Economia

Senado aprova Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central

Ele foi indicado pelo presidente Lula para substituir Roberto Campos Neto a partir de janeiro

Agência O Globo - 08/10/2024
Senado aprova Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central
Senado aprova Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central - Foto: Reprodução/internet

O economista foi aprovado, nesta terça-feira, pelo plenário do Senado para assumir a presidência do a partir de janeiro de 2025. Em votação secreta, foram 66 votos a favor e 5 contra a sua nomeação. Mais cedo, Galípolo já tinha passado pelo crivo da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado por unanimidade (26 votos), após uma sabatina que durou cerca de 4 horas.

Fim de mandato:

Galípolo foi indicado pelo presidente Luiz Inácio da Silva no fim de agosto para assumir a cadeira de , cujo mandato, pela lei de autonomia do BC, se encerra em 31 de dezembro deste ano.

Portanto, até o fim do ano, o BC terá dois presidentes aprovados, embora só um com mandato. Essa é a primeira transição na chefia da autarquia da lei de autonomia, que prevê mandatos não coincidentes com o presidente da República.

Sabatina:

Avaliação:

Ele enfrentou escrutínio do Senado pela segunda vez. No ano passado, também passou com tranquilidade pela sabatina para a diretoria de Política Monetária do BC, cargo que ocupa desde julho de 2023. Antes, era número 2 de no Ministério da Fazenda.

O consenso a favor de seu nome na CAE mostra como Galípolo conseguiu, desde sua primeira indicação ao BC, conquistar o respeito de políticos e integrantes do mercado financeiro. Na sabatina, ele recebeu elogios de vários expoentes da oposição ao governo atual, como Carlos Portinho (RJ), líder do PL, partido de Jair Bolsonaro, no Senado. O escolhido de Lula para presidência do BC visitou cerca de 50 senadores no tradicional ritual de beija-mão que antecede a sabatina.

Na Faria Lima, porém, Galípolo ainda terá de se provar independente dos desejos do governo, apesar de ter votado em conjunto com Campos Neto em quase todas as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom). A única exceção foi a fatídica reunião de maio deste ano, quando houve um racha entre os diretores indicados pelo governo atual e aqueles que já estavam no colegiado na gestão de Jair Bolsonaro.

Em setembro, último encontro do Copom, Galípolo votou junto com os demais membros do Copom pela retomada do ciclo de alta da taxa Selic. Houve aumento de 10,50% para 10,75% ao ano. Na sabatina nesta terça-feira, Galípolo disse que o chefe do Executivo garantiu a ele "liberdade na tomada de decisões" e negou que tenha sofrido qualquer pressão do petista.

— Eu realmente jamais sofri nenhuma pressão. Todas as vezes que o presidente me encontrou ou me ligou, ele me disse: "comigo você vai ter toda tranquilidade, jamais vou te perguntar antes, jamais vou fazer qualquer tipo de interferência, você vai ter todo tipo de liberdade para tomar a decisão de acordo com o seu juízo. Eu vou respeitar sempre".

O atual diretor ainda disse que pode ter frustrado a expectativa de quem achava que o BC viveria um "reality show" com a sua entrada na diretoria em um momento em que Roberto Campos Neto, alvo frequente das críticas de Lula, ainda liderava o órgão.

Ele também fez uma 'mea culpa' por não ter atuado pela relação entre o Banco Central e o Poder Executivo não tenha sido ainda maior.

— Até me ressinto aqui e faço uma mea culpa. Gostaria de, dentro das minhas funções, ter colaborado para que essa relação entre o BC e o Executivo fosse melhor ainda do que tem sido — disse, completando que, no âmbito institucional, a relação tem sido perfeita.

Galípolo acumula experiências no setor público e privado, sendo reconhecido por ser uma das figuras chaves para intermediar a relação entre a campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva com atores do mercado financeiro, nas eleições de 2022.

Ele atuou de 2017 a 2021 como presidente do Banco Fator. É formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política pela PUC de São Paulo, instituição na qual também foi professor nos cursos de graduação, de 2006 a 2012. Além disso, lecionou no MBA de PPPs e Concessões da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).

O que disse na sabatina

Galípolo afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu a ele "liberdade na tomada de decisões".

— Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula eu escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro — disse, renovando o compromisso com a autonomia do BC

Ele disse que tem um sentimento de "gratidão" por todos os senadores por ter sido recebido pelos parlamentares de todos os partidos com tanta gentileza em um período difícil de campanha eleitoral. Ele também agradeceu ao presidente Lula, ao ministro Fernando Haddad, a Campos Neto, a aos demais diretores e servidores do BC.

