Alagoas
Estudo pioneiro em Alagoas busca controle biológico do ácaro vermelho das palmeiras
Trabalho está sendo desenvolvido por estudantes da Ufal, da Unidade Educacional de Penedo, com orientação da professora Ana Paula Portela

O controle biológico de uma espécie invasora, o ácaro vermelho das palmeiras, de origem indiana, que vem causando prejuízos às plantações de coco no país, é o foco de uma pesquisa que está sendo desenvolvida pela Universidade Federal de Alagoas. Pioneiro no estado, o estudo busca encontrar um método de controle que seja eficiente e ambientalmente seguro.
Só para se ter uma ideia da importância de se conseguir o controle dessa praga, o estado de Alagoas ocupa a 3ª posição, no Nordeste, na produção de coco, com 21 mil hectares plantados, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2023. Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), divulgados no primeiro semestre de 2024, atestam que o Brasil é o quarto maior produtor mundial de coco. E mais, entre os países da América do Sul, o Brasil é o maior produtor, com destaque para a região Nordeste, responsável por cerca de 80% da produção de fruto.
A pesquisa Patogenidade de fungos entomatopatogênicos e sua associação com óleos vegetais sobre Raoiella indica (Acari: Tenuipalpidae) é desenvolvida por estudantes do curso de licenciatura em Ciências Biológicas, da Unidade Educacional de Penedo, integrante do Campus Arapiraca da Universidade Federal de Alagoas, e coordenada pela professora Ana Paula Portela. Esses alunos que integram o grupo são do Programa Institucional de Bolsas de iniciação Científica (Pibic): Adrian Martins, Hyago Ramos, Geanisson Conceição, Gabriel Evangelista e Hygor Ramos. Além da participação do biólogo da Ufal, Emanuel Silva.
O ácaro vermelho das palmeiras foi registrado no Brasil, pela primeira vez, em 2009. “Ele ataca espécies de coqueiro, bananeira e dendezeiro, sendo que, para o coqueiro, ele é considerado praga-chave, podendo causar a morte de plantas jovens, as chamadas “mudas” e reduzir a produção de plantas adultas em torno de 70%”, afirmou Portela, que orienta a pesquisa no Laboratório de Diversidade Microbiana (Labdimi).
Segundo a pesquisadora, por se tratar de uma espécie invasora, não existe ainda um método de controle que seja eficiente e ambientalmente seguro. O que se faz hoje em dia é apenas a utilização do método químico, altamente prejudicial ao ambiente e ao consumidor final. Daí a importância de a Universidade contribuir com propostas e soluções para o controle desse ácaro, de forma eficiente e ambientalmente segura.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, o Brasil é o país que mais usa agrotóxicos no mundo em suas lavouras: mais de 700 mil toneladas por ano. Alguns produtos que ainda são utilizados no país já estão banidos na Europa há anos. Esse uso descontrolado causa grandes prejuízos à economia, à diversidade ambiental e à saúde do agricultor e do consumidor, podendo provocar envenenamento, câncer, neurotoxicidade, distúrbios cardiorespiratórios, dentre outros.
Para minimizar esses prejuízos, até que os pesquisadores alagoanos e de outras regiões do país cheguem ao produto mais adequado para combater o ácaro vermelho das palmeiras, a professora sugere a utilização do Manejo Integrado de Pragas (MIP). “É possível fazer o uso combinado de várias técnicas de forma harmoniosa, como fazer uso de mudas resistentes, adquirir mudas certificadas a partir de produtores idôneos, controle biológico com ácaros predadores e, em último caso, o controle químico de forma moderada”, ressaltou Portela.
Confira o passo a passo da pesquisa, que acontece desde 2021
O estudo dos fungos associados aos óleos vegetais, visando ao controle de insetos e ácaros, vem acontecendo na Unidade de Penedo desde 2021. A ideia é selecionar o melhor tratamento, seja com fungo, óleo vegetal, ou fungo e óleo combinados. Os estudantes utilizam espécies de fungos entomopatogênicos, que causam doenças em insetos, e a associação desses fungos com óleos vegetais como potenciais inseticidas ou acaricidas.
“Inicialmente, verificamos se os óleos de nim e de mamona eram compatíveis com as espécies fúngicas Cordyceps javanica e Fusarium caatingaense e, na sequência, estamos analisando o potencial dessa associação contra diferentes insetos e, agora, com ácaros também”, explicou a orientadora Portela.
Ela ressalta que, durante todo o processo de pesquisa, os estudantes desenvolvem habilidades e competências para atuarem como futuros professores de Ciências e Biologia, na região do Baixo São Francisco, com consciência ambiental e preocupação com o desenvolvimento sustentável.
Desde a preparação para a pesquisa até a produção em massa de um produto biológico seguro, de qualidade e eficiente no campo, são necessárias várias etapas. A professora explica que, na primeira delas, os estudantes fazem a seleção de linhagens mais patogênicas e, em seguida, a padronização dos conídios [quantidade e viabilidade]; depois, iniciam os testes de compatibilidade com outros produtos, visando ao uso combinado.
Passadas essas ações iniciais, começam os bioensaios com a praga, testes de eficiência em semicampo, testes em casa de vegetação, e os testes de eficiência em campo. A professora revela que após testes realizados e bem sucedidos, chega-se à etapa burocrática de licenciamento do produto no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). E, só assim, o produto passa a ser produzido em larga escala.
Ela conta que a pesquisa enfrenta alguns desafios, uma vez que a estrutura na Unidade Educacional de Penedo ainda não há laboratório específico por área, como a Microbiologia, exigindo compartilhamento de espaço com outras áreas. “Esperamos que a construção da nova sede aconteça, em breve, para, então, podermos desenvolver mais pesquisa e, assim, contribuir mais ainda com o desenvolvimento da região”, pontuou.
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