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Conheça a origem e como funcionam os foguetes Katyusha, usados pelo Hezbollah em ataque contra Israel

Grupo assumiu ataque e afirmou ter lançado centenas de foguetes e drones em retaliação pelo assassinato de um de seus principais comandantes em Beirute no mês passado

Agência O Globo - 27/08/2024
Conheça a origem e como funcionam os foguetes Katyusha, usados pelo Hezbollah em ataque contra Israel

Israel lançou uma onda de ataques aéreos no sul do Líbano na madrugada deste domingo. Segundo autoridades do Estado judeu, a ofensiva ocorreu de maneira preventiva, após a identificação de planos do Hezbollah para realizar “grandes ataques” no centro e no sul do território israelense. O grupo xiita libanês, por outro lado, disse ter lançado centenas de foguetes e drones contra Israel em retaliação pelo assassinato de um de seus principais comandantes em Beirute no mês passado.

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A ação foi marcada pela utilização dos foguetes Katyusha, com 340 deles tendo sido lançados contra 11 posições militares no norte de Israel e nas Colinas de Golã anexadas. O Hezbollah disse que o ataque foi uma "resposta inicial" ao assassinato de Fuad Shukr, comandante que orquestrou um ataque às Colinas do Golã que matou 12 pessoas em julho.

Segundo a Universidade Técnica Nacional da Ucrânia, trata-se da mais famosa arma da Segunda Guerra Mundial, tendo sido, inclusive, "homenageada" por escritores e poetas. Segundo a entidade, a autoria do projeto, no entanto, é uma incógnita, uma vez que um projeto de longo prazo, feito por diversas pessoas.

"No primeiro estágio foi decidida a questão-chave da geração de combustível para mísseis de foguete. Neste caso, era pólvora coloidal sem fumaça. No segundo estágio, o míssil foi projetado. O míssil foi feito e testado antes da guerra, mas foi usado na aeronave para destruir alvos de aviação e terrestres. Uma conclusão foi feita a partir do uso dos mísseis de foguete de que não há apenas benefícios, esses mísseis têm muitas desvantagens", explica a universidade.

Segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, sigla em inglês), Katyusha era originalmente um lançador múltiplo de foguetes montado em caminhão, lançado pela União Soviética em 1939. Atualmente, contudo, há uma enorme variedade de modelos reconfigurados, com alcances que variam de 3,2km a 11,2km de distância.

"Os foguetes de menor alcance podem transportar ogivas de até 29kg, enquanto os foguetes de maior alcance podem transportar ogivas de até 4,98kg. Em comparação com o Katyusha montado em caminhão soviético, o Hezbollah não tem muitos lançadores múltiplos de foguetes (MRLs), então o Katyusha é frequentemente disparado um de cada vez", explica o CSIS.

Desenvolvimento

Antes da Segunda Guerra Mundial, segundo a Universidade Técnica Nacional da Ucrânia, os protótipos tinham muita dificuldade em atingir o alvo com apenas um míssil, problema que seria corrigido nos modelos seguintes. A segunda etapa do desenvolvimento ocorreria no Laboratório de Dinâmica de Gás (GDL), onde foi aprimorado o "processo tecnológico de produção de bombas de pólvora" e o estudo das "suas capacidades balísticas".

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Neste momento, seria desenvolvido "um extenso trabalho na criação de mísseis de diversos calibres, finalidades e aplicações", a partir de melhorias nos lançadores, como "número e comprimento dos tubos [de disparo], o número de projéteis [capacidade], a composição da pólvora e, o mais importante, os meios de estabilização dos mísseis em voo". Em 1930, foram iniciados os testes com projéteis com calibre 82mm e 132mm, com os disparos realizados de aeronaves sendo testados dois anos depois

Durante a terceira etapa, o GDL passou por uma série de modificações em seu pessoal, inclusive com o chefe do local e seu vice sendo presos e fuzilados, em 1937. Mesmo assim, o trabalho prosseguiria, com um avanço significativo já no ano seguinte, quando um novo modelo apresentaria capacidade de disparo de uma salva de 24 foguetes.

"Na segunda metade de 1938, graças à combinação bem-sucedida de um projétil de foguete químico com uma unidade de salva instalada em um veículo, foi traçado um caminho para o uso generalizado e muito eficaz de projéteis de foguete em condições terrestres", celebrou o então novo chefe da GAU, B.M. Slonimer.

Temores crescentes

Nas últimas semanas, diplomatas dos Estados Unidos e de países europeus realizaram uma série de visitas a Israel e ao Líbano na tentativa de conter a escalada que temem que possa se transformar numa guerra regional. O Hezbollah tem trocado tiros transfronteiriços quase diários com as forças israelenses desde que a guerra em Gaza teve início, há dez meses. Apesar da crescente tensão e das ameaças constantes, Randa Slim, pesquisadora do Instituto do Oriente Médio, disse à Associated Press que a ofensiva deste domingo ainda estava “dentro das regras” e que, neste momento, “é improvável que leve a uma guerra total”.

O Hezbollah lutou contra Israel em 2006, e, de lá para cá, o grupo passou a ser mais poderoso. Washington e Tel Aviv estimam que o movimento libanês tenha cerca de 150 mil foguetes e seja capaz de atingir qualquer lugar dentro do território israelense. O grupo também desenvolveu drones capazes de evadir as defesas de Israel, além de munições guiadas de precisão. O Estado judeu, por sua vez, tem um dos melhores Exércitos do mundo, com um sistema de defesa antimísseis em várias camadas, e conta com o apoio americano, que o ajudou a derrubar centenas de mísseis e drones disparados pelo Irã no início deste ano.

Israel prometeu responder fortemente em caso de uma guerra total, publicou a AP. Nesse cenário, é esperado que a infraestrutura civil seja demolida, especialmente no sul de Beirute e no sul do Líbano, onde estão localizadas as principais fortalezas do Hezbollah. Um conflito desta dimensão deslocaria centenas de milhares de pessoas de ambos os lados. Até agora, os ataques em ambos os lados da fronteira iniciados em outubro passado deixaram 26 civis e 19 soldados israelenses mortos. Do lado libanês, o Hezbollah anunciou cerca de 494 óbitos, a maioria combatentes, mas também 95 civis.

Sob a orientação do presidente Joe Biden, “altos funcionários dos EUA têm se comunicado continuamente com seus homólogos israelenses”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Sean Savett, em comunicado. “Continuaremos a apoiar o direito de Israel de se defender e de trabalhar pela estabilidade regional”, acrescentou. À AFP, uma autoridade de Defesa americana disse que Washington ajudou Israel a rastrear a série de foguetes e drones lançados pelo Hezbollah, mas não teve envolvimento nos ataques do Estado judeu no Líbano.

Os ataques deste domingo ocorreram enquanto o Egito sedia negociações de alto nível com objetivo de alcançar um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Os Estados Unidos e outros mediadores veem o acordo como fundamental para evitar uma escalada das hostilidades no Oriente Médio. Neste domingo, uma autoridade do Hezbollah disse que o ataque do grupo contra Israel foi feito de modo contido para não desencadear uma guerra em larga escala, adiada por “considerações políticas”, levando em conta as negociações em andamento.

Apesar do ataque, a delegação israelense deverá participar das conversas no Egito neste domingo, conforme o planejado, publicou o jornal israelense Haaretz. A decisão de enviar a delegação à cúpula no Cairo pode indicar que Israel considera que a escalada na fronteira foi concluída.

(Com AFP e New York Times)