suas oito edições, o Ranking de Técnicos do GLOBO acabou se transformando também em um retrato do mercado. Se nos primeiros anos refletia um futebol mais conservador, hoje aponta para uma mudança clara: o tempo de carreira deixou de ser pré-requisito para a excelência. Em 2025, essa tendência atinge seu ponto máximo com Filipe Luís.
O ranking não responde se esse modelo é sustentável. Mas deixa claro que, no futebol brasileiro atual, o impacto imediato passou a pesar tanto quanto a trajetória.
Como os pontos são calculados
Entram no levantamento todos os treinadores efetivados no cargo em clubes das Séries A do Brasileiro na temporada, que tenham comandado uma ou mais equipes por pelo menos seis meses. Para a pontuação, são considerados todos os torneios oficiais da CBF, da Conmebol e da Fifa, além dos estaduais e regionais.
Vitórias, empates, títulos e objetivos alcançados recebem pesos diferentes, de acordo com a dificuldade de cada competição. A pontuação final resulta da soma total dos pontos obtidos (X) com a média mensal de pontos (Y), segundo a fórmula: X + 6Y. Em casos de demissão, o treinador perde 10% da pontuação total; se pedir desligamento, perde 5%. A partir do segundo desconto na mesma temporada, a punição passa a ser de 5%.
Pontos bônus por conquistas
• Mundial de Clubes (campeão 40, vice 20, semifinalista 10, quartas de final 5)
• Copa Intercontinental - (campeão 30, vice 10)
• Libertadores (campeão) - 25
• Libertadores (vice) - 12
• Libertadores (semifinalista) 6
• Recopa Sul-americana - 12
• Copa do Brasil (campeão) - 18
• Copa do Brasil (vice) - 9
• Copa do Brasil (semifinalista) - 4
• Sul-Americana (campeão) - 16
• Sul-Americana (vice) - 8
• Supercopa do Brasil - 5
• Série A (campeão) - 22
• Série A (vice) - 11
• Série A (G4) - 6
• Série A (vaga na Libertadores) - 3
• Série B (campeão) - 10
• Série B (vice) - 7
• Série B (acesso) - 3
• Estaduais A (SP e RJ) - 8
• Estaduais B (MG, RS e PR) - 6
• Estaduais C (CE, GO, SC, BA, PE, AL, MT) - 5
• Estaduais (outros) - 4
• Copa do Nordeste - 10
• Copa Verde - 6
Pontuação por campeonato
Torneio - Vitória/Empate
• Copa Intercontinental - 9/3
• Derby das Américas e Challenger Cup - 6/2
• Mundial de Clubes - fase de grupos- 7,5/2,5
• Mundial de Clubes - mata-mata - 9/3
• Libertadores (fases prévias) - 3/1
• Libertadores (fase de grupos) - 4,5/1,5
• Libertadores (oitavas e quartas) - 6/2
• Libertadores (semifinal) - 7,5/ 2,5
• Libertadores (final) - 9/3
• Recopa Sul-americana - 6/2
• Copa do Brasil (fases 1 a 3) - 3/1
• Copa do Brasil (oitavas a final) - 6/2
• Sul-Americana (fase de grupos e repescagem) - 3/1
• Sul-Americana (oitavas a semifinal) - 4,5/1,5
• Sul-Americana (final) - 6/2
• Supercopa do Brasil - 4,5/1,5
• Série A - 3/1
• Série B - 2,1/0,7
• Estaduais A (SP e RJ) - 2,1/0,7
• Estaduais B (MG, RS e PR) - 1,8/0,6
• Estaduais C (CE, GO, SC, BA, PE, AL, MT) - 1,5/ 0,5
• Estaduais (outros) - 1,2/0,4
• Copa do Nordeste - 2,1/0,7
• Copa Verde - 1,5/0,5
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