Internacional
Israel anuncia 'pausa' diária dos combates próximo à passagem em Rafah para permitir entrada de ajuda humanitária
Exército afirma que decisão ocorre 'na sequência de discussões com a ONU e organizações internacionais', mas destaca que 'não houve suspensão das hostilidades' no sul da Faixa

As Forças Armadas israelenses anunciaram, neste domingo, uma "pausa" diária nos combates próximo à uma rota em Rafah, no extremo sul de Gaza, para facilitar a distribuição de ajuda humanitária, após meses de advertências sobre a fome e a intensificação da crise no enclave palestino. O anúncio sobre a suspensão diária nos combates, que seguirá "até nova ordem", ocorre no dia seguinte à morte de 11 soldados israelenses em Gaza, oito deles no sul do enclave — uma das perdas mais significativas para o exército desde o início do conflito, em 7 de outubro.
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"Para aumentar o volume de ajuda humanitária que entra em Gaza e na sequência de discussões adicionais relacionadas com a ONU e organizações internacionais, uma pausa local e tática da atividade militar para fins humanitários terá lugar das 8h às 19h todos os dias, até nova ordem, ao longo da estrada que vai do cruzamento de Kerem Shalom à estrada de Salah al-Din e depois para norte", afirmou um comunicado militar.
Um mapa divulgado pelo exército mostra que a rota humanitária declarada se estende até o Hospital Europeu de Rafah, a cerca de 10 quilômetros de Kerem Shalom, aprovada em dezembro passado como entrada “temporária” de ajuda humanitária ao enclave palestino. O ponto de trânsito situa-se na interseção fronteiriça entre Gaza, Israel e Egito.
As agências da ONU e os grupos de ajuda humanitária têm advertido repetidamente sobre a terrível escassez de alimentos e de outros bens essenciais na Faixa de Gaza, exacerbada pelas restrições de acesso por terra e pelo fechamento do principal ponto de trânsito de Rafah para o Egito desde que as forças israelenses a tomaram no início de maio durante a incursão à cidade. A ONU afirma que que a fome é generalizada no enclave e que mais de 50 mil crianças precisam sofrem de desnutrição aguda.
Há muito tempo, porém, Israel defende os seus esforços para permitir a entrada de ajuda em Gaza, inclusive através da passagem de Kerem Shalom, acusando os militantes do Hamas de saquearem os fornecimentos e os trabalhadores humanitários de não os distribuírem aos civis.
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O diretor executivo adjunto do Programa Alimentar Mundial, Carl Skau, afirmou recentemente que "com a ausência de lei na Faixa de Gaza... e o conflito ativo", tornou-se "quase impossível prestar o nível de ajuda que satisfaz as crescentes exigências no terreno". Na sexta-feira, os líderes do G7 afirmaram que as agências de ajuda humanitária devem ser autorizadas a trabalhar sem entraves em Gaza, apelando à "passagem rápida e desimpedida da ajuda humanitária para os civis necessitados".
Os correspondentes da AFP em Gaza disseram que não houve relatos de ataques, bombardeios ou combates na manhã deste domingo, mas os militares sublinharam em um comunicado que "não houve suspensão das hostilidades no sul da Faixa de Gaza". O porta-voz do Exército, o contra-almirante Daniel Hagari, destacou nas redes sociais que "os combates em Rafah continuam".
Os militares afirmaram que a pausa já estava em vigor e que fazia parte dos esforços para "aumentar os volumes de ajuda humanitária", na sequência de discussões com a ONU e outras organizações. Coincidindo com o anúncio, Israel disse neste domingo que mais de mil caminhões de ajuda humanitária inspecionados pelas autoridades israelenses entraram no enclave por Kerem Shalom e estavam esperando serem descarregados.
O anúncio foi feito no momento em que os muçulmanos de todo o mundo celebram o Eid al-Adha, ou a festa do sacrifício.
— Este Eid é completamente diferente — disse Umm Muhammad al-Katri no campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza, à AFP. — Perdemos muitas pessoas, há muita destruição. Não temos a alegria que costumamos ter.
