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Saiba como devem ser shows de Paul McCartney no Brasil, com música inédita dos Beatles e sem 'Yesterday'

Artista britânico iniciou turnê sul-americana com shows em Montevideo, no dia 1º, e em Buenos Aires, ontem

Agência O Globo - 06/10/2024
Saiba como devem ser shows de Paul McCartney no Brasil, com música inédita dos Beatles e sem 'Yesterday'
Paul Mcartney - Foto: Reprodução

Paul McCartney está mais velho e com menos potência vocal do que da última vez que o vimos, mas é o mesmo de sempre. Basta um acorde para nos conectarmos com nossa educação sentimental. Com a sua nova turnê, o tio Paul está de volta, se conectando com seus muitos públicos, numa extensa lista de clássicos, com mudanças em relação a suas turnês anteriores (não teve “Yesterday”!), mas mantendo as homenagens a John Lennon e George Harrison, os dois Beatles que partiram antes da hora.

O música inglês abriu a turnê sul-americana com shows em Montevideo, no dia 1º, e em Buenos Aires, ontem. Ainda fará mais um show na capital argentina hoje, então segue para Santiago, onde se apresenta no dia 11, antes de chegar ao Brasil para dois shows em São Paulo (15 e 16) e um em Florianópolis (19).

Esqueça as pausas entre as músicas, a conversa a que alguns músicos recorrem frequentemente, mesmo os solos instrumentais nos quais o protagonista da noite aproveita para descansar. Nada disso. Paul nunca sai do palco. Ele apenas faz o velho truque de cumprimentar e fingir que vai embora depois de “Hey Jude” e antes do bis. A energia que este homem tem aos 82 anos é invejada por muitos que estão apenas na metade do caminho.

“Can't Buy me Love” abre energicamente a noite em Buenos Aires, com Paul e seu querido baixo Höfner — nas 2h45 de show, ele toca baixo, guitarra, banjo, cavaquinho e piano. Essa é uma das poucas mudanças que podem acontecer — em Montevideo, quatro dias antes, ele abriu o show com outro clássico inquestionável dos Beatles, "A hard day's night". Fora isso, sabemos a duração do show, uma dezena de músicas que não vão faltar e também sabemos, conhecendo ele, alguns gestos, gestos, diálogos, até piscadelas.

As músicas do “Fab Four” e do Wings são os dois grandes pilares sobre os quais se apoia a lista de mais de trinta canções. Assim, a noite continua com “Juniors Farm”, dos Wings, banda que Paul formou após a separação dos Beatles e com a qual compôs mais uma boa seleção de clássicos. “Olá Argentina, boa noite Buenos Aires”, cumprimenta em espanhol antes de iniciar a terceira canção, “Letting Go”, e acrescenta: “Estou muito feliz em vê-los novamente. Esta noite vou tentar falar um pouco de espanhol” — no Brasil, pode-se apostar com segurança que ele vai tentar falar um pouco de português.

No telão, surgem imagens de sua vida, com preponderância dos anos com John, George e Ringo. Paul tem dois momentos muito emocionantes guardados, que muitos sabem que virão, mas isso não os torna menos impactantes. Um deles é a homenagem a John com a música que seu amigo Paul compôs para ele (“Escrevi essa música para meu querido irmão John”, diz ele em espanhol). É “Here Today”, que ele toca com violão. A outra é a homenagem a George que sabemos que começa tocando no ukulele, sozinho e que na segunda metade da música a banda entra e ele muda para o violão.

Há mais de vinte anos, Paul é acompanhado por Rusty Anderson e Brian Ray nas guitarras, Wix Wickens nos teclados e Abe Laboriel Jr na bateria. Desta vez, participa também o trio Hot City Horns, com sopros que dão significativa contribuição a noite. Sólidos, estão em cena para facilitar as coisas para o “chefe”. Ele canta, toca, tem breves trocas com o público e, sempre, sempre, se diverte. Não há carrancas ou gestos pomposos, não há nada que tire Paul do seu “humor”, daquela calma que já é uma marca registrada dele.

