Internacional

Líder da extrema direita de Israel leva comitiva à Esplanada da Mesquita e judeus e muçulmanos criticam 'provocação'

Ministro de Segurança Interna de Israel, Itamar Ben Gvir, afirmou que judeus têm direito de fazer orações em área sagrada administrada por autoridades islâmicas

Agência O Globo - 13/08/2024
Líder da extrema direita de Israel leva comitiva à Esplanada da Mesquita e judeus e muçulmanos criticam 'provocação'

O ministro de Segurança Interna de Israel, Itamar Ben Gvir, integrante da ala mais radical do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, liderou uma comitiva com centenas de apoiadores judeus para orações na Esplanada das Mesquitas (também chamado de Monte do Templo), área na Cidade Antiga de Jerusalém que abriga tanto vestígios do antigo templo judaico, local sagrado para os judeus, quanto a Mesquita de al-Aqsa, terceiro local mais sagrado para o Islã. O ato foi denunciado por países muçulmanos e líderes políticos israelenses, incluindo de partidos religiosos, como uma provocação que coloca o país e a região em risco.

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A Esplanada das Mesquitas fica localizada em Jerusalém Oriental, região ocupada e anexada por Israel em 1967. Apesar de estar em um território sobre o qual o governo israelense exerce soberania, uma série de acordos concedeu o controle da região a autoridades islâmicas, que administram a área. A segurança dentro da esplanada é de responsabilidade do WAQF, um órgão de segurança jordaniano, e o acesso de praticantes de outras religiões, incluindo judeus, é permitido em horários específicos, sendo vedada a realização de orações e a exibição de símbolos religiosos.

A administração da região por autoridades islâmicas é motivo de tensões entre nacionalistas religiosos e palestinos há décadas. Grupo religiosos judaicos exigem o direito de rezar no local do Monte do Templo, demolido pelos romanos em 70 d.C. — uma bandeira que Ben Gvir se apropriou e utiliza para atrair seguidores. Em tempos recentes, as tensões evoluíram para confrontos violentos.

Nesta terça, o grupo liderado pelo radical — e pelo também ministro Yitzhak Wasserlauf, parceiro de Ben Gvir na coalizão Poder Judaico — tinha cerca de 2.250 pessoas, segundo um funcionário da WAQF ouvido pela AFP. O grupo caminhou pela esplanada durante o dia de luto judaico de Tisha Be'Av, que marca a destruição do antigo templo, cantando hinos religiosos em voz alta, escoltados pela polícia israelense.

Ainda de acordo com o funcionário do WAQF ouvido pela agência francesa, os policiais israelenses também impuseram restrições a fiéis muçulmanos que tentaram entrar na Esplanada das Mesquitas enquanto o grupo de judeus estava no local.

— O ministro Ben Gvir, em vez de manter o status quo na mesquita, está supervisionando a operação de judaização e tentando mudar a situação dentro da mesquita de Al-Aqsa— disse o funcionário sob condição de anonimato.

Em um vídeo publicado em suas contas nas redes sociais, o ministro aparece caminhado ao lado do Domo de Pedra, acompanhado de alguns apoiadores. Fotos do local também mostram integrantes da comitiva fazendo orações talmúdicas no chão da Esplanada. Em fala registrada pelo jornal Times of Israel, Ben Gvir defendeu a comitiva.

— A política do ministro da Segurança Nacional é permitir a liberdade de culto para os judeus em todos os lugares, incluindo o Monte do Templo, e os judeus continuarão a fazê-lo no futuro também — disse. — O Monte do Templo é uma área soberana na capital do Estado de Israel. Não há lei que permita o envolvimento em discriminação racista contra judeus no Monte do Templo ou em qualquer outro lugar em Israel.

A ação liderada pelo ministro foi condenada dentro e fora de Israel. Opositores e mesmo líderes de partidos religiosos chamaram a ação de Ben Gvir de provocação, chamando atenção para as questões de segurança em um momento delicado para a região, em meio a uma tentativa de retomada das negociações internacionais e a iminência de um ataque do Irã.

Moshe Gafni, líder de uma coalizão ultraortodoxa no Parlamento, disse que Ben Gvir não se importa com o "dano à santidade do Monte do Templo e ao status quo", alegando que ele está causando imensos danos à nação judaica e causando ódio desnecessário. O Ministro de Assuntos Religiosos, Michael Malkieli, integrante do partido Shas reiterou a posição do Rabinato Chefe contra visitas judaicas ao local devido à sua santidade, acrescentando que também é “uma provocação desnecessária às nações ao redor do mundo.”

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O ex-primeiro-ministro Yair Lapid, que lidera a oposição de centro-esquerda, afirmou que os interesses eleitorais do ministro colocam o país em risco.

— A campanha eleitoral de Ben Gvir no Monte do Templo, que vai completamente contra a posição dos oficiais de segurança, durante uma guerra, está colocando em risco as vidas dos cidadãos israelenses e as vidas de nossos soldados e policiais —disse Lapid. — O bando de extremistas irresponsáveis ​​no governo está tentando arrastar Israel para uma guerra regional total.

Países de maioria árabe que têm desempenhado papéis moderados desde o início da guerra entre Israel e Hamas em Gaza, incluindo Egito e Jordânia, também classificaram o ato como uma provocação.

"A República Árabe do Egito condena a invasão dos pátios da Mesquita de al-Aqsa por dois ministros israelenses, membros do Knesset de Israel, centenas de colonos e extremistas, e o hasteamento da bandeira israelense, sob a proteção da polícia israelense, enquanto fiéis palestinos foram impedidos de entrar em Al Aqsa", disse o Ministério das Relações Exteriores do Egito em uma declaração, que chamou o ato de “comportamento irresponsável e provocativo”.

O governo da Jordânia também se manifestou de forma oficial, condenando veementemente a ida dos ministros israelenses, e citando também o deputado Amit Halevi, do Likud, partido de Netanyahu, que participou da comitiva. Os três foram chamados de "extremistas" por um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Amã.

"[A visita] reflete a insistência do governo israelense e seus membros extremistas em desconsiderar a lei internacional e as obrigações de Israel como potência ocupante", diz a declaração.(Com AFP)