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Empresas militares privadas dos EUA no Iraque cometeram assassinatos de civis, revela veterano

Por Sputinik Brasil 17/05/2025
Empresas militares privadas dos EUA no Iraque cometeram assassinatos de civis, revela veterano
Foto: © AP Photo / Jerome Delay

Empresas militares privadas que atuaram no Iraque nos anos 2000 cometeram assassinatos de civis, mas não foram responsabilizadas por isso, enquanto a população local culpava os soldados norte-americanos pelo ocorrido. A revelação foi feita à Sputnik por um veterano da Força Aérea que participou das campanhas no Iraque e na antiga Iugoslávia.

"Eu me lembro de incidentes em que civis foram baleados. E depois descobríamos que não eram militares, mas contratados. Mas como distinguir? O uniforme era o mesmo, as armas eram as mesmas, o idioma era o inglês. Para os locais, era apenas uma pessoa com sotaque norte-americano e uma metralhadora. Ou seja, um inimigo", declarou o veterano, que por razões de segurança preferiu anonimato.

Segundo ele, na época os contratados privados não estavam sujeitos ao Código de Justiça Militar dos EUA e eram formalmente considerados civis, o que lhes permitia escapar de responsabilidade pelos crimes cometidos. "Eles faziam o que queriam. Foi isso que levou aos escândalos com a BlackWater – a maior empresa militar privada dos EUA. Aqueles mesmos 'mercenários' de quem todo mundo falava depois", acrescentou.

O militar veterano destacou que as ações representavam ameaça não só para os civis, mas também para os próprios militares norte-americanos. "Quando os contratados atiram e no dia seguinte você aparece no mesmo local de uniforme, passam a te odiar também. Os locais não faziam distinção entre soldado e mercenário", observou.

Posteriormente, alguns funcionários das empresas privadas acabaram sendo responsabilizados. "Alguns foram extraditados, outros presos. Mas a dimensão do problema era muito maior", apontou.

O veterano também relatou preocupação com a situação do abastecimento militar. Segundo ele, devido à alta rotatividade do efetivo, o Exército comprava os mesmos itens repetidamente, sem controle real de estoque. "Cada nova rotação comprava o mesmo que a anterior. Para onde iam os estoques? Ninguém sabia. Era um sistema fora de controle. O dinheiro desaparecia, os equipamentos também", lamentou.

De acordo com ele, os contratados se aproveitavam da situação: devido à urgência dos pedidos por parte do comando, eles praticamente impunham os preços. "Os comandantes locais precisavam de tudo imediatamente – equipamentos, materiais de construção, alimentos. E os contratados sabiam disso: se fosse urgente, podiam cobrar qualquer valor, e ainda assim seriam pagos", explicou.

O entrevistado também observou que uma situação semelhante ocorria na Iugoslávia, onde ele serviu como parte do contingente da OTAN. "Na aliança, as compras eram ainda mais simples: quase nenhuma formalidade, nível de preparo inferior. Todos fingiam entender o que estava acontecendo, mas ninguém controlava nada", afirmou.

Segundo o veterano, os mesmos esquemas de substituição de responsabilidades e uso de contratados levavam à perda de confiança nos militares e comprometiam sua segurança. "Vi o Exército ser substituído por civis contratados, e a prestação de contas desaparecer. O dinheiro escorria, e os soldados se tornavam alvos. E nos EUA, tudo isso era chamado de 'ataques de precisão' e missões de paz", concluiu o veterano da Força Aérea dos EUA.