Política

A prioridade do PT e a realidade do povo: entre o "Sem Anistia" e o preço do ovo

Vladimir Barros 20/02/2025
A prioridade do PT e a realidade do povo: entre o 'Sem Anistia' e o preço do ovo

Enquanto o Partido dos Trabalhadores (PT) insiste em manter como prioridade política a narrativa do “Sem Anistia”, forçando a responsabilização do infame Jair Bolsonaro pelos atos de 8 de janeiro de 2023, o povo brasileiro parece estar em outra sintonia. O dia a dia da população é ditado por um pragmatismo simples: quanto custa o ovo, o café e a picanha prometida por Lula em 2022, mas que nunca chegou à mesa do trabalhador.

O governo Lula, que chegou ao seu terceiro mandato com a promessa de resgatar o poder de compra do brasileiro, esbarra na dura realidade econômica. O custo de vida segue pressionado, com a inflação dos alimentos ainda castigando a população de baixa renda. O ovo, antes considerado uma alternativa barata à carne, também subiu de preço, o café continua pesando no bolso e a tão esperada picanha se tornou um símbolo distante do discurso eleitoral.

Lula refém do próprio governo?


A dificuldade de Lula em transformar promessas de campanha em realidade tem uma explicação política clara: ele perdeu o controle do jogo. O presidente, outrora conhecido por sua habilidade de articulação e negociação, vê-se cercado por "aliados" que, segundo o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, colocaram uma venda em seus olhos e isolaram-no da realidade. Os "tiranossauros do PT", como são chamados, parecem mais preocupados em travar batalhas ideológicas do que em apresentar soluções concretas para os problemas econômicos do país.

No Congresso, Lula também não dialoga há tempo. Pelo contrário, é mandado pelo Centrão de Arthur Lira e Hugo Mota, que dá as cartas e impõe sua agenda, forçando o governo a constantes concessões. A base governista é frágil, e a dependência do orçamento secreto – rebatizado de "emendas Pix" – revela a fragilidade do Planalto em impor sua própria pauta. A prioridade do governo não é mais ditada por Lula, mas sim por um Congresso que se fortaleceu nos últimos anos e se tornou protagonista das decisões nacionais.

O Brasil - do Oiapoque ao Chuí - vive um sistema semi-presidencialista, onde quem manda é o parlamento, seja nos municípios com as Câmaras de Vereadores, nos Estados com as Assembleias e na União com o Congresso.


O que resta a Lula?


Diante desse cenário, a grande pergunta é: qual será o próximo truque do líder histórico para salvar seu governo? Lula sempre se destacou por sua capacidade de encontrar soluções inesperadas, de reinventar-se politicamente mesmo em meio a crises. Mas agora, com um país mais polarizado, uma base política instável e uma economia que ainda não responde ao ritmo desejado, o desafio é imenso.

A aposta no "Sem Anistia" como principal bandeira política do PT pode ser um erro estratégico. O brasileiro médio já deixou essa discussão para trás pela vagarosidade com que trataram o tema e está preocupado com a realidade do supermercado. Manter a narrativa da perseguição a Bolsonaro como tema central do governo pode acabar alienando ainda mais o eleitorado que Lula precisa reconquistar.

Enquanto isso, a inflação segue corroendo o salário do trabalhador, o desemprego ainda preocupa e as promessas de campanha não saíram do papel. Se Lula não conseguir tirar um coelho da cartola – e rápido –, pode ver seu terceiro mandato naufragar de vez até o meio do ano.

E o povo? Esse segue na luta diária, tentando fechar as contas no fim do mês, sem tempo para discursos ideológicos.