Internacional
Como é negociar com Putin? Leia o que diz o ex-presidente da França

Em 2015, o então presidente da França, François Hollande, se reuniu com o presidente russo Vladimir Putin e com a então chanceler alemã Angela Merkel em Minsk, capital de Belarus, com intenção de negociar a paz no conflito do leste da Ucrânia que antecede o atual. Desse encontro, Hollande se recorda de um comportamento notável do líder russo: mentir profissionalmente.
Em entrevista ao jornal nipo-britânico Financial Times esta semana, o francês relembrou as negociações com Putin e deu um aviso ao presidente dos EUA, Donald Trump, sobre o que pode acontecer nesta sexta-feira, 15. A data marca o primeiro encontro cara a cara dos líderes russo e americano desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022.
Segundo Hollande, Putin costuma contar a história do conflito em uma resposta longa, que pode chegar a horas. "Putin vai começar a reunião recontando toda a história. Pode durar uma hora, ou mais, se você não o interromper. O método russo de negociação é que ela deve durar muito tempo, mas sem que nada demais aconteça", disse ao FT.
O francês acrescentou que muitos fatos costumam ser distorcidos quando contados por Putin. "Trump faria bem em mostrar que tem conhecimento detalhado da situação no local", declarou Hollande. Caso contrário, o russo manipula os acontecimentos a seu favor. "A técnica de Putin é mentir profissionalmente." "Por exemplo, Putin insistiu que não tinha contato com os separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, apesar de financiá-los e apoiá-los militarmente. Era uma mentira tão grande que era impressionante", continuou.
No fim, acrescentou o ex-presidente, o objetivo da Rússia em negociações é ganhar tempo. Essa percepção é reforçada pelos acontecimentos que se seguiram ao encontro de 2015, que culminaram com o Acordo de Minsk na perspectiva de encerrar o conflito no leste da Ucrânia entre separatistas pró-Rússia e Exército ucraniano. Putin deu a ordem para invadir a Ucrânia sete anos depois do acordo e anexou a região.
O jeito de Putin fazer isso é oferecer uma perspectiva no fim das reuniões de negociação, afirmou Hollande. "No final, ele sempre oferecia uma abertura - uma mediação, outra reunião, um grupo de trabalho - para que o outro lado possa dizer: veja, Putin mudou um pouco."
O ex-presidente afirmou que a estratégia de ganhar tempo é uma diferença fundamental entre Putin e Trump. Enquanto este está interessado em terminar com a guerra o quanto antes, para cumprir uma promessa que deu durante toda a campanha eleitoral, o russo é paciente. "Ele (Putin) sabe que ainda estará no poder daqui a um mês, dois anos, talvez até o fim da vida. Trump tem pressa porque prometeu resolver todos os conflitos do mundo e quer resultados", declarou Hollande.
A reportagem do Financial Times com a entrevista do ex-líder francês também menciona a avaliação de outros participantes das reuniões com Putin. Um ex-assessor francês que esteve na equipe de negociação de Hollande afirmou que o russo tem uma "ma-fé muito estruturada e meticulosa".
O ex-assessor exemplificou o que disse: quando os líderes europeus defenderam que a fronteira entre Ucrânia e Rússia deveria ter monitoramento externo, o russo rejeitou a ideia com a alegação de que ela não havia sido violada. Depois, descobriu-se que os russos a cruzavam quando queriam. Sobre a reunião do Alasca, o mesmo assessor, que não foi identificado na reportagem, disse: "Os russos não vão fechar um acordo. Putin só precisa que Trump pare de apoiar a Ucrânia, o que é a inclinação natural de Trump, de qualquer forma."
Relembre as reuniões de Minsk
Em março de 2014, a Rússia invadiu a Crimeia, uma península que havia sido concedida à Ucrânia em 1954, e anexou-a ao seu território. A medida agravou uma crise existente entre russos e ucranianos, aumentando os conflitos armados entre o Exército ucraniano e grupos pró-Rússia no leste ucraniano, sobretudo nas províncias de Donetsk e Luhansk.
Para interromper o conflito, representantes da Rússia, Ucrânia, Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e os líderes das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk assinaram um acordo de 13 pontos em fevereiro de 2015, após algumas negociações. França, Alemanha, Rússia e Ucrânia se reuniram em Minsk na ocasião e emitiram uma declaração de apoio ao que ficou conhecido como Acordos de Minsk II.
O acordo estabeleceu medidas militares e políticas que não foram implementadas até a invasão russa em 2022, justificada por Putin como uma ação para proteger populações etnicamente russas que viviam na Ucrânia. A Rússia sempre insistiu que não seria parte do conflito e, portanto, não estaria vinculado aos termos de Minsk.
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