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163 anos de Julia Lopes de Almeida: o Brasil reencontra uma de suas maiores escritoras, ainda pouco reconhecida na literatura nacional
Com 17 obras reeditadas — um feito inédito no Brasil —, editora independente celebra o legado de uma autora essencial para a literatura brasileira e ainda pouco reconhecida pelo grande público

No dia 24 de setembro de 1862 nascia, no Rio de Janeiro, Julia Lopes de Almeida — escritora, jornalista, dramaturga e uma das figuras mais relevantes da cena intelectual brasileira entre o fim do século XIX e o início do século XX. Ao longo da vida, publicou romances, contos, crônicas, literatura infantil, peças teatrais, livros sobre comportamento, jardinagem e viagens. Foi também uma voz ativa em defesa da emancipação feminina, da educação das mulheres e de questões sociais e urbanas que marcaram sua época.
Apesar da relevância de sua obra e de seu engajamento como mulher de letras e de ação, Julia é hoje uma autora ainda pouco conhecida pelos leitores contemporâneos. Ao contrário de suas contemporâneas europeias — como Jane Austen ou George Sand —, seu nome raramente aparece em listas de leitura obrigatória, clubes de leitura ou vitrines literárias. Mas isso tem começado a mudar.
Nos últimos anos, um trabalho de resgate liderado por editoras independentes tem recolocado Julia Lopes de Almeida no lugar de destaque que lhe é devido. À frente desse movimento, a Janela Amarela Editora reuniu em seu catálogo 17 títulos da autora, incluindo todos os romances que publicou em vida — um feito inédito no Brasil.
Entre os romances publicados pela Janela Amarela estão A Família Medeiros (1892), A Viúva Simões (1897), A Falência (1902), Cruel Amor (1911), A Isca (1922) e Pássaro Tonto (1934), além de novelas e obras voltadas ao público infantil. Com a recente publicação de A Intrusa, A Isca e A Falência, a editora finaliza a republicação de todos os romances da autora. “Até onde sabemos, nenhuma outra editora concentra tantos títulos da Julia em catálogo”, afirmam as editoras Carol Engel e Ana Maria Leite Barbosa, fundadoras da Janela Amarela.
“Ao relermos Julia, encontramos uma literatura que continua viva: escrita envolvente, personagens femininas complexas, crítica social e sensibilidade histórica”, afirmam. “Julia fala do seu tempo, mas também do nosso.”
Além da ficção, Julia teve papel fundamental como cronista e jornalista. Por mais de 30 anos, escreveu para os principais jornais do país, com destaque para o jornal O Paiz, onde manteve uma coluna semanal e defendeu causas como o voto feminino e o acesso à cultura pelas classes populares. Foi uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras, mas não pôde ocupar uma cadeira por ser mulher — embora tenha sido reconhecida posteriormente pela Academia Carioca de Letras como patrona da cadeira 26, única mulher entre 40 patronos.
Neste mês de setembro, ao completar 163 anos de nascimento, o reencontro com sua obra é também uma oportunidade de refletir sobre quantas outras autoras brasileiras foram apagadas da história literária. Julia não está sozinha nesse esquecimento: sua trajetória se soma à de outras escritoras como Maria Firmina dos Reis, Francisca Clotilde, Ignez Sabino, Nísia Floresta, entre tantas que publicaram livros, fundaram jornais, educaram gerações — e desapareceram das estantes.
Ao reeditar seus livros com ortografia atualizada e notas explicativas para termos fora de uso, a Janela Amarela tem buscado tornar a leitura mais acessível a novos públicos. “Julia escreveu para o seu tempo, mas com uma linguagem direta e sensível que ainda nos toca hoje. E queremos que seus livros circulem: nas casas, nas escolas, nos clubes de leitura, nas bibliotecas, onde for possível.”
Ler Julia Lopes de Almeida é também um ato de reparação, um resgate necessário de uma memória literária que insiste em sobreviver — e, cada vez mais, em florescer novamente.
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