A cineasta argentina Lucrecia Martel espera que seu documentário "Nuestra Tierra", apresentado fora da competição do 82º Festival de Cinema de Veneza, sobre o assassinato de um líder indígena no norte do país sul-americano "sirva para fazer justiça", disse ela à ANSA.

"Porque se a justiça chega tarde, não é justiça", apontou a diretora sobre o homicídio de Javier Chocobar, chefe da tribo Chuschagasta, pelas mãos do proprietário de terras Darío Amín, em meio a disputas por vales na província de Tucumán em 2009.

Apesar de Amín e outras duas pessoas terem sido condenadas à prisão em 2018, os criminosos atualmente estão livres devido a recursos enviados ao Tribunal Nacional de Justiça, que ainda não se pronunciou sobre a liberdade dos réus, enquanto a comunidade indígena "continua exigindo justiça".

Martel, mais conhecida por filmes como "Zama", "A Mulher sem cabeça", "A menina santa" e "O pântano", se lança pela primeira vez no gênero documentário, desejando que "Nuestra Tierra" "seja mais importante do que todas" as suas obras "anteriores".

"Gostaria [que o documentário] trouxesse justiça, que se falasse da expulsão dessas pessoas de seus territórios", comentou a cineasta, que enviou uma carta ao Tribunal de Justiça pedindo que se manifestasse sobre a libertação dos assassinos de Chocobar.

"Mas o filme é melhor do que uma carta", acrescentou.

A diretora mergulhou nessa história, à qual se dedicou nos últimos 14 anos, após assistir a um vídeo gravado ao vivo durante o confronto que pôs fim à vida do líder indígena.

"A pessoa com a câmera tinha uma arma. Assistir a esse vídeo foi aterrorizante", contou Martel, que a partir daí, começou a buscar as razões pelas quais "a Argentina desapossou comunidades de seu território".