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Aos 100 anos, veterano americano da Segunda Guerra se casará na Normandia, 80 anos após desembarque dos Aliados

Harold Terens vai casar em comemoração da chegada das tropas combatentes na França durante a Segunda Guerra; em 2019, ele recebeu a mais alta distinção francesa, a Legião de honra

Agência O Globo - 09/05/2024
Aos 100 anos, veterano americano da Segunda Guerra se casará na Normandia, 80 anos após desembarque dos Aliados

Quando as tropas Aliadas desembarcaram na Normandia, região histórica do noroeste da França, em junho de 1944, a Segunda Guerra Mundial passou a pender menos aos domínios nazistas. Após oito décadas, o veterano americano Harold Terens, volta ao lugar para um novo Dia D, desta vez do amor: o segundo casamento, aos 100 anos, com a nova companheira Jeanne Swerlin, de 96.

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O ex-combatente, que hoje vive em Boca Ratón, na Flórida, ao sul dos Estados Unidos, será homenageado nas comemorações do 80º aniversário do desembarque, e decidiu aproveitar a viagem para unir-se de vez à amada. Eles são viúvos e vivem juntos desde 2021.

— Esta é uma história de amor como você nunca ouviu antes — disse Terens, que recebeu em 2019 a mais alta distinção francesa, a Legião de Honra, das mãos do presidente Emmanuel Macron, e agora vai ter o casamento celebrado pelo prefeito da cidade.

Durante entrevista à AFP, o sobrevivente de guerra e a futura esposa trocavam olhares apaixonados, davam as mãos e se beijavam como adolescentes. O noivo é tido como um homem alegre e espirituoso, dono de uma memória prodigiosa, digna dos grandes feitos que vivenciou.

— Harold é uma pessoa incrível. Eu amo tudo nele. Ele é bonito e beija muito bem — declara Jeanne.

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A história de Terens no Exército americano começou aos 18 anos, em meio aos bombardeios do Japão à base naval dos Estados Unidos de Pearl Harbor. Como muitos jovens de seu país, à época, ele quis se alistar.

No início, sonhava em ser piloto da força aérea, mas o daltonismo o impediu e acabou se tornando um especialista em código Morse. Aos 20 anos, partiu para o Reino Unido em um navio. Por lá, foi designado para quatro caças P47 Thunderbolt, para os quais deveria garantir uma boa comunicação ar e terra.

— Estávamos perdendo a guerra porque estávamos perdendo muitos aviões e muitos pilotos — recorda o centenário. — Esses pilotos eram meus amigos e foram mortos. Eram todos jovens.

Metade dos 60 aviões da companhia de Terens foram abatidos durante o desembarque na Normandia. Pouco depois, ele viajou como voluntário para transportar para prisioneiros de guerra e Aliados libertados, e seguiu atuando em missões militares no Velho Mundo. O americano só voltou para Nova York, sua cidade natal, em 8 de maio de 1945, na rendição dos nazistas.

'Homem de sorte'

Com o fim da guerra, Terens se casou com Thelma, uma mulher com quem viveu por 70 anos e teve duas filhas e um filho. Em 2018, a primeira esposa morreu e ele teve que lidar com a dor do luto. No entanto, a vida estava prestes a lhe dar uma nova chance. Um amigo em comum o apresentou a Jeanne, que também havia ficado viúva.

Mas não houve amor à primeira vista. Em seu primeiro encontro, o veterano nem conseguiu olhar para ela, mas um segundo encontro mudou tudo e desde então eles não se separaram.

— Nunca amei ninguém como amo essa garota — diz Terens. — Ela ilumina minha vida. Ela torna tudo bonito, faz com que a vida valha a pena ser vivida.

Rodeados por familiares e amigos, eles dirão “sim” durante uma cerimônia em que uma neta de Terens cantará “I Will Always Love You”, de Whitney Houston, e sua bisneta de dois anos espalhará pétalas de flores pela sala.

— Sou provavelmente a pessoa mais sortuda do mundo — garante Terens. — Tenho tudo. Cem anos e ainda estou indo.