Internacional
Por que Trump segue mentindo ao dizer que EUA derrotaram o fascismo na 2ª Guerra Mundial?
O recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, repetiu uma mentira comum aos líderes norte-americanos ao afirmar que o país "venceu duas guerras mundiais" e derrotou o fascismo. A falsidade, afirma um historiador à Sputnik Brasil, busca co
Longe de ser um fato, essa afirmação se trata de uma falsificação dupla da história, afirma à Sputnik Brasil o professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), João Cláudio Pitillo.
"Trump falsifica a história com relação à Segunda Guerra Mundial e falsifica atualmente, tentando afirmar uma grandiosidade que os Estados Unidos já não têm mais."
Quem venceu a 2ª Guerra Mundial?
A resposta para essa pergunta é única pelas lentes da ciência histórica, diz Pitillo. "Cerca de 75% de todas as forças do Eixo foram destruídas pela União Soviética. Berlim, Tóquio, Roma e seus Estados-satélites foram destruídos pela URSS."
Claro que o papel de todos que lutaram contra o fascismos é importante, afirma o historiador.
"Mas a nível histórico temos que dar César o que é de César e dar a Deus o que é de Deus."
Desde o início da Guerra Fria os Estados Unidos escondem a preponderância que a União Soviética teve na derrota do nazifascismo. "Criaram uma narrativa própria, completamente afastada da realidade", afirma.
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, com o mundo dividido entre dois blocos economicamente antagônicos, a URSS gozava de muito prestígio internacional e, para "para aplacar a vitória soviética e diminuir o alcance do socialismo vitorioso frente ao fascismo", os EUA criam uma guerra cultural onde a narrativa verdadeira é "ofuscada por relatos parciais e mentirosos".
Segundo Pitillo, é possível afirmar "de maneira científica" a partir dos dados e dos mapas que se não fossem as vitórias da União Soviética no Fronte Oriental, a máquina de guerra nazista regressaria para tomar o que restou da Europa, isto é, a Inglaterra. "Toda a Europa estava sobre a bota nazista."
Nesse sentido, a União Soviética que facilitou a vida dos aliados e não o contrário, crava o historiador.
"As principais tropas nazistas estavam sendo destruídas dentro da União Soviética e não tiveram condições de retornar para reforçar o fronte ocidental. Negar isso é parte dessa guerra ideológica criada na Guerra Fria com Truman."
"A Segunda Frente só vai ser aberta em 1944. A União Soviética, de 1941 a 1944, lutou praticamente sozinha."
Japão se rendeu por conta do avanço soviético
Outra falsificação comumente aceita na visão popular da Segunda Guerra Mundial é que os Estados Unidos derrotaram o Império Japonês no chamado Teatro de Operações do Pacífico, com grande ênfase nos ataques nucleares a Nagasaki e Hiroshima, as únicas vezes que um armamento atômico foi utilizado em um conflito.
De fato, assume o historiador, os estadunidenses derrotaram a Marinha Imperial do Japão, mas isso por si só não acabou com a capacidade ofensiva o Japão. O grosso das tropas se encontrava na ocupação chinesa. "Ainda restavam mais de um milhão de homens", diz Pitillo. "O Exército japonês poderia continuar lutando durante muito tempo na Manchúria."
Após a rendição da Alemanha nazista, houve um pedido público dos líderes aliados para que a União Soviética direcionasse suas tropas para atacar o Japão. "Nem Estados Unidos, nem Inglaterra tinham condições de levar mais de um milhão de homens e equipamentos para combater os japoneses."
"Só a União Soviética tinha poder para destruir o Império Japonês."
Foi a partir disto que a URSS iniciou a Operação Tempestade de Agosto, que "destroçou o Exército japonês". Em menos de um mês, as forças soviéticas derrotaram todo o contingente nipônico.
Sem a Manchúria, afirma o historiador, o Japão perde a sua joia da coroa: a China. Um país grande e rico que ligava o Japão ao resto do continente asiático. "Sem a China o Japão volta a ser uma ilha do Pacífico."
"É retratado pelo Ocidente que as bombas atômicas foram responsáveis, mas foi a partir dessa destruição de seu Exército que o Japão decide se render", revela o historiador. "E essa é uma vitória que é escamoteada, ela pouco aparece."
Por que os EUA falsificam a história?
Se por um lado os EUA utilizavam a propaganda de que foram a principal força por trás da vitória aliada na Segunda Guerra Mundial como arma durante a Guerra Fria, a continuidade dessa mentira por todos presidentes estadunidenses revela a perpetuidade dessa política de propaganda.
Hoje a Rússia é a principal herdeira da União Soviética e, como tal, busca manter vivo o legado do conflito, do histórico heroísmo de seu povo, do fardo de sua reconstrução e dos louros de sua vitória.
Para Trump, e também para os demais líderes norte-americanos, essa mentira é "arma na guerra híbrida" contra a Rússia, a China e os países do Sul Global, analisa Pitillo.
Ao colocar os EUA como os principais articuladores da vitória aliada, os EUA buscam "reafirmar os seus valores imperialistas de um país invencível, poderoso e que ajudou o mundo".
Dessa forma, não só dão a Washington uma relevância que não se fundamenta mais na realidade geopolítica atual, como também afasta a Rússia dos demais povos.
"Então o que Trump faz é uma guerra cultural violentíssima, com base na mentira para impedir que a Federação da Rússia se torne popular, colhendo esses frutos."
Por Sputinik Brasil
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