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Cigarettes After Sex: ‘As pessoas me dizem que usam minha música para dormir, transar, dançar... ela serve pra muitas coisas!’, conta líder do grupo

Fenômeno viral do indie rock melancólico com seu trio, Greg Gonzalez fala de ‘som brasileiro de violão’ que ama e volta com disco de fim de namoro: ‘Foi algo realmente terapêutico’

Agência O Globo - 09/08/2024
Cigarettes After Sex: ‘As pessoas me dizem que usam minha música para dormir, transar, dançar... ela serve pra muitas coisas!’, conta líder do grupo

Por trás do sugestivo nome (“Cigarros após o sexo”), esconde-se um dos maiores fenômenos do rock alternativo mundial. Com 16 anos de existência, o grupo criado pelo vocalista e guitarrista texano Greg Gonzalez, 41, recentemente tornou-se uma espécie de religião, com suas canções lentas, melancólicas, atmosféricas e cinematográficas, muito próximas do tipo de música que fez o sucesso da cantora Lana Del Rey. Impulsionada pelo TikTok, “Apocalypse”, faixa de 2017, bateu ano passado a marca do bilhão de streams só no Spotify.

— São músicas genuínas e honestas sobre as coisas pelas quais passei — explica Greg, com sua voz quase irreal de tão grave, em entrevista por Zoom para falar do novo álbum do Cigarettes After Sex, “X’s”, lançado no último dia 12. — As pessoas costumam me dizer que usam minha música para dormir, para transar, para dançar... Acho que ela serve para muitas coisas porque é suave e melódica, música que você pode cantar junto. Não é apenas música atmosférica, são como as canções do pop dos anos 1950 e 1960, com refrões fortes. Só o que eu faço é botar nessas canções minhas letras pessoais.

“X’s”, como os outros álbuns da banda, nasceu da pena autobiográfica de Greg — só que desta vez com o estímulo de um dolorido fim de namoro.

— Acho que (compor de maneira autobiográfica) é algo que aprendi ao longo dos anos. No começo, não parecia natural, parecia algo meio intenso... e ainda é intenso! Mas descobri que é mais gratificante escrever dessa maneira — justifica-se. — A forma com que digo as coisas é algo realmente terapêutico, revelador para mim. E tenho sorte de as pessoas ouvirem as músicas e pensarem “uau, a minha vida é assim também!”.

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Uma das canções do disco, “Dreams form Bunker Hill”, o fez chorar o tempo inteiro.

— É a história de quando nos mudamos para o nosso primeiro apartamento, no Centro de Los Angeles, eu e a minha namorada daquela época, hoje ex-namorada. Eu meio que conto sobre todos os sonhos que tivemos juntos, os nossos planos, os pequenos momentos daqueles primeiros dias. Aí então tudo meio que desmoronou ao mesmo tempo, e isso é algo que meio me pega e traz de volta as memórias do que poderia ter sido.

Hoje, Greg Gonzalez diz se sentir muito melhor do que quando compôs as canções de “X’s”:

— Esse disco é resultado de um longo processo de separação, ele demorou muito para ser feito e é provavelmente o disco mais doloroso em que já trabalhei. Ele estava praticamente pronto no final do ano passado e aí pensei que poderia lançá-lo no verão (americano, que é o meio do ano), porque para mim ele é um tipo de disco de verão. Foi como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas.

Por causa do alto teor confessional, há quem compare a música do Cigarettes After Sex à de Taylor Swift (com quem Greg nunca esteve pessoalmente, embora saiba que a cantora incluiu o “Nothing's gonna hurt you baby” da banda em uma playlist).

— Acho ótimo. Eu estava pensando sobre isso outro dia, a Taylor me ganhou com “You belong with me”. As músicas dela são ótimas também porque ela vem daquele mesmo lugar country de onde eu venho, e porque ela tem uma narrativa muito pessoal — diz. — Os fãs ouvem esses detalhes nas músicas dela e veem as suas próprias vidas ali nas músicas. Já compus coisas que eu pensei serem muito pessoais, conversei com os fãs e eles disseram que era “exatamente a minha história”. E acho que Taylor tem essa mesma coisa.

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Em janeiro, o Cigarettes After Sex embarca em uma turnê mundial que passa por Hong Kong, Jacarta, Dubai, Mumbai, Cingapura...

— É incrível ver isso, quando comecei como músico, eu via os grupos que tinham sido bem-sucedidos em vários países e pensava que adoraria fazer isso algum dia — conta Greg, que na adolescência era grande fã do Queen (banda com sucesso em muitos países), depois teve a “fase heavy metal” (com Slayer, Megadeth, Metallica) e aí chegou aos Doors e aos Smiths, suas bandas favoritas . — São duas bandas muito ousadas, e de maneiras diferentes. Acho que, se você misturar as duas bandas, especialmente suas baladas, como “The Chrystal Ship” do Doors e “I know It's over” dos Smiths, você vai ter algo parecido com Cigarettes After Sex.

Greg Gonzalez diz adorar o Brasil, onde esteve algumas vezes com a banda (a última, no ano passado, no Lollapalooza). Ele espera voltar ano que vem, por volta de setembro, e quem sabe apresentar-se pela primeira vez no Rio.

— Nossos maiores fãs estão no Brasil. E isso mesmo antes da banda decolar lá por por volta de 2014 e 2015. Antes disso eu já recebia e-mails de pessoas no Brasil dizendo que amavam nossa música. Sempre que podemos nós voltamos ao Brasil — garante.

Um de seus álbuns favoritos, por sinal, é “La question”, que a cantora Françoise Hardy (morta em junho) gravou em 1971 com a brasileira Tuca (1944-1978).

— A Françoise me contou como fizeram esse disco, as duas tinham um relacionamento de trabalho interessante. O disco tem a voz dela, mas tem um pouco daquele som brasileiro de violão, da Tuca, que é algo que eu realmente amo — diz Greg, que hoje é acompanhado na banda por Jacob Tomsky (bateria) e Randall Miller (baixo). — Eles entendem que o Cigarettes After Sex é essencialmente como a soul music, em que você pode reduzir a execução ao mínimo. Na verdade, nosso baterista nem toca bateria, ele apenas faz aquela batida reta, sem viradas. Eles gostam de tocar com bastante simplicidade, o que, na verdade, é algo muito difícil de fazer.