Cidades
Ministério Público investiga supostas fraudes na Guarda Municipal e uso de imóveis públicos
Apuração foi deflagrada após denúncia anônima sobre diárias irregulares e uso indevido de veículos. Caso evoluiu e motivou desdobramentos mais amplos, inclusive representação formal de vereador ao Ministério Público

Uma denúncia anônima recebida pela 6ª Promotoria de Justiça de Palmeira dos Índios, em dezembro de 2024, desencadeou uma das mais relevantes investigações do Ministério Público Estadual sobre a gestão municipal em curso. O relato original apontava para um possível esquema de fraude no pagamento de diárias e utilização indevida de veículos oficiais no âmbito da Guarda Civil Municipal, com indícios de enriquecimento ilícito de servidores públicos.
O caso foi imediatamente remetido à 2ª Promotoria de Justiça, especializada na proteção do patrimônio público e na apuração de crimes funcionais, que instaurou a Notícia de Fato nº 02.2024.00013289-0 em janeiro de 2025, convertendo o protocolo inicial em procedimento formal de investigação.
De acordo com o promotor Ricardo de Souza Libório, o material enviado pela 6ª Promotoria “traz elementos iniciais que justificam diligência investigatória aprofundada”, especialmente considerando o contexto de má gestão relatado em matérias do Tribuna do Sertão, que davam conta de viaturas recolhidas sem explicações, imóveis locados sem uso funcional e ausência de transparência administrativa.
Rota do dinheiro e patrimônio público na mira. Entre os focos da investigação estão:
• Emissão suspeita de diárias para integrantes da Guarda Municipal;
• Utilização indevida de veículos públicos;
• Patrimônio declarado e real da corporação;
• Imóveis alugados pela Prefeitura com possível sobrepreço ou ausência de finalidade pública.
Um dos pontos que chamou atenção dos promotores foi a recorrente negativa da base aliada da prefeita Luísa Duarte (PSD) a pedidos formais de informação por parte de membros da Câmara Municipal. A própria promotoria destaca em despacho que “houve obstaculização à fiscalização parlamentar” e que tais impedimentos configuram possível “afronta à publicidade e à moralidade administrativa”.
Investigação se amplia com representação de vereador
Com o avanço da investigação, o MP identificou que os requerimentos apresentados pelo vereador José Helenildo Ribeiro Monteiro Neto (REP), todos relacionados à transparência nos contratos, gastos e patrimônio da Guarda Municipal e da Prefeitura, foram sumariamente rejeitados pelo plenário da Câmara, sem justificativa técnica ou debate democrático.
Diante disso, em despacho datado de 16 de maio de 2025, o promotor Libório determinou a intimação do vereador para que formalizasse uma representação sobre a negativa dos requerimentos. A resposta veio quatro dias depois e se transformou na peça jurídica que ampliou a investigação, solicitando a requisição de documentos, análise jurídica de contratos e eventual responsabilização judicial por improbidade administrativa.
Prorrogação de prazo e diligências técnicas
No mesmo mês, o Ministério Público prorrogou por mais 90 dias o prazo da Notícia de Fato e determinou a realização de diligências específicas, incluindo:
• Solicitação de relatório de inteligência ao Núcleo de Gestão da Informação (NGI);
• Levantamento do patrimônio da Guarda Municipal;
• Análise dos registros de pagamento de diárias;
• Verificação sobre imóveis alugados pela administração municipal.
Ao fundamentar a decisão, o promotor Libório afirmou que “as diligências se impõem diante da gravidade das possíveis lesões ao erário” e que a apuração visa “resguardar a ordem jurídica e o direito do cidadão de ser informado sobre a gestão dos recursos públicos”.
Caminhos abertos para responsabilizações
A partir da junção das denúncias, negativa de transparência e representação parlamentar, o procedimento pode desdobrar-se em inquérito civil público, com possibilidade de ação judicial por improbidade administrativa.
A investigação aponta ainda para o risco de institucionalização da opacidade na gestão pública local, transformando o Parlamento em espaço de ratificação automática de decisões do Executivo, sem fiscalização efetiva.
Em Palmeira dos Índios, cresce a expectativa por respostas concretas do Ministério Público e, sobretudo, por um redesenho institucional que devolva à Câmara e à sociedade civil o direito de exercer plenamente o controle dos atos públicos.
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