Internacional
Sob crítica da oposição, Netanyahu fala em trégua 'parcial' em Gaza e contradiz termos em negociação
Ex-integrante do extinto Gabinete de Guerra afirmou que fala do primeiro-ministro gera confusão e é avesso ao que era discutido pelo órgão há duas semanas
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, voltou a ser alvo de críticas, nesta segunda-feira, após afirmar em uma entrevista no domingo que estaria preparado para uma interrupção parcial da guerra no enclave palestino, mas que o conflito iria continuar até a destruição total do Hamas — um assunto que motivou polêmicas na semana passada. De acordo com autoridades do país, as falas do premier parecem contradizer os termos apresentados aos negociadores que tentam mediar o fim do conflito e a volta dos reféns israelenses.
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Em uma entrevista ao Canal 4 da TV israelense, o premier foi questionado sobre a possibilidade de chegar a um acordo com o Hamas, ao fim da fase de maior intensidade da guerra, a fim de acabar com o conflito. Netanyahu negou a possibilidade de encerrar a operação militar por meio de um trato com o grupo palestino, falando em uma "pausa parcial".
— Não. Não estou preparado para acabar com a guerra e deixar o Hamas de pé. Estou preparado para fazer um acordo parcial, isso não é segredo, que devolveria algumas pessoas [reféns] para nós — disse o premier. — Mas somos obrigados a continuar os combates após uma pausa, a fim de completar o nosso objetivo de destruir o Hamas. Não estou preparado para desistir disso.
As falas parecem contradizer os termos apresentados pelo governo israelense ao presidente dos EUA, Joe Biden, e encaminhada para outros negociadores que tentam mediar a paz entre o Estado judeu e o enclave palestino, que previa um plano de três etapas, culminando com o fim das hostilidades. O general Gadi Eisenkot, ex-integrante do Gabinete de guerra — dissolvido por Netanyahu na semana passada —, disse que as declarações do premier são avessas ao que estava sendo debatido no órgão.
— Até duas semanas atrás, em todas as discussões que tivemos no Gabinete de Guerra, havia apenas duas alternativas: ou um acordo completo em uma etapa ou um acordo em três fases — disse Eisenkot aos membros do Comitê de Relações Exteriores e Defesa do Knesset, registrada pelo Times of Israel. — A declaração do primeiro-ministro sobre um acordo parcial é contrária à decisão do gabinete de guerra. Talvez tenha sido um deslize freudiano, talvez apenas um pensamento. Mas acho que requer um esclarecimento imediato à luz da turbulência mental causada às famílias dos reféns.
Logo após o atentado de 7 de outubro, quando homens do Hamas e de outros grupos extremistas palestinos invadiram o sul de Israel e mataram aproximadamente 1,2 mil pessoas, a cúpula política e militar de Israel definiu três objetivos para a operação em Gaza: o resgate dos reféns capturados, a criação de uma nova realidade de segurança da região e a eliminação do Hamas. Após quase 9 meses de guerra, a capacidade de se atingir o último destes objetivos pela via militar é uma das questões que dividem o país.
Na semana passada, o principal porta-voz das Forças Armadas israelenses, Daniel Hagari, afirmou que, por se tratar de uma ideologia, o Hamas não seria facilmente retirado da cena política de Gaza, e sugeriu que a missão seria quase impossível sem a criação de uma alternativa em Gaza.
— O Hamas é uma ideia, um partido. Quem pensa que podemos eliminá-lo está errado — disse Hagari. — Se não trouxermos algo diferente para Gaza, no fim das contas, teremos o Hamas.
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A fala provocou uma resposta rápida do escritório de Netanyahu, que disse em nota ter estabelecido a aniquilação do Hamas como um dos objetivos de guerra, e que as Forças Armadas de Israel estavam “obviamente comprometidas com isso”.
O Exército, por sua vez, declarou em um comunicado que tem trabalhado alinhado com este propósito “ao longo da guerra, dia e noite”, e que continuará assim. A instituição sublinhou que Hagari falou “sobre a destruição do Hamas enquanto ideologia”, e que as palavras do porta-voz foram “claras e explícitas”, de modo que “qualquer outra afirmação seria tirar as coisas de contexto”.
A tensão política interna, contudo, tem girado em torno da proposição sobre o fim do Hamas, a criação de uma alternativa em Gaza e um acordo para encerrar as hostilidades. Quando Eisenkot e Benny Gantz, líder da oposição de centro-direita a Netanyahu, deixaram o Gabinete de Guerra, provocando a dissolução da instituição, Gantz justificou dizendo que o premier não atendeu ao ultimato sobre a apresentação de um plano para o 'day after' do enclave.
Na entrevista de domingo, perguntado sobre o pós-guerra em Gaza, Netanyahu afirmou que está "claro" que Israel vai manter "o controle militar em um futuro próximo".
— Também queremos criar um governo civil, se possível com palestinos locais [e um apoio regional] para administrar o fornecimento [de material] humanitário e, mais adiante, as questões civis na Faixa — acrescentou o premier.
Operação em Rafah perto do fim
Na entrevista de domingo, o premier israelense também afirmou que "a fase intensa dos combates contra o Hamas está prestes a terminar em Rafah".
— Está prestes a terminar. Isto não significa que a guerra esteja a ponto de terminar, mas a fase intensa da guerra está prestes a terminar em Rafah — afirmou em entrevista ao Channel 4. — Após o final da fase intensa, poderemos deslocar algumas forças para o norte, e vamos fazê-lo.
O norte é a fronteira com o Líbano, onde Israel mede forças com o Hezbollah, aliado do Hamas e do Eixo da Resistência, liderado pelo Irã. (Com AFP)
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