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Nobel de literatura 2024: nomes mais cotados vão de indígena australiana a autoras do Extremo Oriente

O romeno Mircea Cărtărescu e o queniano Ngũgĩ wa Thiong’o também aparecem bem posicionados nas listas de apostas

Agência O Globo - 08/10/2024
Nobel de literatura 2024: nomes mais cotados vão de indígena australiana a autoras do Extremo Oriente
Nobel de literatura 2024: nomes mais cotados vão de indígena australiana a autoras do Extremo Oriente - Foto: Reprodução / agência Brasil

Se depender dos apostadores, o Prêmio Nobel de Literatura 2024 será uma mulher não europeia. Entre os cinco autores mais bem posicionados no ranking do site Nicer Odds, que reúne dados de casas de apostas, três são mulheres que nasceram bem longe de Estocolmo, sede da Academia Sueca, que entrega o prêmio.

Mohamed Mbougar Sarr:

'Retrato de um certo Oriente':

O topo da lista é ocupado pela indígena australiana Alexis Wright, inédita no Brasil e dona de uma obra premiada, que dá destaque às vidas dos povos originários de seu país. Em segundo lugar, aparece a chinesa Can Xue, ficcionista experimental que já frequentava a lista no ano passado. Na quinta colocação, vem a japonesa .

O único europeu da lista é o romeno Mircea Cărtărescu, escritor festejado que, ano após ano, é lembrado pelos apostadores. Em quarto lugar, está outro candidato frequente, o queniano Ngũgĩ wa Thiong’o.

Jovem, bem-sucedida e avessa à fama:

E o japonês Haruki Murakami? Ele continua bem posicionado, em sexto lugar, seguido do francês , do chileno Raúl Zurita, do australiano Gerald Murnane e do americano Thomas Pynchon. Na décima primeira colocação, surge enfim um nome latino-americano, o do argentino .

No ano passado, o Nobel de Literatura foi para o norueguês , autor de títulos como “É a Ales” (Companhia das Letras) e “Brancura” (Fósforo). Fosse, que liderava o ranking de apostas, é autor de uma obra preocupada com questões existenciais (como o amor, a morte e a fé) e que transita por gêneros literários diversos, como a prosa, a poesia e, em especial, o teatro.

No ano anterior do prêmio de Fosse, a Academia Sueca laureou a francesa . Depois de dois anos seguidos agraciando autores brancos e europeus, não é improvável que o Nobel de Literatura de 2024 venha de outro continente.

Abaixo, conheça um pouco da obra dos autores mais cotados ao prêmio:

Alexis Wright

Inédita no Brasil, a autora de 73 anos pertence ao povo indígena Waanyi, da Austrália. Wright publicou quatro romances, uma biografia e várias obras de não ficção. Entre seus romances, destaca-se “Carpentaria”, de 2006, que narra as vidas de vários habitantes de uma cidade fictícia no Golfo de Carpentária, na Austrália. O livro ganhou o Prêmio Stella. Este ano, ela se tornou o primeiro autor australiano a ganhar duas vezes o troféu literário, agora com um romance de mais de 700 páginas: “Praiseworthy” (Digno de louvor, em tradução direta). O livro é protagonizado por Cause Man Steel, que sonha sem se tornar o primeiro indígena australiano bilionário e imagina um mundo livre de combustíveis fósseis. O jornal americano The New York Times disse que “Praiseworthy” é “o mais ambicioso romance australiano escrito neste século”. Os jurados do Prêmio Stella destacaram as “qualidades técnicas e estéticas” do romance, assim como o “ritmo tempestuoso da sátira política” da autora.

Can Xue

Descrita como “a autora de ficção experimental mais proeminente da China”, Xue se tornou célebre por romper com o realismo da literatura moderna de seu país. Autora de romances, novelas e crítica literária em que analisa a obra de autores como Dante Alighieri, e , é no conto que ela se destaca. Em breve, a chinesa deixará de ser inédita no Brasil. A editora Fósforo já anunciou a publicação de “Histórias de amor no novo milênio”, romance onírico e bem-humorado que acompanha mulheres investidas na busca do prazer e da felicidade em uma cidade industrial precária. A autora, que escreve sob pseudônimo, nasceu em 1953 e teve a família perseguida pelo regime ditatorial chinês.

Mircea Cărtărescu

O romeno de 68 anos é um dos maiores prosadores de seu país. Ficcionista, ensaísta e professor de literatura na Universidade de Bucareste, é autor de “Nostalgia”, romance publicado no Brasil pela editora Mundaréu. “Nostalgia” é composto por cinco histórias autônomas nas quais se repetem a linguagem sinuosa, a temática (desafio ao destino, a memória, a transcendência e a vida na capital da Romênia) e doses de absurdo que lembram Kafka e Borges. A Mundaréu acaba de publicar mais um romance do autor no país: “Solenoide”, catatau de quase 800 páginas, misto de terror, sonho e delírio, narrado por um professor primário que sonhava em ser escritor, mas desistiu depois que um poema seu foi destroçado por colegas na universidade.

Ngũgĩ wa Thiong’o

Há anos, o queniano é um dos favoritos para arrematar o Prêmio Nobel de Literatura. Nascido em 1938, é um dos principais escritores africanos em atividade. Em 1977, acabou preso por escrever uma peça teatral que desagradou o governo queniano. Publicadas no Brasil pela Companhia das Letras e pela Biblioteca Azul (Globo Livros), as obras de Ngũgĩ wa Thiong’o abordam as lutas pela independência de seu país e as fraturas do colonialismo, misturando a herança literária ocidental às tradições locais. Seu romance mais conhecido, “Um grão de trigo”, lançado em 1967 (quatro anos após a independência do Quênia) é ao mesmo tempo uma afirmação da cultura queniana e uma meditação sobre as contradições e incertezas do novo momento da nação. O autor já participou da .

Yoko Tawada

Nascida em Tóquio, em 1960, a autora escreve tanto em japonês quanto em alemão (ela vive em Hamburgo desde os 22 anos). Dois de seus livros já foram publicados no Brasil pela Todavia. Em “Memórias de um urso-polar”, ela narra as experiências de três gerações de ursos-polares desde os tempos da Guerra Fria, quando os blocos capitalista e comunista disputavam controle dos homens e dos animais. Já “As últimas crianças de Tóquio” imagina um mundo onde os idosos vivem quase para sempre e o resto das pessoas morre ainda jovem. Em 2019, Tawada veio ao Brasil e disse que os escritores devem ler os russos para aprender a sobreviver a regimes autoritários. “Antes de começar a escrever todo escritor devia estudar como escrever debaixo de uma ditadura”, aconselhou.