Vida e Saúde
De 'nativos digitais' para 'enfrentar o tédio': como a geração Z luta contra as redes sociais
Cansados do mundo digital, as novas gerações parecem querer fugir daquilo que as define
Uma pesquisa rápida nas redes sociais, e qualquer um pode comprovar: os jovens, cada vez mais, querem se distanciar do mundo digital — embora postar sobre isso seja meio paradoxo. No YouTube, por exemplo, diversos são os vídeos “ensinando” a ficar entediado. Um deles, da Harvard Business Review, revista associada à faculdade de business de Harvard, intitulado de “Você precisa ficar entediado. E aqui está o porquê” tem mais de 10 milhões de visualizações.
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A geração que tanto ficou conhecida como “nativa digital” nunca quis tanto se distanciar dessa alcunha: alguns abandonam o telefone celular por completo, enquanto outros voltam a usar os “dumbphones”, aqueles com teclado físico e sem acesso à WhatsApp — aqueles que todos fugiram assim que começaram os smartphones.
Outra trend entre essa geração — que está entrando na vida adulta agora — é o "rawdogging boredom", ou seja, enfrentar o tédio "sem proteção" — vulgo, sem utilizar celulares. O movimento começou com pessoas tentando ficar vôos inteiros sem utilizar o telefone. Hoje em dia, os jovens postam vídeos tentando passar pelo menos 15 minutos sem se utilizar de distrações.
Os GenZers também criaram termos para melhor definir suas experiências: “doomscrolling”, por exemplo, é o ato de rolar a tela sem parar, o dia todo, assistindo vídeos curtos ou lendo notícias negativas. Outro termo é o “brain rot”, ou “apodrecimento cerebral”, outro termo para o consumo digital excessivo
Para Rafaela Varella, diretora criativa da agência HAPU, isso é um sinal de que a geração Z “quer viver e compartilhar momentos reais. Interações presenciais criam laços emocionais mais fortes do que qualquer anúncio no feed”. Eles buscam experiências mais físicas como uma pausa e um momento de reconexão com o presente.
Entre os que abandonaram o telefone por completo — pelo menos por um período de tempo—, está o youtuber Eddy Burback, de 29 anos. Em março deste ano ele publicou um vídeo intitulado “Eu odeio meu telefone, então me livrei dele”.
Com seu IPhone trancado num cofre por um mês, Burback fez um experimento: “viveu” sem um smartphone — e limitou seu uso do computador a uma vez por dia. Com um telefone fixo “e um sonho”, o vídeo atingiu quase seis milhões de visualizações. E nos comentários, muitos concordavam com Burback; “Tédio é um portal para a criatividade”, disse um internauta; outro: “Nossas mães estavam certas, é o maldito telefone”.
Mas nem todos são radicais desse jeito. Na verdade, uma das trends mais em alta hoje em dia, o Photo Dump no instagram, pode ser visto como uma tentativa de ser “menos online”: as fotos são postadas todas de uma vez, em um só carrossel que, por muitas vezes, pode representar uma semana ou, mais comum, o mês inteiro.
Algumas empresas, no entanto, têm tomado nota disso tudo: desde a volta aos “dumbphones” até a tentativa de apenas usar menos o celular.
O aplicativo ScreenZen, por exemplo, promete fazer você “parar de rolar a tela infinitamente” — o “doomscrolling” — e “recuperar a hora de dormir”.
Nele, você escolhe aplicativos como Tiktok, Instagram e Youtube, escolhendo um máximo de vezes para abrir por dia e o máximo de tempo que pode passar em cada sessão. É possível, também, agendar uma janela de tempo em que o app escolhido ficará bloqueado.
O ScreenZen é só um exemplo. Outros incluem o Mindful, Digipaws e Reef Wellbeing, todos com o mesmo objetivo: fazer você usar menos o telefone.
Alguns enveredam por outro caminho: a Light, uma empresa de tecnologia americana, criou o LightPhone. Lançado pela primeira vez em 2017, ele só conseguia fazer ligações, um “telefone complementar”.
Fundada como “uma alternativa aos monopólios de tech que lutam cada vez mais agressivamente por nosso tempo e atenção”. A Light “cria ferramentas que te respeitam. Objetos que te empoderam para ser o seu melhor. Tecnologia intencionalmente projetada para ser usada o mínimo possível”.
Foi em 2019 que a empresa de Joe Hollier, um artista, e Kaiwaei Tang, um desginer de produtos lançou o LightPhone II: um telefone 100% funcional e independente. Com sistema operacional próprio, câmera e tela e-ink, ele foi e é um sucesso, ainda sendo produzido e vendido, mesmo com o lançamento do LightPhone III este ano.
Em junho deste ano, a Pluxee divulgou uma pesquisa em que 67% dos entrevistados disseram ter reduzido o tempo de uso ou desativado contas em redes sociais, sendo que a maioria foi motivado pela percepção de perda de tempo (68,6%), outros, 20% dos respondentes, por uma sensação de ansiedade e estresse provada pelo conteúdo online.
A pesquisa afirma: os dados indicam que a desconexão não quer dizer um isolamento; “mas sim uma busca por reconexões reais”. Muitos dos entrevistados — um total de 2900 — disseram investir mais em atividades offlines como exercícios, viagens curtas e encontros com amigos.
Fabiana Galetol, Diretora Executiva de Pessoas e Responsabilidade Social Corporativa da Pluxee, disse que: “As pessoas estão cada vez mais conscientes do impacto da hiperconexão em sua qualidade de vida. Não se trata apenas de reduzir o tempo nas redes, mas de um movimento mais amplo de reconexão com o que realmente importa — saúde mental, bem-estar e relações reais”.
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