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Morre Alain Delon: relembre 10 filmes estrelados pelo ator

Artista brilhou em clássicos como 'O sol por testemunha' (1960) e 'Cidadão Klein' (1976)

Agência O Globo - 18/08/2024
Morre Alain Delon: relembre 10 filmes estrelados pelo ator

O astro Alain Delon morreu neste domingo, aos 88 anos. O falecimento foi anunciado em um comunicado divulgado pelos filhos. Durante a carreira, Delon estrelou clássicos, ganhou prêmios e consagrou seu nome entre os maiores da sétima arte. Um dos maiores galãs história do cinema, o ator, que considerava o envelhecimento algo doloroso, ficou debilitado após sofrer um AVC, em 2019.

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“Alain Fabien, Anouchka, Anthony, assim como (seu cachorro) Loubo, têm a imensa tristeza de anunciar a partida de seu pai. Ele faleceu pacificamente em sua casa em Douchy, cercado por seus três filhos e sua família (...)A família pede gentilmente que sua privacidade seja respeitada neste momento extremamente doloroso de luto", diz a nota.

Desde sua presença magnética em "O Sol por Testemunha" até seus papéis como gângster irresistível, aqui estão dez filmes emblemáticos estrelados por Alain Delon:

'O Sol por Testemunha' (1960)

Este filme de René Clément é uma adaptação do romance "O Talentoso Ripley", da americana Patricia Highsmith. Delon, que na época ainda não era uma estrela, interpreta Tom Ripley, um personagem maquiavélico que mata um homem rico para roubar sua identidade. Um remake hollywoodiano foi filmado em 1999 ("O Talentoso Ripley").

'Rocco e Seus Irmãos' (1960)

Um clássico do neorrealismo italiano. Graças a este melodrama de Luchino Visconti, que estava fascinado por Delon, o ator se tornou conhecido além das fronteiras da França.

O filme narra as dificuldades da vida de Rosaria e seus quatro filhos que fogem da miséria do sul da Itália para Milão. O filme ganhou o Leão de Prata no Festival de Veneza.

'O Leopardo' (1963)

Adaptado do romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, este filme de época de Visconti ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Narra o declínio da aristocracia nos anos 1860 e inclui uma cena de dança lendária. Delon encarna a elegância com seu fino bigode e o cabelo penteado de lado. O casal que ele forma com Claudia Cardinale entra para a história do cinema.

'O Samurai' (1967)

Esta primeira colaboração com Jean-Pierre Melville é uma das obras-primas da filmografia do ator, que encarna o assassino solitário Jef Costello.

Inexpressivo e obcecado por controle, com seu olhar frio, seu sobretudo e chapéu: esse é o personagem mítico que Delon interpreta.

A colaboração Delon-Melville resultou em outra obra-prima, "O Círculo Vermelho" (1970).

'A Piscina' (1969)

A meio caminho entre o gênero policial e o drama, este filme de Jacques Deray, de um erotismo ardente, marcou o reencontro entre Delon e Romy Schneider, com quem ele havia formado um famoso casal na vida real. Embora não tenham se reconciliado sentimentalmente, a carreira dela, então em declínio, voltou a decolar.

O casal frequenta aquela piscina na Costa Azul, mas também Maurice Ronet e Jane Birkin. Delon disse mais tarde: "Este filme eu não consigo rever. É muito doloroso ver Romy e Maurice rindo às gargalhadas novamente", disse em alusão aos atores já falecidos na época.

'Os Sicilianos' (1969)

O filme policial de Henri Verneuil reuniu três estrelas do cinema francês: Delon, Jean Gabin e Lino Ventura. Uma cena de sutil erotismo entrou para os anais da história do cinema: quando o atraente Delon mata uma enguia que acaba de pescar batendo-a nas pedras, sob o olhar da atriz Irina Demick, que se bronzeia nua.

'Cidadão Klein' (1976)

"Há tantas coisas minhas neste filme: meu amor por pinturas, a relação ambígua com as pessoas, essa espécie de jogo em que sou o Sr. Klein sem saber por que", afirmou o ator.

Neste filme de Joseph Losey, Delon interpreta Robert Klein, um rico comerciante de arte que em 1942 compra obras que pertenciam a judeus.

O pôster com o rosto de Delon emoldurado por uma estrela amarela chocou o público da época. O filme saiu de mãos vazias do Festival de Cannes, antes de ser apresentado em uma cópia restaurada em 2019, durante a entrega da Palma de Honra ao ator, então com 83 anos.

'Três Homens para Matar' (1980)

Dirigido por Jacques Deray, este filme abre uma série de filmes policiais populares que Delon encadeou nos anos 1980, com mais ou menos sucesso. De qualidade variável, esses filmes permitiram que Delon se tornasse conhecido por uma geração mais jovem graças às suas reprises na televisão.

'Quartos Separados' (1984)

Delon só ganhou um César de melhor ator (o Oscar francês) por seu papel nesta comédia dramática de Bertrand Blier sobre o encontro a bordo de um trem entre Robert, um quarentão desiludido, e Donatienne, uma jovem desencantada (Nathalie Baye).

Embora o filme não tenha entusiasmado o público, a crítica saudou a aposta arriscada de Delon, interpretando um personagem frágil, alcoólatra, bem diferente do homem forte de seus papéis anteriores.

