Economia
Sabesp: Quem é a Equatorial, única candidata a apresentar proposta pela empresa de saneamento
Analistas apontavam que o edital da privatização, cheio de limitações ao acionista de referência, poderia afastar interessados

Única candidata a acionista de referência da Sabesp, a Equatorial Energia estreou no setor de saneamento em 2021 ao arrematar a concessão de 16 cidades no Amapá, com 730 mil habitantes, vencendo seis concorrentes e pagando R$ 930 milhões de outorga. Mas o foco de atuação da empresa é o setor de energia e, portanto, tratamento de esgoto e fornecimento de água são atividades novas na estratégia da empresa na área de infraestrutura.
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O investimento previsto no Amapá, nos 35 anos de concessão, é de R$ 4,8 bilhões. O estado tem o pior atendimento em redes de água do país, com apenas 46,9% da população tendo acesso ao abastecimento, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, que usa como base o ano de 2022, quando a Equatorial assumiu o serviço na região.
A Equatorial já mirava participar de outras concessões de saneamento no futuro e o Amapá seria uma espécie de laboratório antes desse passo.
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"Por ainda estar começando no mundo do saneamento, o fato de a Equatorial se tornar acionista de referência pode requerer uma curva de aprendizado. Mas se a empresa conseguir aplicar seu conhecimento operacional, financeiro e regulatório tem muito a agregar à Sabesp", escreveram os analistas da Ativa Investimentos em relatório a clientes.
Já no setor de energia, a empresa ganhou musculatura nos últimos anos: o grupo é o terceiro maior em distribuição de energia do país em número de clientes. Tem sete concessionárias, nos estados do Maranhão, Pará, Piauí, Alagoas, Rio Grande do Sul, Amapá e Goiás, atendendo cerca de 14 milhões de clientes nessas regiões (15% do total do país), o que representa presença em 31% do território nacional.
Atua também nos setores de transmissão, serviços, telecom, comercialização, geração distribuída e saneamento, e já entrou no setor de energia renovável.
Analistas consultados pelo GLOBO avaliaram que, mesmo sendo novata nesse segmento, a Equatorial é uma empresa conhecida dos investidores, inclusive estrangeiros, porque tem ações negociadas na B3.
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Um especialista em saneamento, sob a condição de anonimato, afirma que a Equatorial tem uma estratégia consolidada na relação com os investidores, divulga seus resultados periodicamente, além de sua política de governança — e o mercado gosta de transparência.
Nesse sentido, investidores domésticos tendem a se sentir mais confortáveis em reservar ações da Sabesp com um acionista de referência que já conhecem, diz a fonte. O fato de a Sabesp ser uma empresa bem gerida, com bons quadros, é um fator que pode compensar a falta de experiência da Equatorial em saneamento, diz o especialista.
No processo de privatização, dividido em duas etapas, a Equatorial fez uma proposta por 15% das ações da Sabesp que estão sendo vendidas pelo governo de São Paulo. Na próxima fase, que começa no dia 1 de julho, segunda-feira, os investidores de varejo fazem reservas por mais 17% das ações.
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O governo esperava uma disputa entre dois concorrentes e, a Aegea, maior empresa de saneamento do país, era apontada como a outra finalista a acionista de referência. Mas a empresa desistiu de entregar proposta e a Equatorial ficou sendo a única interessada.
A proposta de privatização já previa, entretanto, que apenas uma empresa pudesse se candidatar a acionista de referência. Portanto, não haverá adiamento da privatização, disse o secretário de Parcerias e Investimento do governo, Rafael Benini.
Outro especialista diz que o grande desafio para a Equatorial será equilibrar as relações com o poder público (o governo de São Paulo terá ainda 18,03% das ações depois de abrir mão de sua participação de 50,3%), com a agência reguladora paulista (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo — Arsesp) e com a agência federal (Agência Nacional de Águas — Ana). Será preciso uma relação 'republicana', diz o especialista, para que o negócio não perca valor e ao mesmo tempo as promessas do governo após a privatização avancem.