Mas vamos voltar ao início. “Drive My Car” (ou "She's a woman") e “Got to Get You Into my Life” seguem o caminho dos Beatles. Paul coloca todas as suas músicas em pé de igualdade e traz músicas dos anos 60 seguidas de outras recentes, como “Come on to me”, de 2018. “Let me Roll it” e “Getting Better”, por um momento, conseguem confundir a linha divisória entre a reta final dos Beatles e os primeiros anos dos Wings. Toda esta primeira parte da viagem no tempo que Paul propõe chega ao fim depois de “Let 'em in”, quando ele dedica a balada “My Valentine” à sua esposa, Nancy Shevell, que acompanhou o show em Buenos Aires.

São quatro músicas do grande álbum do Wings, "Band on the Run". Além da que dá nome ao disco, há “Nineteen Hundred and Eighty-Five”, “Jet” e “Maybe I'm Amazed”, um dos primeiros clássicos pós-Beatles que todos sabemos ter sido dedicada a Linda McCartney. E aqui a viagem no tempo volta à primeira estação, com “I’ve Just Seen A Face” e “In Spite of all The Danger” (“Esta foi a primeira música que os Beatles gravaram”, explica). Ele decide fechar o trecho com “Love me do”, cantada por todo o estádio em modo hino, da mesma forma que mais a frente vai acontecer com “Get Back”, “Let it be” e “Hey Jude”.

Da gênese dos Beatles, Paul decide nos levar para uma balada deste milênio, “Dance Tonight”. Logo depois ressurge sozinho, tão sozinho quanto um homem pode estar em palco, apenas com seu violão, para cantar “Blackbird” com o coro espontâneo de milhares de almas. Paul, em uma plataforma, sobe à medida que a música avança, como se fosse alcançar o céu.

Se há uma música que muitos esperavam que ele tocasse desta vez é “Now and Then”, a música dos Beatles resgatada, concluída e lançada há apenas um ano. Em seguida vem “New”, outra peça deste século; e as simples mas eficazes “Lady Madonna” e “Jet”. E também há um lugar reservado (ou dois) para a psicodelia dos Beatles: “Being for the Benefit of Mr. Kite" encontra seu lugar logo antes de “Something”.

“Obla Di Obla Da” é inescapável, e também são “Band on the Run”, “Get Back” e aquele hino universal que é “Let it be”. Dali saímos com os fogos de artifício que acompanham “Live and Let Die” do lado de fora do estádio e, logo em seguida, “Hey Jude”.

O bis traz "I've Got a Feeling", "Hi Hi Hi", "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" e "Helter Skelter" Normalmente, neste ponto de um show que já passou de duas horas e meia, muitos optam por sair devagar para ganhar a rua antes dos demais. Mas no show de Paul, todos querem esperar a triáde final de “Golden Slumbers”, “Carry That Weight” e “The End”. Assim termina a noite que pode não trazer grandes surpresas, mas é sempre repleta de emoção.

Veja o possível setlist

"Can't Buy Me Love" (ou "A hard day's night")

"Junior's Farm"

"Letting Go"

"Drive My Car" (ou "She's a woman")

"Got to Get You Into My Life"

"Come On to Me"

"Let Me Roll It"

"Getting Better"

"Let 'Em In"

"My Valentine"

"Nineteen Hundred and Eighty-Five"

"Maybe I'm Amazed"

"I've Just Seen a Face"

"In Spite of All the Danger"

"Love Me Do"

"Dance Tonight"

"Blackbird"

"Here Today"

"Now and Then"

"New"

"Lady Madonna"

"Jet"

"Being for the Benefit of Mr. Kite!"

"Something"

"Ob-La-Di, Ob-La-Da"

"Band on the Run"

"Get Back"

"Let It Be"

"Live and Let Die"

"Hey Jude"

"I've Got a Feeling"

"Hi, Hi, Hi"(ou "Birthday")

"Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)"

"Helter Skelter"

"Golden Slumbers"

"Carry That Weight"

"The End"