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Adélia Prado: confira quais são as principais obras da poeta vencedora do Prêmio Camões

Escritora mineira lançou primeiro livro em 1976 e ganhou elogio de Carlos Drummond de Andrade

Agência O Globo - 26/06/2024
Adélia Prado: confira quais são as principais obras da poeta vencedora do Prêmio Camões

Vencedora do Prêmio Camões, a maior honraria concedida a escritores lusófonos, anunciada nesta quarta-feira (26), a poeta mineira Adélia Prado é autora de mais de 20 títulos, entre prosa, poesia e antologias. Moradora de Divinópolis, ela é conhecida por escrever do ponto de vista de mulheres dedicadas à família, assombradas pela morte, que gostam de sexo e temem a Deus.

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O poeta Affonso Romano de Sant’Anna já afirmou que “Adélia não usa uma linguagem de empréstimo aos homens”, mas “está ali pisando no seu chão”, “com um caderno de poesia ao lado do fogão”. Na semana passada, ela já havia arrematado o Prêmio Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, pelo conjunto da obra.

Seus livros já foram traduzidos para o inglês e o espanhol e inspiraram um sem-número de teses acadêmicas, trabalhos que costumam tatear a temática feminina e religiosa de sua obra. Em 2015, às vésperas de completar 80 anos, Adélia ganhou uma antologia de sua obra poética na edição de luxo “Poesia reunida”.

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Em dezembro passado, veio a notícia de que a mineira está preparando um livro novo, cujo título provisório é “Jardim das Oliveiras”. “Fui resgatada pela poesia. Encontrei, em gavetas, poemas escritos na tenra juventude e, para minha surpresa, eles estavam em sintonia com minha experiência atual e desencadearam a ideia desse livro”, disse à imprensa.

Quer conhecer um pouco mais da obra de Adélia Prado enquanto aguarda o novo livro? Confira abaixo quais são as principais obras da vencedora do Prêmio Camões (e do Machado de Assis).

“Bagagem” (1976)

“Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,/ claraboia na minha alma,/ olho no meu coração”, diz um dos poemas de “Bagagem”, primeiro livro de Adélia. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) elogiou os versos da poeta de Divinópolis numa crônica no “Jornal do Brasil”: “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo”. Dividida em cinco partes, a obra já trazia as preocupações espirituais de Adélia, assim como sua exploração do desejo da mulher comum, que é mãe, esposa e dona de casa.

“O coração disparado” (1978)

Com seu segundo livro, Adélia venceu o Prêmio Jabuti e consagrou-se como uma das principais vozes da poesia brasileira. Na obra, aprofundou ainda mais seu diálogo com a religiosidade, a valorização do cotidiano e a reflexão sobre a feminilidade. No poema que abre o livro, “Linhagem”, ela busca na memória as coisas que faziam parte do cotidiano do avô: carvão, bolor de queijo, tomates verdes, cólica. Em outro, “Dois vocativos”, diz quem é: “Eu sou de três jeitos:/ alegre, triste e mofina,/ meu outro nome eu não sei./ Ó mistério profundo!/ Ó amor!”.

“O homem da mão seca” (1994)

Após anos em silêncio, Adélia lançou seu terceiro trabalho em prosa. Iniciado ainda em 1987, “O homem da mão seca” acabou abandonado depois que a autora concluiu o primeiro capítulo e passou por uma crise depressiva, que resultou num bloqueio criativo. Adélia encarou “a aridez como uma experiência necessária” e disse que “essa temporada no deserto” lhe fez bem. O livro conta a história do casal Thomaz e Antônia (a narradora) e reflete sobre como a fraqueza humana é, na verdade, um dom.

“Miserere” (2013)

Livro mais recente de Adélia, “Miserere” reúne 38 poemas em que a autora recorda a infância, assume o desejo de viver o presente e expressa dúvidas sobre o futuro. O misticismo que marcou toda sua obra também aparece aqui. À época do lançamento, o crítico literário Alcir Pécora disse que “o tom sentencioso e edificante” do livro “é geralmente temperado por uma atitude bem-humorada e vigorosa diante do pânico da doença e da morte”. Afirmou também que a obra era “um ótimo exemplo de como simbologias tradicionais, carregadas de mitos e de interditos supostamente ultrapassados, podem ganhar uma inesperada força como repertório poético”.