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Beata Tereza cansada de reza
Sangrando, baleado no ombro esquerdo, Vadinho conseguiu, com dificuldade, atracar a canoa à beira do riacho Poxim. Ajudou Tereza a sair do barco. Ela também fora baleada; deu sorte, o tiro acertou seu medalhão pendurado no pescoço, e resvalou, não penetrou no corpo da jovem. Os dois abraçados caminharam devagar em direção ao Posto de Saúde do povoado. Moradores e amigos, notando o sangue nas vestes do casal, acudiram e ajudaram. Eram onze horas da manhã daquele sábado meio nublado. O Doutor Luiz Lima prestava consulta ao povo da região. Ao notar Vadinho entrar ensanguentado no Posto de Saúde, o médico levantou-se. A enfermeira deitou o ferido na maca da sala de curativos, retirou-lhe a camisa, constatou que uma bala havia penetrado; o ferimento sangrava. Em poucos minutos o médico limpou o ombro, anestesiou o local do ferimento e extraiu uma pequena bala calibre 22. Estancou e limpou o sangue, espalhou pomada, costurou alguns pontos, encobriu o ferimento com gaze e esparadrapo.
– Está pronto para outra. Pode ir, Vadinho. Cuidado com a vida.
– Obrigado, Doutor Luiz, foi sorte encontrar o senhor aqui.
Tereza, na sala de espera do Posto, apreensiva, segurava e beijava o medalhão de Santa Terezinha amassado pela bala que o acertou e por sorte, resvalou. Enquanto atendiam Vadinho, ela contou e repetiu os detalhes do tiro aos que lotavam o Posto. Todos queriam saber a história e segurar a medalha amassada. Uma senhora passando dos 60 anos, fanática adoradora de Santa Terezinha, ao segurar a medalha, ficou em estado de êxtase. Como uma explosão, beijando ininterruptamente a medalha, foi a primeira a anunciar: “– Milagre!”. De braços abertos, caminhou percorrendo as ruas do povoado, gritando para o povo:
– Milagre! Milagre! Milagre!
Andava pelas ruas contando a sorte de Tereza, com o milagre de Santa Terezinha.
Tereza, mais calma, esperando Vadinho, continuou narrando os detalhes dos tiros disparados pelo seu ex-namorado.
– Estávamos chegando na canoa, percebi uma gritaria, era João de Antônia à beira do rio apontando um revólver. Gritei por socorro, tinha certeza de que ele estava bêbado. Ouvi um disparo, senti uma batida no meu corpo, a bala havia acertado o medalhão e resvalado. Desequilibrei-me e caí no fundo da canoa. Vadinho pensou que eu havia morrido, largou o remo, abraçou-me chorando, gritando que me amava, que eu não morresse. Nesse momento, outro tiro acertou seu ombro. A dor de me perder era maior, ele continuava me abraçando e chorando. Ao notar que eu abri os olhos e estava viva, Vadinho sorriu. Ficamos abraçados no fundo da canoa. Só nos levantamos quando o louco do João de Antônia ligou o carro e fugiu. Em poucas remadas Vadinho conseguiu atracar a canoa à beira do rio. Logo viemos caminhando para o Posto de Saúde.
Milagre! Milagre! Milagre. As palavras ecoavam em todo canto. Em pouco tempo todos do povoado, principalmente as senhoras idosas, queriam abraçar Tereza e segurar a medalha milagrosa amassada.
Obs. Esta é a primeira página do romance, BEATA TEREZA CANSADA DE REZA, que terá seu lançamento na sexta-feira, dia 19 de julho, no Café Jardim, junto à Torre da TELASA na Jatiúca. Todos convidados entre 17 e 21 horas.
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