Alagoas

Mais de 80% das vítimas de violência sexual atendidas na Sala Lilás do Hospital do Agreste são mulheres

Tony Medeiros / Ascom HEA 27/11/2024
Mais de 80% das vítimas de violência sexual atendidas na Sala Lilás do Hospital do Agreste são mulheres
Das 216 vítimas de violência sexual atendidas pela Sala Lilás do HEA este ano, 180 foram do sexo feminino - Foto: Pedro Torres e Carla Cleto/ Ascom Sesau



Das 216 vítimas de violência sexual atendidas este ano pela Sala Lilás do Hospital de Emergência do Agreste (HEA), em Arapiraca, 83% - ou 180 casos –, são do sexo feminino. Os outros 17% correspondem a gays, travestis e transexuais. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (27) pelo Serviço de Epidemiologia Hospitalar (SEH) da unidade, que apresentou o perfil dos pacientes acolhidos por violência sexual na maior instituição hospitalar pública do interior de Alagoas.

 

No quesito faixa etária, foram anotadas ocorrências com crianças menores de 1 ano até idosos acima de 80. Com 88 notificações (41%), as vítimas tinham entre 10 e 14 anos. Na sequência, houve notificação de violência sexual em 39 crianças (18%) com idades entre 5 e 9 anos.

 

Foram registrados ainda 33 casos (15%) na faixa etária entre 15 e 29 anos, além de 27 vítimas (12,5%) com idades entre 1 e 4 anos, além de dois casos (0,9%) com idosas acima de 80 anos. Somando os casos que configuram crianças e adolescentes, entre 1 e 19 anos, foram 187 vítimas de violência sexual, o que representa 86,6% do total.

 

Escolaridade

 

Quando a questão é a escolaridade, 115 vítimas (53%) informaram ter Ensino Fundamental incompleto. Com Ensino Fundamental completo foram 11 pessoas (5%); Ensino Médio completo foram sete vítimas (3,2%) e, com o incompleto, apenas uma pessoa (0,5%).

 

No caso do Ensino Superior completo e incompleto foram registradas quatro pessoas (1,8%). Uma pessoa se declarou analfabeta (0,5%). A informação de escolaridade não se aplica a 55 vítimas (25,5%) por terem idade inferior a seis anos.

  

Os casos de violência sexual notificados no HEA foram procedentes de 43 municípios, inclusive um caso de paciente residente em Aracaju, capital de Sergipe. Arapiraca aparece com o maior número de ocorrências, com 58 casos (26,8% do total), seguida pela cidade sertaneja de Ouro Branco, com 19 casos (8,8%).

 

Na lista dos dez municípios com maior número de notificações aparecem Limoeiro de Anadia, com 14 casos (6,5%); Junqueiro e Palmeira dos Índios, com 10 casos cada (4,6%); Craíbas, com nove casos (4,1%); Campo Alegre, com sete casos (3,2%), e Olho D’Água das Flores, Penedo e São José da Tapera, com seis casos cada (2,8%). Os outros atendimentos somam 71 notificações distribuídas em 33 municípios.

  

De acordo com dados, o local de maior ocorrência é a residência das vítimas, com 137 casos (63,4%). O local de trabalho apresentou 16 casos (10%) e, em via pública, ocorreram 8 casos (3,7%). 

 

Agressores

Quando se leva em consideração as informações das vítimas em relação à autoria da agressão, dos 216 casos notificados, 39 agressores são considerados desconhecidos (18%). Os principais agressores são amigos e conhecidos, com 71 casos (33%), e pessoas com outros vínculos, 42 casos (19,4%).


A soma de casos envolvendo pai (26) e padrasto (12) chega a 38 casos (17,6%). Namorados (8), cônjuges (4) e ex-cônjuges (4) correspondem a 16 casos (7,4%). As agressões provenientes de familiares próximos, como irmãos (4), mãe (2) e filho (1) somam sete casos (3,2%). Foram notificados três casos (1,4%) em que o patrão foi apontado como agressor.

De acordo com a psicóloga Yanna Albuquerque, coordenadora da Área Lilás do HEA, a responsabilidade de combater e prevenir os casos de violência sexual é de toda a sociedade. “As pessoas, familiares, amigos, devem ficar atentos aos sinais de alteração de comportamento, mudança de humor, agressividade, lesões, desconforto na presença de alguma pessoa, entre outros sinais que as vítimas expressam”, ressaltou.


Ainda de acordo com ela, é necessário manter campanhas constantes para conscientizar a população a fazer a denúncia, que é o primeiro passo para gerar a proteção necessária. “Situação que se aplica, principalmente, às crianças e adolescentes, quebrando o ciclo de violência e assegurando que os direitos fundamentais sejam efetivados”, pontuou Yanna Albuquerque.


A coordenadora do SEH do HEA, a assistente social Ana Lúcia Alves, frisou que, a partir dos dados apresentados, é possível realizar ações efetivas de prevenção e combate à violência sexual, observando o perfil das vítimas e avaliando os casos existentes nos municípios. “O Serviço de Epidemiologia colabora para que as autoridades possam se debruçar na estatística e observar que os dados não são apenas números, mas, pessoas que precisam de atenção e proteção”, analisou.

 

Violência Sexual

 

A violência sexual pode ser definida como qualquer ação que se vale de uma posição de poder para obrigar pessoa a ter algum tipo de interação sexual por meio de força, coerção, intimidação ou influência psicológica. Ela inclui casos de estupro, abuso incestuoso, assédio sexual, sexo forçado no casamento, penetração forçada, pedofilia, pornografia infantil, entre outros.

Segundo a Organização das Nações Unidas, a coerção pode ocorrer de diversas formas e por meio de diferentes graus de força, intimidação psicológica, extorsão e ameaças. A violência sexual também pode acontecer se a pessoa não estiver em condições de dar seu consentimento, em caso de estar sob efeito do álcool e outras drogas, dormindo ou mentalmente incapacitada, entre outros casos.

Área Lilás

 

A Área Lilás do HEA foi implantada em outubro de 2019, sendo possível organizar os serviços prestados e estabelecer os fluxos de atendimento às vítimas de violência. No primeiro semestre de 2020 foram realizadas 49 notificações. Em comparação com o mesmo período em 2024, é possível verificar um aumento superior a 300% no número total de notificações.

 

“Nossa Área Lilás tem um papel fundamental no acolhimento às vítimas de violência, sobretudo de agressão sexual. Equipe multiprofissional capacitada e sensível para os casos que surgem na II Macrorregião de Saúde de Alagoas. É um trabalho em parceria com órgãos de segurança pública para garantir agilidade nesta atenção às vítimas”, disse a diretora-geral do Hospital de Emergência do Agreste, Bárbara Albuquerque.