Durante sabatina:

Galípolo ainda afirmou em sua fala inicial que reconhece que há "numerosos desafios", como a consolidação de uma agenda capaz de criar uma economia mais equânime, o que envolve, segundo ele, o compromisso permanente do BC no combate à .

— Devo aos senadores e senadoras a obrigação de reafirmar meu compromisso com o mandato estabelecido pelo arcabouço institucional e legal para a autoridade monetária brasileira, a consciência da honra e responsabilidade que envolve a indicação à presidência do BC e o papel da estabilidade monetária e financeira na construção da sociedade que desejamos.

Desinflação custosa

Como esperado, as perguntas dos senadores giraram em torno da inflação, do compromisso de Galípolo com a autonomia do BC e com decisões técnicas, especialmente considerando a proximidade com Lula, que costuma criticar os juros elevados. Outros temas abordados foram as preocupações com o impacto das bets na sociedade brasileira e com a condução das contas públicas pelo governo.

Campos Neto:

O atual diretor de Política Monetária afirmou que o distanciamento das expectativas de inflação das metas em um contexto de atividade forte e dólar mais alto demandam "maior prudência" da política monetária. Também disse que cabe ao BC perseguir de forma "inequívoca" a meta de inflação de 3% — que pode variar entre 1,5% e 4,5%.

— Hoje nós temos uma meta estabelecida de 3% e cabe ao BC perseguir essa meta de maneira inequívoca, colocando a taxa de juros em patamar restritivo necessário pelo tempo que for necessário para atingir essa meta. Essa é a função do BC. De maneira nenhuma, ideia de autonomia é de que o BC vai virar as costas para o poder democraticamente eleito.

Na sabatina, o diretor do BC também reforçou o entendimento citado no último Comitê de Política Monetária (Copom) de que a economia brasileira está "pujante". Na reunião de setembro, o colegiado considerou que a atividade econômica está operando acima do que sua estrutura permite, o que tende a ser inflacionário. Por isso, disse que a função do BC é ser mais conservador com os juros.

— (A economia pujante) não é ruim, mas a bola que o BC deve estar com o olho é a inflação. Devemos assistir um processo de desinflação mais lento e custoso. Como não cabe ao BC correr risco, sua função é ser mais conservador para garantir que a taxa de juros está no patamar necessário para que a inflação atinja a meta definida.

Mão fraca

Galípolo ainda comentou que foi acusado de ser "mão fraca" na gestão do mercado de câmbio, responsabilidade da diretoria de Política Monetária, por não ter feito intervenções extraordinárias durante seus primeiros meses na cadeira. Ele argumentou que as opiniões oscilam muito rapidamente. Antes de sua entrada, havia a expectativa de que houvesse mais atuações.

— O ano de 2023 foi o primeiro que não fizemos intervenção extraordinária no fim do ano. Aí passei a ser acusado de ser 'mão fraca'. A verdade é que o BC tem institucionalidade bem consolidada que sabe reagir, agregar e reunir as informações — disse, acrescentando que tem tentado levar as informações para colegiado:

— É mais difícil de errar com nove pessoas do que sozinho

Bets

Lula:

Sobre as bets, Galípolo reforçou que a autarquia não versa sobre a regulação de bets, mas que acompanha o tema para avaliar o impacto em consumo e atividade econômica. Segundo ele, o debate dentro do BC começou com avaliações sobre o crescimento da renda e o reflexo em consumo e poupança. O diretor também disse que o BC acompanha as operações de saída de recursos do país.

— Tinha alguma vazamento que não era simples de identificar. Passamos a fazer estudos internos e dialogar com instituições financeiras. Confesso que, nas primeiras reuniões, tive grande desconfiança sobre os números e a cada reunião foram se confirmando até chegar no estudo que ficou público do BC.

A preocupação com os sites de e de jogos de azar aumentou após o BC divulgar um levantamento preliminar que aponta que os brasileiros transferiram cerca de R$ 20 bilhões por mês a sites de apostas e jogos de azar entre janeiro e agosto de 2024. O gasto dos beneficiários do Bolsa Família foi de R$ 3 bilhões em agosto, estima o BC.

Rito

Arminio Fraga:

Campos Neto sobre Galípolo:

Galípolo acumula experiências no setor público e privado, sendo reconhecido por ser uma das figuras chaves para intermediar a relação entre a campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva com atores do mercado financeiro, nas eleições de 2022.

Ele atuou de 2017 a 2021 como presidente do Banco Fator. É formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política pela PUC de São Paulo, instituição na qual também foi professor nos cursos de graduação, de 2006 a 2012. Além disso, lecionou no MBA de PPPs e Concessões da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).