Em vez de um espírito festivo alegre, al-Katri disse que foi "para as orações do Eid de luto."
— Perdi o meu filho — explicou.
Israel 'agarra-se' aos objetivos de guerra
A decisão israelenses ocorre no momento em que os Estados Unidos têm pressionado Israel e o Hamas para que aceitem um plano de cessar-fogo apresentado pelo presidente Joe Biden e impuseram, na sexta-feira, sanções a um grupo extremista israelense por ter bloqueado e atacado comboios de ajuda humanitária com destino a Gaza.
Os mediadores do Egito, do Catar e dos EUA têm insistido em uma nova trégua em Gaza, desde o último acordo em novembro no qual os reféns foram libertados em troca de prisioneiros palestinos detidos nas prisões israelenses. O Hamas tem insistido na retirada total das forças de Israel do enclave e em um cessar-fogo permanente, exigências que Israel tem repetidamente rejeitado.
O secretário de Estado norte-americano Blinken afirmou que Israel apoia o último plano, mas Netanyahu, cujos parceiros de coligação de extrema-direita se opõem fortemente a um cessar-fogo e prometeram derrubar coalizão do governo caso seja aceito, não o aprovou publicamente. O ministro da Segurança Interna de Israel, Itamar Ben Gvir, de extrema direita, disse neste domingo que a pausa humanitária anunciada pelos militares fazia parte de uma "abordagem louca e delirante".
Guerra ampliada
No sábado, o exército disse que os oito soldados mortos foram atingidos por uma explosão quando viajavam num veículo blindado perto de Rafah, onde as tropas estavam envolvidas em ferozes batalhas de rua contra militantes palestinianos.O porta-voz militar, contra-almirante Daniel Hagari, disse que a explosão foi "aparentemente provocada por um engenho explosivo colocado na zona ou pelo disparo de um míssil anti-tanque".
Outros dois soldados foram mortos em combates no norte de Gaza e um outro sucumbiu aos ferimentos infligidos em combates recentes. Abu Obaida, porta-voz da ala militar do Hamas, prometeu "continuar os nossos dolorosos ataques contra o inimigo onde quer que ele esteja".
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As pesadas perdas de sábado elevaram o número total de mortos do exército israelita para 309, desde o início da ofensiva terrestre em Gaza, a 27 de outubro. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apresentou suas condolências após "esta terrível perda" e afirmou que "apesar do preço pesado e inquietante, temos de nos agarrar aos objetivos da guerra".
Israel prometeu aniquilar o Hamas após o ataque sem precedentes do grupo palestino em 7 de outubro, que deixou 1,2 mil mortos, em sua maioria civis, e fez mais de 250 reféns. Desse total, 116 permanecem em Gaza, embora o exército afirme que 41 estão mortos. Mais de cem foram libertados em um acordo entre as partes em novembro, enquanto outros foram resgatados em operações — na mais recente, quatro foram devolvidos aos seus familiares — e os corpos de 19 foram repatriados.
Em pouco mais de oito meses de conflito, a represália de Israel ao ataque terrorista já matou mais de 37 mil pessoas em Gaza, também na sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território, que é governado pelo Hamas desde 2007.
Com a estagnação dos esforços diplomáticos, os receios de que a guerra se transforme num conflito mais vasto no Oriente Médio foram reacendidos por uma escalada de violência entre Israel e o grupo militante libanês Hezbollah, aliado do Hamas. O Hezbollah afirmou que os intensos ataques que têm sido efetuados desde quarta-feira foram uma retaliação pela morte de um dos seus comandantes por Israel.
As forças israelenses responderam com ataques aéreos e bombardeios do outro lado da fronteira, segundo os militares. Os dois principais responsáveis da ONU no Líbano apelaram a todas as partes para cessarem fogo. "O perigo de um erro de cálculo que conduza a um conflito súbito e mais alargado é muito real", afirmaram numa declaração conjunta.
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