Internacional
Polícia do Quênia e manifestantes voltam a entrar em confronto em ato de memória a mortos no começo da semana
Nova manifestação foi convocada em homenagem a civis mortos pela repressão policial durante protesto contra aumento de impostos
A polícia do Quênia disparou balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes em Nairóbi nesta quinta-feira, quando manifestantes voltaram às ruas da capital queniana para um ato em homenagem às vítimas da repressão brutal a protestos contra um plano de aumento de impostos, no começo da semana, quando mais de 20 pessoas morreram. A nova manifestação foi mantida, apesar do recuo do presidente William Ruto sobre a aprovação do projeto.
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Os protestos, liderados em grande parte por jovens quenianos, pegararam as autoridades desprevenidas, enquanto o governo de Ruto oscilava entre adotar uma linha dura em relação aos distúrbios e apelar ao diálogo.
Dezenas de manifestantes se reuniram no distrito comercial central de Nairóbi. Soldados destacados e policiais com equipamento antimotim bloquearam o acesso ao longo das estradas que levam ao gabinete de Ruto na Casa do Estado e ao parlamento.
Os policiais dispararam balas de borracha e gás lacrimogêneo contra pequenos grupos de manifestantes e prenderam pelo menos sete pessoas. Os confrontos eclodiram quando alguns manifestantes atiraram pedras contra a polícia, viram jornalistas da AFP.
— Os jovens não vão descansar. É pelo nosso futuro que lutamos — disse Lucky, um universitário de 27 anos, ouvido pela agência francesa, acrescentando que não confiava em Ruto, que anteriormente comparou os manifestantes a “criminosos” antes de recuar.
Muitas lojas permaneceram fechadas na capital enquanto os comerciantes se preocupavam com mais agitação. Os manifestantes também se reuniram na cidade portuária de Mombaça e no bastião da oposição de Kisumu, com alguns bloqueando estradas e ateando fogo a pneus na cidade à beira do lago.
Depois que o complexo do parlamento foi saqueado na terça-feira e a polícia abriu fogo contra os manifestantes, Ruto se recusou a sancionar os aumentos e retirou o projeto na quarta-feira.
— O povo falou — disse ele, acrescentando que iria procurar “o envolvimento com os jovens da nossa nação”.
Mas os manifestantes mantiveram a manifestação de quinta-feira em memória dos mortos nas manifestações, criticando a reviravolta dramática de Ruto.
Ivy, uma jovem de 26 anos, disse à AFP na quarta-feira que a reviravolta de Ruto foi “um começo para mudar as coisas”.
— Ele poderia ter feito isso antes, sem que as pessoas morressem — acrescentou ela, ecoando as palavras de outros manifestantes.
'Não posso correr riscos'
Um grupo de direitos humanos apoiado pelo Estado contou 22 mortos em todo o país - 19 só em Nairóbi — na sequência dos protestos de terça-feira e prometeu uma investigação.
— Este é o maior número de mortes num único dia de protesto — disse Roseline Odede, presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos do Quênia, financiada pelo Estado, acrescentando que 300 pessoas ficaram feridas em todo o país.
As lojas estavam praticamente fechadas no distrito comercial de Nairobi na quinta-feira.
— Não podemos correr riscos. Não sabemos o que acontece a seguir — disse Joe, funcionário de uma perfumaria, enquanto se preparava para voltar para casa. — Por que eles tiveram que matar esses jovens? Este projeto de lei não vale a pena que as pessoas morram.
'Estamos em águas desconhecidas'
A agitação alarmou a comunidade internacional, com os EUA apelando ao Quênia para respeitar o direito ao protesto pacífico, e o apelo da ONU à “responsabilização” pelo derramamento de sangue.
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Vigilantes dos direitos humanos acusaram as autoridades de sequestrar manifestantes, mas a polícia não respondeu aos pedidos de comentários da AFP.
Medos de dívidas
Ruto reverteu algumas das medidas fiscais na semana passada, o que levou o Tesouro a alertar para um déficit orçamental de 200 bilhões de xelins (R$ 8,4 bilhões). O presidente disse na quarta-feira que a retirada do projeto de lei significaria um buraco significativo no financiamento de programas de desenvolvimento para ajudar agricultores e professores, entre outros.
O governo, sem dinheiro, tinha dito anteriormente que os aumentos eram necessários para pagar a dívida do Quênia de cerca de 10 bilhões de xelins (R$ 425,4 milhões), equivalente a cerca de 70 por cento do PIB.
Analistas alertaram que a administração de Ruto enfrentará uma escolha difícil nas próximas semanas.
O governo "terá agora de encontrar uma forma de pacificar duas forças opostas: uma população disposta a recorrer à violência para proteger os meios de subsistência e uma trajetória macroeconômica que, salvo um apoio multilateral considerável, está a caminhar para um precipício", afirmou a Oxford Economics em um comunicado
A administração de Ruto está sob pressão do Fundo Monetário Internacional, que apelou a reformas fiscais para conceder financiamento.
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