Política

MST elege 43 militantes e 90 políticos comprometidos com o movimento

Sem-terra querem ocupar espaço político para discutir uso da terra e agroecologia

Agência O Globo - 08/10/2024
MST elege 43 militantes e 90 políticos comprometidos com o movimento
MST elege 43 militantes e 90 políticos comprometidos com o movimento - Foto: Reprodução / internet

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) conseguiu eleger 43 candidatos próprios, participantes do movimento, e 90 políticos que se comprometeram com reivindicações do grupo, como adotar medidas que garantam cooperação e incentivo à produção de alimentos saudáveis, democratização do acesso à terra e cuidados permanentes com o meio ambiente entre outras. No total, foram eleitos 110 vereadores e vereadoras comprometidos com a pauta do MST, além de 23 prefeitos e vice-prefeitos em 19 estados.

No Rio de Janeiro foi eleita vereadora a professora e historiadora Maíra do MST, com 14.667 votos. Uma de suas propostas é criar projetos que acabem com a fome, como a experiência de cozinhas comunitárias do movimento. No Rio Grande do Sul, no município de Nova Santa Rita, o vereador mais votado foi Emerson Giacomelli, Coordenador do Grupo do Arroz Agroecológico Terra Livre. Em Maricá, o grupo elegeu o prefeito Quaquá, hoje deputado federal.

Neste ano, o MST se mobilizou para lançar um grande número de candidaturas nas eleições municipais - 250 delas são de candidatos próprios de sem-terra. Se contados os aliados do movimento, o número chegou a 600. O primeiro passo na direção da política institucional foi dado em 2022, com candidaturas para deputado estadual e federal.

A maioria das vitórias ocorreu em cidades pequenas. Em Igrapiúna, na Bahia, por exemplo, o vice-prefeito é Nildo do MST, um pequeno agricultor. Lucy do MST foi a candidata que mais conquistou votos em Iguaí, também na Bahia.

No Pará, o trabalhador rural Tito do MST foi eleito para uma das 17 cadeiras da Câmara de Parauapebas, no sudeste do estado, conhecida como a "capital do minério". Ele é morador de um assentamento no município há 30 anos.

João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST, afirma que houve avanço do campo progressista para recuperar o espaço perdido após 2016, representado pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, classificado como golpe por movimentos populares e partidos de esquerda.

-- Essas eleições ainda foram comandadas pelos prefeitos e governadores eleitos durante o governo Bolsonaro. Os recursos do orçamento secreto irrigaram prefeituras com as candidaturas de direita e do Centrão. Foram verbas significativas que se transformaram não só em obras, mas também em shows sertanejos -- diz ele.

Rodrigues afirma que, nos últimos anos, o campo progressista sofreu também uma derrota ideológica e a maioria dos partidos não conseguiu ainda recuperar a capacidade de atuação.

O cenário para 2028, porém, na avaliação do dirigente do MST, será outro.

-- O debate será em outro nível, teremos uma eleição diferente, com as entregas que serão feitas aos mais pobres e sem a discussão de pauta de costumes -- avalia.

O resultado do MST nas urnas, segundo ele, foi graças à uma enorme mobilização do movimento para evitar que representantes da extrema-direita avançassem em acampamentos e assentamentos de sem-terra, seja com disseminação de ideias ou até compra de votos. Com isso, o movimento tentou garantir que sua base votasse em candidaturas progressistas.