Internacional

Vladimir Putin, presidente da Rússia, fala com a imprensa sobre resultados da Cúpula do BRICS

Mais de 300 jornalistas se reuniram nesta quinta-feira (24), em Kazan, para uma coletiva com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sobre os resultados da Cúpula do BRICS, realizada na cidade russa entre a última terça-feira (22) e hoje.

Sputink 24/10/2024
Vladimir Putin, presidente da Rússia, fala com a imprensa sobre resultados da Cúpula do BRICS

A Rússia fez todo o possível para que os novos membros do BRICS se juntassem organicamente "à família" e isso deu certo, disse Putin.

O presidente russo declarou que todas as sessões e eventos da 16ª Cúpula do BRICS em Kazan foram realizadas de maneira aberta e profissional, em uma atmosfera de compreensão mútua.

Os países do BRICS se comprometeram a construir uma ordem mundial mais democrática e multipolar e fortalecer a parceria no setor financeiro, segundo ele.


"A cúpula aprovou a Declaração de Kazan do BRICS, que resumiu as discussões que ocorreram. Em nossa opinião, é um documento abrangente e conceitual com uma agenda positiva com vistas ao futuro. É importante que ele reafirme o compromisso de todos os nossos Estados com a construção de uma ordem mundial mais democrática, inclusiva e multipolar baseada no direito internacional e na Carta da ONU", ressaltou.
'Que o Brasil seja o presidente'


Em particular, a Rússia propôs estender a presidência do Brasil no Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, chefiado por Dilma Rousseff.


"A Rússia propôs estender a presidência brasileira desse banco e a da presidente do banco, sra. Rousseff, tendo em mente que este ano o Brasil está presidindo o Grupo dos 20, no próximo ano vai assumir de nós o bastão e liderar o BRICS", disse Putin.

Quando perguntado sobre o desenvolvimento de uma nova arquitetura de pagamentos, Putin afirmou que o foco atual do BRICS é fortalecer a transação nas moedas nacionais de cada país e que não está nos planos a criação de uma moeda comum.

Tampouco está sendo pensada uma alternativa própria para o SWIFT, mas sim está sendo estimulado o usos de sistemas próprios, como o Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras (SPFS, na sigla em russo).

Crise na Ucrânia


Os participantes da cúpula discutiram questões internacionais importantes com foco na situação do Oriente Médio.

Falando da crise ucraniana, Putin disse que todos os países-membros concordaram em que o conflito deve terminar pacificamente e o mais rápido possível.

Neste contexto, muitos países apoiam a iniciativa de paz do Brasil e China sobre a solução da questão ucraniana. No entanto, Putin afirmou ser incapaz de precisar o quão provável é que a iniciativa sino-brasileira seja adotada pela Ucrânia.

A liderança de Kiev é muito instável, sublinhou o presidente, já tendo abandonado a mesa de discussões em Istambul e, mais recentemente, recusando uma nova proposta de mediação feita pela Turquia.


"O início das negociações de paz levaria à necessidade de suspender a lei marcial e, imediatamente depois disso, as eleições presidenciais teriam de ser realizadas. Aparentemente, elas ainda não estão prontas", enfatizou o líder russo.

Por sua vez, o presidente Putin destacou que está preparado para considerar negociações que tenham como base as realidades que estão se desenvolvendo no campo de batalha.

Ao mesmo tempo, segundo ele, o Exército russo está agindo com confiança em todas as direções e está avançando em todas as zonas da linha de frente.

Oriente Médio

Questionado sobre a crise no Oriente Médio entre Israel e seus vizinhos, Vladimir Putin destacou que sua posição é conhecida. O problema na região só pode ser resolvido "eliminando as causas".

"E a principal razão é a ausência de um estado palestino de pleno direito. É necessário implementar todas as decisões do Conselho de Segurança nesta área."

Para o líder russo, é necessário "trabalhar com todos os atores" e não permitir em nenhum caso a escalada do conflito. "Inclusive, precisamos trabalhar com Israel, que reconhecidamente enfrentou um ato terrorista em outubro do ano passado."

Já em relação ao Irã, que participou pela primeira vez da Cúpula do BRICS, Putin disse estar em contato com a liderança do país para evitar uma intensificação do conflito.

Sobre a Arábia Saudita, o presidente russo expressou seu desejo pelo aprofundamento da relação entre os dois países e destacou a presença dos representantes do país nos trabalhos realizados durante a cúpula.

Rússia está isolada?


Putin chamou de mentira as declarações de que ele supostamente se recusa a ter contactos com parceiros ocidentais.


“Recebemos diferentes sinais de parceiros ocidentais sobre possíveis contatos. Não nos fechamos a esses contatos”, disse Putin.

O presidente disse que a Rússia está ciente da situação ao seu redor e não quer transferir todos os seus problemas para as instituições em cujo desenvolvimento está interessada.

Ele assegurou que Moscou vai lidar com seus problemas por conta própria.


"Pode-se ameaçar a qualquer um, mas é inútil ameaçar a Rússia, porque isso só nos anima", afirmou.
Conforme foi dito, o BRICS não é um formato fechado, mas está aberto a todos os que compartilham seus valores.

A Rússia, disse o presidente russo, sente o apoio dos parceiros do BRICS, que não termina com a conclusão da cúpula.

Putin agradeceu a todos os colegas presentes na cúpula em Kazan por sua contribuição para o trabalho comum.


Venezuela no BRICS


O presidente russo destacou que as posições da Rússia e do Brasil se contradizem no que tange a entrada da Veneuzela no BRICS. Putin lembrou que o país recém passou por eleições conturbadas, nas quais o opositor se declarou vencedor do pleito.

Contudo, a entrada da Venezuela no BRICS só acontecerá com o consenso de todos os países, destacou Putin.



"Esperamos que o Brasil e a Venezuela tenham uma reunião bilateral e encontrem uma solução para o impasse. Sei que o presidente Lula tratará da questão de maneira objetiva."

Rússia e EUA

Questionado por um jornalista norte-americano, Putin disse que as acusações de interferir nas eleições dos Estados Unidos não são verdadeiras, e que se quiser encontrar prova de uma interferência basta olhar para Kiev e sua incursão em Kursk.


"Querem a todo custo mostrar à atual administração e aos eleitores da atual administração que os seus investimentos na Ucrânia não foram em vão."

Por outro lado, o mesmo jornalista disse que o ex-presidente Donald Trump havia dito que bombardearia o centro de Moscou como forma de estimular o fim do conflito na Ucrânia. Em resposta, Putin disse que não se lembra dessa fala de Trump, mas lembrou que os candidatos estão na reta final de suas campanhas e que por isso não se deve levar tais falas tão a sério.

"O que o Sr. Trump disse recentemente, o que ouvi - ele falou sobre o desejo de fazer tudo para acabar com o conflito na Ucrânia - parece-me que ele disse isso com sinceridade."

Quando a relação dos dois países, Putin disse que o estado das relações entre ambos dependerá da dos norte-americanos. "Se os EUA estiverem abertos à construção de relações normais com a Rússia, faremos o mesmo. Se eles não quiserem, então não faça. Mas essa é a escolha da futura administração."