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Novas instituições ampliam a importância de Fortaleza como centro cultural e incrementam turismo

Capital cearense ganhou recentemente equipamentos como o Museu da Fotografia, a Pinacoteca, a Kuya e o renovado MIS-CE

Agência O Globo - 06/10/2024
Novas instituições ampliam a importância de Fortaleza como centro cultural e incrementam turismo

Quarta cidade do Brasil em termos populacionais, atrás apenas de São Paulo, Rio e Brasília, segundo o Censo Demográfico 2022 do IBGE, Fortaleza vem consolidando sua importância também como capital cultural, graças a equipamentos inaugurados nos últimos anos, modificando o perfil do turismo na região. Se antes os viajantes passavam poucos dias na cidade ou mesmo seguiam para outros destinos do estado direto do aeroporto, como Jericoacoara, Canoa Quebrada, Praia de Flecheiras ou Aquiraz (município da região metropolitana onde fica o Beach Park), agora reservam um período na capital para conhecer as atrações culturais.

Além de espaços tradicionais, como o Museu do Ceará, a Caixa Cultural e o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, a cidade ganhou equipamentos, como o Museu da Fotografia Fortaleza (MFF), inaugurado em 2017; o novo Museu da Imagem e do Som (MIS), que teve o prédio original reformado e ganhou um edifício anexo, aberto em 2022; e a Pinacoteca do Ceará e a Kuya – Centro de Design do Ceará, que integram o Complexo Cultural Estação das Artes Belchior, incluindo ainda o Museu Ferroviário e o Mercado AlimentaCE. Criados a partir da reforma e da a modernização da antiga Estação Ferroviária João Felipe, datada de 1880, os dois centros culturais — vinculados à Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult CE), e gestão em parceria com a organização social (OS) Instituto Mirante — se ligam por meio de um grande largo para pedestres, em um espaço revitalizado no Centro da cidade. No local, são realizadas apresentações musicais e de artes cênicas, entre outros eventos, que se somam à programação gratuita dos equipamentos.

— Esse desenho vem da estrutura dos antigos galpões e dos trilhos do trem, que cruzavam a praça. A disposição dos prédios facilita o diálogo entre as instituições e a interação dos públicos — comenta o artista e arquiteto Rian Fontenele, diretor da Pinacoteca do Ceará. — Além da programação dos espaços, essa grande esplanada permite uma ocupação mais consistente da região central, é comum ver crianças brincando à noite, aulas de dança, de capoeira. Cada museu é um espaço social, além de cultural, que permite um aprendizado coletivo e de reflexão crítica.

A oferta de espaços culturais na cidade será ampliada com o Complexo Cultural Yolanda e Edson Queiroz, cujo prédio que abrigará um museu tem previsão de inauguração em setembro de 2025. E se conecta com outros instituições públicas inauguradas recentemente no interior, a exemplo do Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, aberto ao público em abril de 2022 numa área de 50 mil metros quadrados, no Crato, a 540 quilômetros da capital.

— Fortaleza hoje rivaliza com outros centros culturais do Nordeste, como Recife e Salvador. Tem muita divulgação boca a boca, muita gente que vem hoje já chega à cidade sabendo dos espaços e reserva parte da estada para conhecê-los. Nosso público é formado de 30% a 40% por turistas — conta o empresário e colecionador Silvio Frota, fundador do Museu da Fotografia Fortaleza.

Museu da Imagem e do Som

Ocupando desde 1996 um casarão de 1951 no bairro Meireles, o Museu da Imagem e do Som do Ceará teve sua sede reformada entre 2018 e 2022, quando também foi construído um anexo de cinco andares no terreno ao lado. Também vinculado à Secult-CE e gerido pelo Instituto Mirante, o espaço abriga um acervo de mais de 160 mil itens, em mídias como fotos, películas, magnéticos, discos e impressos.

Além das áreas de preservação, o MIS conta com espaços expositivos s e uma sala imersiva que, até dezembro, mantém em cartaz a exposição “Aves do Ceará”, do duo VJ Suave. Em 21 de setembro, foi inaugurada a mostra “Thomaz Farkas — A beleza diante dos olhos”, celebrando o centenário do fotógrafo húngaro radicado no Brasil, que morreu em 2011.

— Nosso grande desafio é conciliar a preservação e difusão do acervo do museu com a reflexão sobre o audiovisual produzido hoje, em suas mais variadas formas — destaca o diretor do MIS-CE, Silas de Paula.

Pinacoteca do Ceará

Criada para abrigar a coleção de arte do governo do estado, a Pinacoteca do Ceará remonta a um projeto de 1940, quando artistas locais já pleiteavam a criação de um espaço para manter o acervo público local.

Em mais de 9.200 metros de área construída, em projeto assinado pelo arquiteto português José Manuel Carvalho Araújo, o equipamento conta com espaços expositivos flexíveis, auditório, uma ampla reserva técnica e área de restauração, e abriga o Museu Ferroviário Estação João Felipe em seu interior. Entre as mostras em cartaz, estão “Síntese: arte e tecnologia na Coleção Itaú” e “Claudia Andujar. Minha vida em dois mundos”.

— Além de levantar reflexões, há um compromisso formativo que nos diferencia como espaço público — observa Rian Fontenele. — Nesse período, já tivemos mais de 180 mil visitantes e chegamos a receber mais de três mil pessoas num dia, números expressivos para qualquer centro cultural do país.

Museu Fotografia Fortaleza

Então colecionador de pinturas, o empresário Silvio Frota comprou sua primeira foto em 2009, em Houston (EUA), a “Garota afegã”, retrato de Sharbat Gula clicado por Steve McCurry para a capa da National Geographic. A partir de então, formou um dos maiores acervos privados de fotos do país, a coleção Paula e Silvio Frota, hoje com cerca de quatro mil obras. Desde 2017, parte do conjunto é exibido gratuitamente ao público, no Museu da Fotografia Fortaleza, no bairro da Varjota.

Em três andares, abriga uma exposição permanente atualizada a cada dois anos e mostras temporárias. A instituição é mantida com recursos próprios, e mantém projetos sociais em outras 50 cidades do estado, envolven- do 70 mil crianças por ano.

— Além da importância cultural, o museu é uma âncora para os programas sociais e de educação. E colabora com a ampliação do acervo, já que geralmente as obras das mostras temporárias são adquiridas, como no caso de Bob Wolfenson e Walter Carvalho — diz Frota.

Kuya – Centro de Design do Ceará

Eleita pela Unesco em 2019 como Cidade Criativa em design, junto a outros 65 centros de excelência pelo mundo, Fortaleza criou um espaço para valorizar o setor. Inaugurada em dezembro de 2022, a Kuya – Centro de Design do Ceará, tem sede ao lado da Pinacoteca, abrigando área expositiva, auditório, ateliês, laboratórios e escritórios compartilhados.

Sua atuação parte de quatro eixos: design decolonial, ecoeficiente, político e regenerativo (que visa a ações para recuperar o planeta). Além dos processos formativos, a instituição promove o mapeamento da produção autoral, pesquisas históricas e de inovação, cria grupos de debate sobre design e gestão pública e programas de mentorias para o desenvolvimento de novos produtos ou para soluções de tecnologia social. Em outubro, estão em cartaz as exposições “Tipos latinos” e “Desvãos —Passado/presente no design cearense”, além de programação especial para o mês das crianças.

Nelson Gobbi viajou a convite do Instituto Mirante