O mapa-múndi
Crônica
No meu escritório, que ocupa parte do meu quarto, havia um mapa-múndi colado na parede, logo acima da estante de livros que fica sobre a mesa onde passo horas encarando a tela do computador.
Era um relicário que ganhei de minha mãe na época do cursinho pré-vestibular e que, mais tarde, se tornou símbolo da minha escolha pela graduação em Geografia no Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Alagoas, nosso querido IGDEMA.
Eu dizia que seria o primeiro de muitos mapas que teria, um aide-mémoire diário de tempos mais acadêmicos, quando sonhava em ser o próximo Roberto Lobato Corrêa.
Nos últimos dias, mais precisamente desde domingo, esse mapa resolveu se rebelar. Começou a descolar, sempre pela parte esquerda, como se quisesse protestar ou, quem sabe, apenas chamar atenção – afinal, por que não começar pela esquerda? No início, eu, paciente, ia lá, ajeitava, pressionava o adesivo e achava que o problema estava resolvido.
Mas, no dia seguinte, lá estava ele novamente pendurado, desafiando minha autoridade como dono do quarto.
Colava, descolava. Descolava, eu colava. Era como aqueles episódios do icônico desenho animado “Papa-Léguas” (1949-2014), da Warner Bros., onde o Papa-Léguas sempre ludibria as tentativas do Coiote em capturá-lo. Minha irritação crescia até que, num acesso de fúria, lancei sobre ele a 4ª edição de “Economia Brasileira Contemporânea”, de Gremaud, Vasconcellos e Toneto, além de recorrer a algumas vassouradas, na esperança de fixá-lo de vez. "Por que, justo você, mapa?", pensei, exasperado.
Depois disso, passei a ignorá-lo, deixando-o pendurado, balançando preguiçosamente com a brisa do ventilador, como se fosse um lembrete de que até os mapas têm seus limites e se cansam de ficar no mesmo lugar. Mas, como sempre, minha teimosia não tardou a se manifestar, e lá estava eu, tentando colá-lo novamente.
Ontem, veio o golpe final. O adesivo que segurava a outra ponta, desgastado pelo tempo, simplesmente cedeu. Totalmente seco, não aguentou mais e decidiu que era hora de se aposentar. O mapa caiu, dessa vez com um ar de resolução, como se dissesse: "Chega. Já fiz o que pude."
Sem ter outra escolha, dobrei o mapa com um suspiro resignado e o guardei. Agora, preciso comprar uma fita mais resistente para pendurá-lo de volta — se é que ele ainda quer voltar.
Quem diria que até um simples mapa poderia me ensinar tanto sobre limites e teimosia?
Talvez até os mapas precisem de um descanso.