Internacional
População de lobos na Europa divide produtores rurais e defensores de 'criaturas míticas'; Entenda
Quase exterminados há um século na Europa, a população de lobo-cinzento se recuperou e gera preocupação por impactos financeiros e ambientais

Os lobos-cinzentos, que foram praticamente exterminados há um século na Europa, voltaram a ter presença no continente devido a esforços de preservação. O crescimento da população desses predadores, no entanto, motiva protestos de agricultores e preocupação de ambientalistas.
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Como uma forma de permitir a retomada da caça, a Comissão Europeia pediu aos países da UE que alterassem o status de preservação dos lobos de "estritamente protegido" para "protegido", apesar da contrariedade dos ativistas.
— Se enfraquecermos a proteção, será possível caçar lobos sem justificativa e isso abrirá brecha para todo o tipo de abusos — alertou Guillaume Chapron, pesquisador da Universidade de Ciências Agrícolas da Suécia, à AFP.
Em 2023, havia matilhas reprodutoras de lobos-cinzentos em 23 países da União Europeia (UE), com uma população total de cerca de 20,3 mil animais, o que fez com que a espécie tivesse cada vez mais contatos frequentes com humanos. Na França, a compensação pelos danos causados por lobos aumentou para 4 milhões de euros (R$ 22,6 milhões na cotação da época) em 2022, em comparação aos 65 milhões de euros pelos prejuízos causados por javalis e veados.
A França é um dos países que enfrenta uma explosão na população dos canídeos. Estes animais desapareceram em 1939, mas começaram a retornar na década de 1990. Recentemente, o país registrou uma queda em sua população, a primeira em quase uma década, mas o número de ataques também aumentou.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que no ano passado perdeu o seu pônei Dolly devido a um lobo que entrou na propriedade de sua família, no norte da Alemanha, tem os lobos na mira, mas garante que não é por vingança pessoal. Meses após o ataque, Von der Leyen alertou que a concentração de matilhas em algumas regiões europeias se tornou um perigo real, sobretudo para os animais.
Perseguidos
No ano passado, a população de lobos na França era de cerca de mil exemplares, 9% a menos que no ano anterior. Muitas vezes são mortos para proteger os rebanhos, mas em condições muito específicas.
Cerca de 20% morrem todos os anos e as autoridades querem simplificar o procedimento de eutanásia. Este cenário faz com que muitos especialistas temam que os lobos sejam novamente ameaçados.
— Pensar que eliminar os lobos resolverá tudo é realmente um sonho que não vai funcionar — disse Luigi Boitani, professor de zoologia da Universidade de Roma, à AFP. Segundo ele, o foco deveria ser a prevenção de ataques com medidas como cercas elétricas e cães de guarda.
Boitani observou ainda que outros animais como javalis, veados e aves podem causar danos em maior escala do que os lobos em termos de custos.
Criaturas míticas
A caça de lobos na Europa foi institucionalizada pelo imperador germânico Carlos Magno no século IX, com o estabelecimento da "louveterie", um corpo especial de caçadores encarregado de erradicar animais nocivos às pessoas e ao gado.
Apenas na Convenção de Berna de 1979, o lobo foi declarado uma espécie "estritamente protegida". Chapron indicou que a medida permitiu a recuperação do animal na Europa.
— É uma história de sucesso e não temos muitas histórias de sucesso na preservação de espécies — acrescentou à AFP.
Muito presente na mitologia e nas histórias infantis, que os retratam como criaturas perigosas, os lobos, segundo Nicolas Lescureux, pesquisador do centro francês de pesquisa científica CNRS, foram e são objeto de fascínio para muitas sociedades humanas.
— A estreita relação entre humanos e lobos remonta a muito tempo, uma vez que os nossos cães atuais descendem de uma população de lobos. Esta é a forma mais antiga de domesticação animal — observou Lescureaux.
Para Boitani, uma das principais autoridades mundiais em lobos, o importante é evitar "qualquer fundamentalismo" para então resolver o problema.
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