Em uma declaração reveladora e marcada por contradições políticas, o ex-prefeito de Palmeira dos Índios e atual secretário de Relações Internacionais do Governo de Alagoas, Júlio Cezar da Silva, anunciou publicamente sua intenção de abandonar o MDB, partido que lhe deu abrigo, prestígio e espaço após sucessivas derrotas e isolamento político.

Durante entrevista concedida esta semana ao jornalista João Mousinho, Júlio afirmou estar pronto para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa de Alagoas nas eleições de 2026 e, surpreendentemente, admitiu que pretende deixar o MDB, legenda presidida em Alagoas por Renan Calheiros e que abriga o governador Paulo Dantas e o ministro Renan Filho – todos responsáveis diretos por sua permanência no cenário político estadual.

“Acredito que não terei chances no MDB. Com a composição que está, eu não tenho chances. Eu tenho que ir para outra composição onde eu possa brigar em pé de igualdade com outros companheiros e companheiras”, declarou Júlio, sem hesitação, sinalizando articulações em outros partidos como PSB, PSD e federações alinhadas ao governo.

Histórico de traições marca trajetória de Júlio

A declaração causou forte repercussão nos bastidores políticos de Alagoas. Para aliados do MDB, a fala representa mais um capítulo do longo histórico de infidelidade partidária que acompanha a trajetória de Júlio Cezar. Já teria traído Ronaldo Lessa, de quem foi aliado; depois Teotonio Vilela Filho, a quem serviu; rompeu com o ex-prefeito de Palmeira dos Índios James Ribeiro, e agora dá sinais claros de rompimento com Renan Calheiros e Paulo Dantas, que o mantêm como secretário.

Ao dizer que vai sair do partido por "não ter chances", Júlio ignora o gesto político que o manteve em posição de visibilidade após deixar a prefeitura, além de desprezar a lealdade esperada dentro de um grupo que lhe garantiu prestígio, espaço de articulação e até apoio institucional.

A fala também escancara uma contradição: Júlio diz que só ingressará em uma nova legenda se for "homologada pelo governador", mas já anunciou publicamente sua intenção de abandonar o partido do próprio governador. A manobra, vista por muitos como oportunista, foi recebida com perplexidade dentro da base governista.

A desincompatibilização e o palanque paralelo

Ainda segundo o ex-prefeito, ele deverá deixar o cargo de secretário de Relações Internacionais no prazo legal para disputar a eleição estadual. "Vou sim apresentar meu nome como uma alternativa", reforçou. Resta saber se a sua saída será acompanhada de um rompimento político formal com o grupo que hoje ocupa o Palácio República dos Palmares – o que muitos já consideram inevitável, para quem o conhece diante do tom de sua fala.

A movimentação de Júlio Cezar será acompanhada de perto pelos adversários, mas também por antigos aliados, que agora se veem traídos mais uma vez por alguém que, para muitos, faz da infidelidade uma estratégia política.

A Tribuna do Sertão seguirá acompanhando os desdobramentos.