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Galeria carioca totalmente dedicada à arte tecnológica exibe mostra de criptoarte e prevê escola de inovação

Recém-inaugurada na Rua da Assembleia, no Centro, Meta Gallery tem espaço projetado para expor obras relacionadas a diferentes meios digitais, de realidade virtual à arte generativa

Agência O Globo - 10/07/2024
Galeria carioca totalmente dedicada à arte tecnológica exibe mostra de criptoarte e prevê escola de inovação
Galeria carioca totalmente dedicada à arte tecnológica exibe mostra de criptoarte - Foto: Reprodução / internet

Com crescimento exponencial nos últimos anos, o segmento das artes digitais ocupa cada vez mais espaço no mercado e em instituições. Um dos principais centros desta produção, o Rio ganhou a primeira galeria totalmente adaptada a diferentes vertentes da arte tecnológica no Brasil. Recém-inaugurada na Rua da Assembleia, no Centro da cidade, a Meta Gallery teve seu espaço projetado para expor obras relacionadas aos meios digitais, como realidade aumentada, instalações multimídia, arte generativa, realidade virtual e criptoarte.

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Fundador da Metaverse Agency, responsável, entre outros eventos, pela 1ª Mostra Nacional de Criptoarte, visitada por cerca de 200 mil pessoas nas unidades do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio e de São Paulo, Byron Mendes acredita que, ainda que possam parecer meios antagônicos, um espaço físico pode ampliar o público da produção criada exclusivamente por processos digitais.

— A arte digital já deixou de ser uma coisa futurista para se tornar realidade há muito tempo. Uma prova é o sucesso que a instalação do Refik Anadol (“Unsupervisioned”) fez no MoMA, um dos museus mais importantes do mundo. — comenta Mendes. — Mas seguimos com o desafio de formar novas audiências, de trazer a geração Z para dentro das galerias e museus. Ter um espaço físico colabora nesse processo.

Antes de abrir seu espaço próprio, inserido no projeto Reviver Cultural, plano da prefeitura voltado à recuperação urbanística e cultural do Centro da cidade, o empresário levou o segmento para outros ambientes dedicados a suportes tradicionais, como a ArtRio — em 2021, a Metaverse montou um estande na feira exclusivamente para criptoarte.

— Assim como é importante formar novos públicos, o mercado de arte também precisa entender melhor este meio. Participando de eventos dentro e fora do Brasil, vejo que os colecionadores ainda têm dúvidas sobre a arte digital. É um universo muito novo — avalia o galerista. — Hoje a arte digital é quase sempre exposta separadamente, mas ela é parte da produção contemporânea.

A proposta de formação da Meta Gallery também se estende à produção das obras, com a criação de um espaço multidisciplinar no segundo andar do prédio, para abrigar a Escola de Inovação em Artes Visuais e Tecnologia, voltada à educação de jovens em plataformas e ferramentas de arte e tecnologia digital.

— Queremos elaborar no segundo semestre uma ementa que vá desde audiovisual expandido até o desenvolvimento de metaverso, para iniciar em 2025, absorvendo jovens de baixa renda — diz Mendes. — Nossa meta é preparar jovens para mercados que crescem cada vez mais, como o dos games, até para profissões que nem existem ainda.

Até o fim do mês, será possível ver na galeria trabalhos que passaram pelos CCBBs de Rio e São Paulo entre novembro do ano passado até junho, assinados por artistas como e Alexandre Rangel, Giselle Beiguelman e Tania Fraga, a partir do tema “Década dos oceanos”, iniciativa da Unesco voltada à preservação de ecossistemas marítimos.

Uma das obras da mostra, “Cyber marinum” é um trabalho híbrido, uma estrutura de aquário onde plantas reais recebem luz para fotossíntese a partir de projeções criadas por data art (que utiliza informações coletadas em sua concepção). Pesquisadora de arte computacional desde os anos 1970, Suzete Venturelli assina a obra com parceiros de Universidade de Brasília (UNB), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Anhembi Morumbi (SP) e Universidade Federal da Bahia (UFBA).

— É um momento importante para a arte relacionada à ciência e tecnologia, no mercado e nas instituições. Temos ainda desafios pela frente, como a conservação, que é diferente da produção tradicional. Mas o desenvolvimento tecnológico vem abrindo este campo — destaca Suzete.

Autora da instalação multimídia 'Atrator no mar profundo', Tania Fraga acredita que espaços como a Meta Gallery e exposições realizadas nos CCeBs do Rio e de São Paulo e na CasaCor-SP deste ano têm papel fundamental na divulgação do segmento e afetando novas formas de expressão e interação.

— A produção artística no Brasil, nos próximos anos, terá um papel essencial para a construção de uma identidade cultural inovadora e eminentemente brasileira nesse universo — prevê Tania. — Meu foco para a criação dessas obras está em produzir interações não literais, interações que aconteçam através de simbioses entre emoções humanas e processos maquínicos.