'Asterix nos Jogos Olímpicos' (2008)

Secundário na filmografia de Delon, este filme é sobretudo simbólico. O ator, muitas vezes ridicularizado na França por seu ego superdimensionado e seu hábito de falar de si mesmo na terceira pessoa, ri de si mesmo no papel de Júlio César.

“César teve sucesso em tudo, conquistou tudo, é um leopardo, um samurai, não conta nada a ninguém, nem a Rocco, nem a seus irmãos, nem ao clã dos sicilianos... Ave eu!”, exclama no filme.

Quem era Alain Delon?

Alain Fabien Maurice Marcel Delon nasceu no dia 8 de novembro de 1935, em Sceaux, Hauts-de-Seine, na França. Quando jovem, trabalhou como aprendiz de açougueiro com seu pai. Abandonou os estudos aos 15 anos e, aos 17, se alistou na marinha francesa e lutou na Guerra da Indochina. Dispensado em 1955, ele se mudou para Paris pouco depois e passou a fazer pequenos trabalhos como porteiro, garçom e vendedor.

No mundo dos bicos e dono de uma beleza inconfundível, conheceu e se relacionou com jovens nomes da cena cultural da França. Desenvolveu uma amizade com Jean-Claude Brialy, um dos atores de maior destaque no cinema francês no final dos anos 50. Em 1957, Brialy convida o jovem Delon, então com 21 anos, para visitar o Festival de Cannes. Anos mais tarde, Brialy confidenciou ter ficado enciumado com a presença do amigo na Riviera francesa. Ele, um astro, parecia despertar bem menos interesse do que aquele jovem desconhecido. Em Cannes, Delon foi convidado pelo lendário produtor David O. Selznick (“E o vento levou”, de 1939) para tentar uma carreira em Hollywood. Ele só precisaria aprender a falar inglês.

Ainda que tenha pensado em seguir carreira nos Estados Unidos, no mesmo ano, o ator conheceu o diretor francês Yves Allégret e foi escalado para seu primeiro projeto nos cinemas: “Uma tal condessa” (1957). No ano seguinte, Delon foi contratado para “Basta ser bonita” (1958), de Marc Allégret, irmão mais velho de Yves, e para “Cristina” (1958), de Pierre Gaspard-Huit, que marcou seu primeiro papel como protagonista.

Em “Cristina”, o ator contracenou com a atriz austríaca Romy Schneider (1938-1982). Os dois iniciaram um relacionamento durante as filmagens e permaneceram juntos por cinco anos. Delon e Schneider formaram um dos mais belos casais do cinema, despertando a atenção do público e da imprensa.

“Esta noite, mais do que o fim de uma carreira, acho que é o fim de uma vida. É uma espécie de homenagem póstuma… em vida. Quando comecei, me falaram que o mais difícil era durar. Eu durei 62 anos (de carreira). Mas agora eu sei que o que é difícil é partir. E vou partir, mas não sem antes agradecer. (...) Se hoje eu sou uma estrela, devo ao público e a mais ninguém.” Estas foram as palavras de Alain Delon ao receber uma Palma de Ouro honorária no Festival de Cannes de 2019, poucas semanas antes de sofrer um AVC que o deixaria debilitado.

Disputas na família e proteção judicial

As especulações sobre a saúde da lenda do cinema foram sucedidas por revelações bombásticas sobre as disputas entre os seus filhos. A primeira faísca ocorreu no início de janeiro, quando Anthony acusou sua meia-irmã, Anouchka de "abuso de vulnerabilidade em relação" a seu pai". Ele também alegou que ela “mentiu” e “ manipulou” o restante da família. Segundo Anthony, Anouchka teria ocultado os resultados de testes cognitivos que os médicos suíços realizaram em seu pai.

Delon anunciou que iria processar o filho mais velho por estas declarações, criticando um "escândalo midiático" e a intenção de prejudicar a ele e à filha. Anouchka, por sua vez, anunciou uma denúncia contra Anthony por difamação, ameaças e assédio. A advogada de Delon afirmou que o ator estava furioso com a “tempestade midiática” criada pelo seu filho mais velho.

Anthony se defendeu, dizendo que a desavença não era pela herança do pai e sim por quem iria ficar com ele em sua última fase da vida. "Tudo isso (a herança) já está resolvido", disse Anthony. "Minha irmã tem 50% de toda fortuna de meu pai. Meu irmão (Alain-Fabien) e eu temos o que se chama de parte da reserva, ou seja, 25%", disse o primogênito, acrescentando que ele e o irmão queriam que a vontade do pai de permanecer em sua residência em Douchy-Montcorbon, na França, seja respeitada.

Tida como a filha favorita de Delon, Anouchka defendia o retorno do pai à Suíça, onde tem residência administrativa e possui nacionalidade desde 1999. Segundo ela, a permanência de Delon na França o faria ser "novamente considerado um cidadão francês", o que implicaria "um enorme imposto" post mortem. No final de 2023, Anouchka já não havia comparecido à ceia da família Delon em Douchy-Montcorbon. Segundo Anthony, o seu pai teria dito que este seria seu último Natal.

Em meio à disputa entre seus filhos, Alain Delon foi colocado sob "proteção judicial reforçada" por um juiz em abril deste ano.

Segundo a agência de notícias AFP, o ator foi posto sob proteção judicial em janeiro com o objetivo de "realizar um acompanhamento médico" e esta medida levou a uma tutela "reforçada", decretada em 4 de abril. Com a tutela reforçada, Delon passou a ter um tutor administrando sua conta bancária e pagando por suas despesas.