Internacional
Não é multilateralismo que impede desenvolvimento, mas o hegemonismo, diz Dilma à Sputnik

A presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), Dilma Rousseff, a convidada de destaque do presidente russo Vladimir Putin no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF), deu uma entrevista exclusiva à Sputnik debatendo a situação atual da economia mundial e a importância do BRICS e do NDB na cooperação internacional.
Nesta quinta-feira (19), a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff, participou da cerimônia de abertura do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo. A participação de Rousseff se deu após encontro bilateral com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, na quarta-feira (18).
Respondendo à questão sobre a arquitetura econômica mundial que temos atualmente, a presidente do NDB disse que o momento em que vivemos é complexo e marcado por crises e tensões geopolíticas criadas por restrições unilaterais.
"Vivemos em um momento muito complexo devido à ocorrência de crises simultâneas. Em primeiro lugar, temos uma guerra comercial de tarifas, que leva à destruição das cadeias de comércio e mesmo de cadeias produtivas, criando riscos de inflação e diminuição da taxa de crescimento econômico dos países. Em segundo lugar, uma série de tensões geopolíticas produzidas por sanções unilaterais e bloqueios tecnológicos, resultando também em ruptura das atividades produtivas, porque impede o livre comércio, principalmente entre produtos tecnológicos. E, em terceiro lugar, vivemos também desastres naturais contínuos, devido ao problema da crise climática. O resultado é uma situação que gera dois efeitos dramáticos: desconfiança e incerteza. Além disso, vivemos o desequilíbrio que consiste em não reconhecer a importância crescente das economias emergentes e dos países em desenvolvimento, na arena econômica e política global", disse Rousseff.
Em relação ao BRICS, segundo ela, a agência da ONU para Comércio e Desenvolvimento prevê que, em 2030, o BRICS responderá por 43% de toda a produção, do PIB global, e já ultrapassaram o G7 economicamente.
Rousseff destaca que o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF, na sigla em inglês) é de grande importância, já que fala da relevância dos valores para se construir a prosperidade e um mundo mais cooperativo.
"Quais são esses valores? O primeiro é o valor do multilateralismo, que é o fato de você reconhecer em todos os países o direito de cada um ter a sua posição, ter o seu projeto de desenvolvimento, ter sua estratégia de desenvolvimento, o que, na verdade, é o reconhecimento da soberania dos países. O segundo valor diz respeito à questão da cooperação. A cooperação é muito mais importante do que todas as políticas que implicam na interrupção de cadeias comerciais [...]. A cooperação leva também à construção de novos caminhos. Entre eles, por exemplo, plataformas como os BRICS e bancos como o NDB, o New Development Bank", disse ela.
"Porque criam-se oportunidades de interação, contribuindo por meio da cooperação para se transferir conhecimento, para se transferir tecnologia. [...] A palavra desenvolvimento, que está dentro, por exemplo, do banco do qual eu sou presidente, diz respeito ao fato de que é importante que países tenham capacidade de se desenvolver. Desenvolver hoje significa 'tecnologia'", observou Rousseff.
Em relação à construção de uma nova ordem financeira, a presidente do NBD disse que isso não significa ir contra algumas moedas fortes, como o euro ou o dólar, significa acrescentar.
"O que significa acrescentar neste caso? Significa valorizar as moedas locais. As nossas moedas locais podem ser objeto do uso que já é crescente, por exemplo, em trocas comerciais", notou ela.
O NBD respeita a soberania dos diferentes países que integram o banco, isso significa que os projetos, as prioridades e os planejamentos que os países fazem são respeitados.
"O que nós queremos é poder contribuir de fato com os países em desenvolvimento e as economias emergentes, que hoje são cada vez mais importantes. É fundamental dar a esses países condições para que a população de cada um tenha melhores condições de vida e supere as profundas desigualdades", frisou Rousseff.
Ela disse por fim que "as forças do unilateralismo bloqueiam o desenvolvimento, mas as forças da cooperação podem romper o bloqueio. Não é o multilateralismo que impede o desenvolvimento harmônico e compartilhado, mas o hegemonismo e a imposição unilateral de modelos".
Mais lidas
-
1AUTORITARISMO FREADO
Ex-prefeito Júlio Cezar é alvo de medida protetiva por ataques a servidor público
-
2
Aos 75 anos Ney Mato Grosso posa sem camisa em ensaio ao lado de jovem rapper
-
3Saúde pública
Limoeiro de Anadia reforça compromisso com a saúde pública durante congresso do Conasems em MG
-
4INTERNET
Enviado especial de Trump pede a Musk que torne a Starlink gratuita no Irã
-
5HISTÓRIA
A saga de Lampião e Maria Bonita, 83 anos após a chacina de Angicos