Política

PT arma contra-ataque à tentativa de onda bolsonarista no Senado em 2026

Conversas sobre as disputas deverão avançar depois das eleições municipais

Agência O Globo - 13/08/2024
PT arma contra-ataque à tentativa de onda bolsonarista no Senado em 2026

Com o foco do ex-presidente Jair Bolsonaro em ampliar espaço no Senado em 2026, o PT e partidos aliados planejam o contra-ataque e desenham uma estratégia para conter os planos da oposição. Além do risco de ver adversários ganhando espaço, a iniciativa dos governistas também parte do entendimento de que a base na Casa é frágil, com partidos que, apesar de terem indicado ministros, não costumam ser fiéis aos desejos do Executivo em todas as votações.

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Dois terços do Senado serão renovados daqui a dois anos, e a expectativa de bolsonaristas é ter maioria na Casa, algo que o PT tenta evitar. As conversas sobre as disputas deverão avançar depois das eleições municipais.

Há, no entanto, nomes que já trabalham não só para tentar conseguir o cargo, como também para tirar vagas de oposicionistas que estão no Senado e devem tentar a reeleição no próximo pleito.

Um exemplo disso acontece no Acre, onde o bolsonarista Marcio Bittar (União Brasil) e o senador Sergio Petecão (PSD) precisarão renovar os mandatos. Lá, o ex-governador Jorge Viana deve concorrer ao cargo. O petista, que hoje comanda a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), já foi senador e ocupou a vice-presidência da Casa.

Outro estado onde também há petistas se movimentando é o Ceará. Eleito em uma onda bolsonarista em 2018, o senador Eduardo Girão (Novo) está em fim de mandato e precisará ir às urnas novamente para continuar no posto. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), tem falado abertamente sobre a intenção de concorrer a senador.

Presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR) reforça que a legenda se preocupa em ganhar mais terreno no Congresso — a situação também não é confortável na Câmara, que já impôs uma série de derrotas ao Palácio do Planalto.

— Não basta eleger o presidente da República, precisamos ter representação boa no Congresso. Temos nomes no Senado e, onde tivermos divergências, vamos conversar, temos tempo para isso. Passada a eleição municipal, a gente começa a se dedicar a essa articulação.

Alianças são primeiro passo

Em alguns casos, as alianças fechadas pelo PT nas eleições de 2024 já são uma preparação de terreno. A legenda decidiu apoiar a reeleição do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), sem indicar o vice. Em troca, espera poder indicar um dos candidatos do grupo de Paes ao Senado daqui a dois anos.

Isso também aconteceu em Curitiba, onde Gleisi contrariou integrantes do PT no Paraná e travou a possibilidade de candidatura própria. Em vez disso, a sigla apoia Luciano Ducci (PSB), também sem indicar o vice. A ideia é que o gesto seja retribuído com o apoio do PSB ao PT em uma das vagas no Senado e ao governo do Paraná. A própria Gleisi, que já foi senadora, é cotada para disputar o cargo na Casa Legislativa.

Outros nomes avaliados pelo país são os dos ministros da Casa Civil, Rui Costa (PT), na Bahia; das Comunicações, Celso Sabino (União Brasil), no Pará; do Esporte, André Fufuca (PP), no Maranhão; e dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), em Pernambuco.

Mesmo sendo do PP, partido comandado pelo senador Ciro Nogueira (PI), que diz que vai fazer oposição a Lula na eleição de 2026, o ministro do Esporte disse que avalia disputar o Senado no palanque do petista:

— Se for (candidato), serei pelo lado de Lula.

Em Minas Gerais, PT e PSD devem fechar um acordo para que os petistas indiquem a vice de Rodrigo Pacheco (PSD) caso ele seja candidato a governador e fiquem com uma das vagas de candidato ao Senado. A prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), é cotada para um dos postos. No Distrito Federal, a deputada Erika Kokay (PT) tenta ser candidata ao Senado.

Ex-presidente do PT e ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu também tem participado do debate sobre a legenda. Em palestras, o petista tem feito alertas sobre a falta de base no Congresso.

— Devemos em cada estado optar por candidaturas viáveis, seja do PT ou aliados. O importante é garantir uma base de apoio segura no Senado para o segundo mandato de Lula — disse Dirceu ao GLOBO, ressaltando que se trata de análise individual, sem falar em nome do partido. — Essa estratégia deve ser construída desde já para 2026 no Recife, com a reeleição de Humberto Costa, e no Rio, com o apoio de Paes para eleger um senador ou senadora.

Concorrência interna

Além da disputa com bolsonaristas, os petistas devem enfrentar concorrência de integrantes do mesmo grupo político e até do mesmo partido. Rui Costa e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, disputam a indicação do PT na Bahia, assim como o ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macedo, e o senador Rogério Carvalho em Sergipe.

Ainda que em 2026 sejam duas vagas por estado, o PT tem acenado com a segunda vaga para atrair outros partidos.

Apesar de Macedo e Carvalho serem do mesmo partido, os dois têm posições opostas no estado. O ministro é próximo do governador Fabio Mitidieri (PSD), enquanto o parlamentar faz oposição.

No Ceará, por exemplo, além de Guimarães, há também outros nomes da base governista interessados na vaga, como o deputado Eunício Oliveira (MDB-CE), que já foi presidente do Senado, e o senador Cid Gomes (PSB), que pode disputar a reeleição.

Além de serem da base do governo federal, os três parlamentares também apoiam o governador Elmano de Freitas (PT), o que vai exigir do grupo local que seja feito um acordo para preencher as duas vagas disponíveis para o Senado.

Plano bolsonarista

Por outro lado, o bolsonarismo tem nomes fortes e espera eleger Michelle Bolsonaro (PL), no Distrito Federal ou outra unidade da federação, os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL) e Ricardo Salles (Novo) em São Paulo; Zucco (PL) no Rio Grande do Sul; além de reeleger o senador Flávio Bolsonaro (PL) no Rio.

Em 2022, quando um terço das vagas estava em disputa, muitos ex-ministros de Bolsonaro foram eleitos, como Tereza Cristina (PP-MS), Damares Alves (Republicanos-DF), Sergio Moro (União-PR) e Marcos Pontes (PL-SP).

A oposição vem trabalhando já nestas eleições municipais para conquistar maioria no Senado, com uma razão estratégica. É o Senado que recebe pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), agenda que o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tem travado. Parte da oposição defende o avanço de pautas que provocam desconforto à Corte, alegando que seria uma forma de reduzir o que classificam como "interferências" do Judiciário no Congresso.

Em 2026, dos 54 senadores que terão os mandatos encerrados, 18 são da oposição (sendo nove da tropa do ex-presidente) e 36 da base — é justamente nessa fatia maior que o bolsonarismo está de olho.

— Precisamos fazer o contraponto no Senado. Infelizmente, hoje nós não temos maioria, mas tenho certeza que, passando por 2024, elegendo o maior número de vereadores e prefeitos, retomaremos o poder central com Jair Bolsonaro — disse o senador Izalci Lucas (PL-DF) em convenção partidária do PL, em Luziânia, interior de Goiás, na semana passada.