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Frei Damião: a caminhada do frade que virou esperança do povo

Vladimir Barros 04/06/2025
Frei Damião: a caminhada do frade que virou esperança do povo

Mais do que um nome lembrado em estátuas e monumentos, Frei Damião de Bozzano se eternizou na alma nordestina como símbolo de resistência, humildade e fé. Nascido na Itália em 1898, chegou ao Brasil em 1931 com o objetivo de evangelizar.

Mas o que se desenhou a partir dali foi muito mais que pregação: foi uma história de entrega total aos pobres, aos doentes e àqueles que jamais seriam ouvidos por outros púlpitos.

Pé no barro, Bíblia na mão e coração no povo, Frei Damião percorreu dezenas de cidades em quase todos os estados do Nordeste. Sua missão era clara: levar a palavra de Deus, aconselhar, confessar e, sobretudo, escutar.

Ele falava pouco, mas olhava firme. Onde chegava, era recebido com sinos, fogos e lágrimas.

Chamadas de “Santíssimas Missões”, suas viagens reuniam multidões. Os registros contam que em algumas cidades, como Juazeiro do Norte, Canindé e Palmeira dos Índios, mais de vinte mil pessoas se concentravam nas praças para ouvir o frade.

Em muitos lugares, ele dormia em escolas, igrejas ou casas humildes, recusando-se a receber qualquer benefício pessoal.

Relatos de fé e supostos milagres

Com o passar dos anos, além da admiração, cresceram os relatos de curas e graças alcançadas por meio da intercessão de Frei Damião. Fiéis falam de cegos que voltaram a enxergar, paralíticos que se levantaram, e dores físicas e espirituais que simplesmente desapareceram após um encontro com ele.

Em Palmeira dos Índios, uma das histórias mais contadas é a de uma criança que sofria convulsões graves e foi levada à missa celebrada pelo frei. Após a bênção, a criança nunca mais teve crises.

Casos semelhantes se multiplicam em Arapiraca, Garanhuns, Patos, Caruaru e outras tantas cidades nordestinas.

A Igreja Católica nunca confirmou nenhum milagre oficialmente. Mas para o povo, não há dúvida: Frei Damião já é santo. Não precisa de bula papal. Sua canonização está no coração dos devotos, no joelho ralado de quem sobe escadarias para pagar promessa, no terço apertado entre as mãos das mães sertanejas.

Vinte e oito anos depois de sua morte, ele continua presente. E não é só nas imagens de concreto. Frei Damião vive na fé de um povo que aprendeu com ele a nunca desistir — nem da vida, nem da esperança.