RJ em Foco

Entenda o fenômeno da ressurgência que trouxe grandes cardumes às praias do Rio

Marcelo Vianna, professor titular do Departamento de Biologia Marinha da UFRJ, explica que é provável que os peixes sejam manjubas ou sardinhas, espécies de rápido crescimento e reprodução.

Agência O Globo - 26/12/2025
Entenda o fenômeno da ressurgência que trouxe grandes cardumes às praias do Rio
Imagem ilustrativa gerada por inteligência artificial - Foto: Nano Banana (Google Imagen)

O mar, sempre envolto em mistérios, surpreendeu banhistas do Rio de Janeiro poucos dias após o início do verão. Um imenso cardume passou a ocupar as águas da capital, nadando próximo à areia e formando manchas que se estendiam por mais de um quilômetro em pontos como Arpoador, Ipanema, Leme e Copacabana. O espetáculo natural encantou quem estava na praia.

“Ontem, tive a oportunidade de ver os peixinhos. Cheguei a comentar com minha prima: ‘Nossa, estão bem pertinho’. Eu estava de pé, no raso, e a água estava clara, dava para ver muito bem. Isso foi no Arpoador”, relatou Maria Sorgilene, paulista residente em Curitiba, que nesta sexta-feira (26) visitava a Pedra do Leme como turista.

Segundo Marcelo Vianna, professor titular do Departamento de Biologia Marinha da UFRJ, trata-se provavelmente de manjubas ou sardinhas. Por serem pequenas e nadarem em águas rasas, essas espécies formam grandes sombras visíveis da superfície.

“O que se observa é, na verdade, o reflexo do último período reprodutivo das sardinhas. Nessa época do ano, o fenômeno é comum, mas a água mais clara o torna visível. Ele ocorre porque, durante o verão, a água do Rio fica mais fria — uma característica local. Essa água fria, rica em nutrientes, sobe do fundo e enriquece a coluna d’água, aumentando o fitoplâncton, microalgas que servem de alimento. Esses nutrientes atraem cardumes de pequenos peixes, como manjubas e sardinhas”, explica o biólogo.

Vianna acrescenta que, anualmente, quando as águas de praias como Arpoador, Ipanema, Leme e Copacabana ficam mais frias, é possível que já sejam efeitos da ressurgência, fenômeno que favorece o surgimento desses cardumes. Do alto, grupos de peixes formam sombras superiores a um quilômetro, o que impressiona o professor:

“Todo ano, há um enriquecimento das águas costeiras do Rio de Janeiro, o que aproxima cardumes de pequenos peixes. A diferença é que, neste ano, o cardume está especialmente grande e muito próximo da costa.”

Água fria no verão passado

O fenômeno da ressurgência já foi observado no verão anterior, quando a água gelada dominou o litoral carioca. De acordo com a geógrafa Flávia Lins de Barros, coordenadora do Laboratório de Geografia Marinha da UFRJ, o fenômeno começa na região de Cabo Frio.

“A ressurgência ocorre por uma combinação de fatores, como a direção dos ventos e o formato da costa. O vento empurra a água superficial, fazendo com que a água fria do fundo, que não recebe sol, suba”, explica a professora.

O desenho recortado da costa, de Cabo Frio a Arraial do Cabo, favorece a ação dos ventos de sudeste, que empurram a água gelada para o litoral carioca por meio das correntes marítimas.

“Esses ventos são mais fortes no verão”, ressalta Flávia, que ainda sugere estratégias para quem deseja evitar as águas frias. “Talvez à noite a água da praia esteja menos gelada. Ao longo do dia, mesmo com a ressurgência, o calor intenso pode aquecê-la um pouco.”