Poder e Governo

Aliados de Bolsonaro recorrem à fuga para evitar decisões judiciais

Prisão de ex-diretor da PRF no Paraguai se soma a outros casos recentes envolvendo bolsonaristas

Agência O Globo - 26/12/2025
Aliados de Bolsonaro recorrem à fuga para evitar decisões judiciais
O ex-presidente Jair Bolsonaro - Foto: Reprodução / Agência Brasil

A prisão do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, nesta sexta-feira (28), ao tentar deixar o país pelo Aeroporto de Assunção, no Paraguai, evidencia uma sequência de tentativas de fuga por parte de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, diante do avanço das investigações e das condenações judiciais.

Silvinei Vasques foi detido após romper a tornozeleira eletrônica e tentar embarcar para El Salvador com um passaporte cujos dados não correspondiam à sua identificação. A tentativa ocorreu apenas dez dias após sua condenação a 24 anos e seis meses de prisão por participação na trama golpista.

O caso soma-se a outros episódios recentes envolvendo figuras do bolsonarismo. O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) deixou o Brasil rumo aos Estados Unidos, mesmo estando proibido judicialmente de viajar ao exterior, após ser condenado por tentativa de golpe de Estado. Diante da saída do país, o ministro Alexandre de Moraes determinou sua prisão preventiva. Atualmente, Ramagem encontra-se em Orlando, na Flórida.

Antes dele, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) deixou o Brasil após ser condenada a dez anos de prisão por falsidade ideológica e invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em junho, ela foi presa na Itália, após ser incluída na lista vermelha da Interpol, e aguarda extradição.

No entorno familiar do ex-presidente, a movimentação também está sob análise das autoridades. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) permanece nos Estados Unidos desde fevereiro e, em diversas ocasiões, não chegou a ser intimado em investigações em curso no Brasil. A permanência no exterior e a dificuldade de notificação formal passaram a constar em registros processuais.

Atualmente, Eduardo é réu no STF por coação, acusado de tentar articular sanções a autoridades brasileiras durante sua estadia no exterior.

Os três parlamentares foram cassados pela Câmara dos Deputados em dezembro deste ano.

8 de janeiro

Além de políticos com mandato, investigados e condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro recorreram a rotas alternativas para deixar o país, sobretudo por vias terrestres e fluviais, com destino a países vizinhos, especialmente a Argentina. Esses deslocamentos resultaram em pedidos de extradição e reforçaram, entre investigadores, a percepção de que a evasão passou a fazer parte do repertório de reação ao avanço das decisões judiciais.

Em decisões recentes, o ministro Alexandre de Moraes tem citado o risco de evasão para justificar prisões preventivas e o endurecimento de medidas cautelares, mencionando casos de saída do país, violação de tornozeleiras eletrônicas e tentativas de frustração do cumprimento de ordens judiciais.

“O modus operandi da organização criminosa condenada pelo Supremo Tribunal Federal, liderada por Jair Messias Bolsonaro, indica a possibilidade de planejamento e execução de fugas para os Estados Unidos, onde se encontra o filho do custodiado, Eduardo Bolsonaro, como feito pelo réu Alexandre Ramagem, inclusive com a ajuda de terceiros", afirmou Moraes em decisão do último dia 19, ao negar o retorno à prisão domiciliar.

Além disso, o próprio ex-presidente tentou soldar sua tornozeleira eletrônica enquanto estava em prisão domiciliar. Moraes aponta tentativa de fuga, enquanto a defesa de Bolsonaro alega que o episódio ocorreu durante um surto.