Internacional
Novas eleições? Governo-tampão? O que acontece no Irã após a morte do presidente do país
Considerado um dos favoritos para suceder líder supremo do Irã Ali Khamenei, a morte do presidente Ebrahim Raisi, em um acidente de helicóptero no domingo, 19, dá início a um período de incerteza política para o país, deixando a República Islâmica sem uma liderança importante em um momento em que o Oriente Médio atravessa um cenário de instabilidade provocado pela guerra na Faixa de Gaza.
Nesta segunda-feira, 20, o país declarou cinco dias de luto pela morte de Raisi e o aiatolá Khamenei designou como presidente interino o primeiro vice-presidente, Mohammad Mokhber. A indicação de Mokhber, porém, é provisória: a constituição iraniana prevê a organização de uma eleição especial para um novo presidente dentro de 50 dias.
De acordo com a imprensa iraniana, as eleições presidenciais foram convocadas para 28 de junho. "O calendário eleitoral foi aprovado na reunião dos líderes do Poder Judiciário, o governo e o Parlamento", indicou a televisão estatal.
Mokhber assumiu rapidamente as funções de presidente nesta segunda-feira, de acordo com uma declaração do Conselho Guardião do Irã repercutida pela imprensa estatal. O gabinete do Irã também nomeou Ali Bagheri Kani, anteriormente o principal negociador nuclear, como ministro interino dos Negócios Estrangeiros do país.
Uma reunião de emergência do gabinete foi realizada enquanto a mídia estatal fazia o anúncio da morte na manhã desta segunda-feira. Posteriormente, uma declaração do gabinete foi emitida, prometendo que seguiria o caminho de Raisi e que "com a ajuda de Deus e do povo, não haverá problemas com a gestão do país".
O próximo presidente do Irã cumprirá um mandato de quatro anos. Embora Raisi ocupasse uma posição proeminente no país, sua morte não deve afetar as políticas iranianas, já que todas as decisões consequentes no país, desde o programa nuclear ao envolvimento nas guerras em Gaza e na Ucrânia, são tomadas por Khamenei, o líder supremo que tem 85 anos.
Khamenei destacou que as operações do governo iraniano prosseguiriam, independentemente das circunstâncias - contudo, o falecimento de Raisi levanta incertezas sobre o futuro após o líder supremo renunciar ou morrer. A decisão final em todas as questões do Estado é deste cargo, que foi ocupado por apenas dois indivíduos desde a Revolução Islâmica de 1979. Raisi era visto como o principal candidato a assumir a liderança suprema.
Considerado um político ultraconservador, Raisi foi eleito em 18 de junho de 2021 no primeiro turno de uma eleição marcada por uma taxa recorde de abstenção e pela ausência de uma oposição significativa. Ele tinha o apoio da principal autoridade do país, o aiatolá Khamenei, que no domingo enviou uma mensagem de calma à população e garantiu que a morte não provocará "nenhuma perturbação".
O acidente matou todas as oito pessoas a bordo do helicóptero. Entre os mortos, além do presidente, estavam o ministro das Relações Exteriores iraniano, Hossein Amirabdollahian, o governador da província iraniana do Azerbaijão Oriental, um clérigo sênior de Tabriz, um oficial da Guarda Revolucionária e três membros da tripulação, disse a IRNA.
A morte do presidente iraniano ocorre num momento em que a guerra Israel-Hamas desestabiliza a região do Oriente Médio. O grupo terrorista Hamas, apoiado pelo Irã, liderou o ataque que deu início ao conflito, e o Hezbollah, também apoiado por Teerã, disparou foguetes contra Israel. No mês passado, o Irã lançou o seu próprio ataque sem precedentes com drones e mísseis contra Israel.
Como funciona o governo do Irã?
O Irã realiza eleições regulares para presidente e parlamento com sufrágio universal. Mas o líder supremo tem a palavra final sobre todas as principais políticas, serve como comandante-chefe das forças armadas e controla a poderosa Guarda Revolucionária.
O líder supremo também nomeia metade dos 12 membros do Conselho Guardião, um órgão clerical que examina candidatos à presidência, ao parlamento e à Assembleia de Peritos, um órgão eleito de juristas encarregado de escolher o líder supremo.
Em teoria, os clérigos supervisionam a república para garantir que ela cumpra a lei islâmica. Na prática, o líder supremo gere cuidadosamente o sistema dominante para equilibrar interesses concorrentes, promover as suas próprias prioridades e garantir que ninguém desafie a República Islâmica ou o seu papel no topo dela. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
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