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O governo prometeu queda de tarifas após a privatização, sendo que a tarifa social e para vulneráveis será reduzida em 10%. Já a tarifa residencial comum terá uma queda de 1%, e a comercial e industrial, de 0,5%.
Mas é unanimidade no mercado que a entrada de um acionista privado tende a destravar valor para Sabesp, com injeção de recursos e possibilidade de atingir a meta de universalização de serviços em 2029 e não em 2033.
Segundo eles, edital elaborado pelo governo paulista, que colocou cláusulas proibindo a vencedora a entrar em outras concessões em São Paulo, ou de comprar ações de concorrentes de forma a tomar o controle, além da obrigação de ficar pelo menos cinco anos com as ações da Sabesp, permitirá que a empresa fique no 'foco' do acionista de referência e gere valor. Ao mesmo tempo, essas cláusulas podem ter afastado outros interessados, como a própria Aegea.
— A Sabesp é de longe a maior empresa de saneamento do país. A operação não é uma oportunidade que acontece sempre — diz Julio Pinheiro, analista de utilities da Western Asset. — Eu tenho certeza, do que eu conheço da Aegea, que se não fossem as amarras ela estaria muito disposta a participar. Não é um evento que acontece com frequência (no mercado de saneamento).
Além do salto de capacidade de investimento da Sabesp, há avaliação de que a companhia também poderá ampliar a influência para além de São Paulo. Isso em razão da cláusula de non-compete, que define que, em oportunidades de concessão em outros estados, o acionista de referência terá que consultar o Conselho de Administração da Sabesp sobre a oportunidade.
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A companhia poderá, então, decidir disputar a concessão em parceria com o investidor estratégico. A companhia paulista também tem prioridade em leilões em cidades que tenham mais de 50 mil habitantes.
Matheus Lencek, advogado do Cascione Advogados , especialista em direito público e da infraestrutura, afirma que, a partir da privatização, a Sabesp e a Equatorial vão se tornar também parceiras, em uma “mistura interessante”:
— É interessante para Sabesp também porque ela vai começar a participar em todos os processos que a Equatorial tiver interesse no Brasil. Além de ser a maior companhia estadual do país, ela pode passar a ser também uma empresa mais presente em outras regiões, com maior capacidade de investimento, mais abrangência e mais participação.
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Para Percy Soares Neto, consultor em saneamento e ex-diretor executivo da Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon/Sindcon), a privatização da Sabesp será o grande teste do setor de saneamento frente ao mercado.
Até agora, as empresas privadas ganharam concessões ou fizeram PPs, mas poucas têm ações na Bolsa. Apenas Sanepar (Paraná) e Copasa (de Minas Gerais) estão nesse time, mas a Sabesp é considerada a 'joia da coroa' do saneamento.
— Com a Sabesp, a joia da Coroa, o setor de saneamento será testado pelo mercado. É a primeira vez que o processo é feito por follow on (venda de ações negociadas na B3), que terá participação privada, do poder concedente — explica Percy.
Pinheiro acredita que a privatização da Sabesp será decisiva para o setor de saneamento, sendo vista como um modelo para o mercado. A operação servirá de exemplo para futuras concessões, seja pelo seu êxito ou insucesso, avalia.
Procurada, a Equatorial não se pronunciou.
Raio X da Equatorial Energia
Terceiro maior grupo de distribuição de energia do país
Tem sete concessionárias, atende 14 milhões de pessoas, 15% de consumidores do total nacional
Atua nos setores de transmissão, geração distribuída, serviços, telecomunicações e saneamento
Em 2021, ganhou a concessão de saneamento em 16 cidades do Amapá
Principais acionistas: Opportunity, Squadra, Fundo de Pensão do Canadá, BlackRock
Lucro líquido de R$ 384 milhões no primeiro trimestre, alta de 40,9% na comparação anual
Ações na B3 valiam R$ 34,47 em janeiro e agora valem R$ 29,20, queda de 35%
Fonte: Empresa e mercado
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