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Hamas fala em 'última chance' para Israel recuperar reféns e indica a mediadores que troca inicial incluiria mortos

Governo israelense enviou delegação formada por funcionários de média patente ao Cairo, em sinal de que negociação não é observada com olhar promissor

Agência O Globo - 07/05/2024
Hamas fala em 'última chance' para Israel recuperar reféns e indica a mediadores que troca inicial incluiria mortos
Hamas fala em 'última chance' para Israel recuperar reféns e indica a mediadores que troca inicial incluiria mortos - Foto: Reprodução / internet

Um alto funcionário do Hamas afirmou, nesta terça-feira, que a atual rodada de negociações no Egito representa a "última oportunidade" para Israel recuperar os reféns mantidos em cativeiro em Gaza, desde o atentado terrorista de 7 de outubro. A declaração ocorre um dia após o grupo palestino anunciar que aceitou os termos de uma negociação de cessar-fogo, com implementação em fases — que fontes ouvidas pelo New York Times afirmam que incluiria troca de reféns mortos por prisioneiros palestinos presos em Israel.

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— [A delegação do Hamas] deixará Doha em breve rumo ao Cairo — disse um alto funcionário do Hamas, que falou sob condição de anonimato com a AFP. — [As negociações representarão] a última oportunidade para Netanyahu e para as famílias [dos reféns] de verem seus filhos retornarem.

A declaração do funcionário ocorre na esteira de informações obtidas pelo New York Times de que o Hamas informou aos mediadores de que parte dos reféns israelenses estão mortos, durante as discussões de segunda-feira. As fontes ouvidas pela publicação americana não conseguiram precisar quantos reféns estariam mortos, mas que parte dos falecidos deveria ser incluída na primeira fase de troca, segundo os termos em negociação.

A implementação do acordo proposto pelo Hamas seria dividida em três fases, cada uma com 42 dias de duração. A primeira incluiria o início de uma trégua, a retirada israelense do chamado Corredor de Netzarim, que divide a Faixa de Gaza ao meio, o retorno dos refugiados internos às suas áreas de origem e a troca de 33 reféns por um número a ser determinado de prisioneiros palestinos.

O grupo de reféns libertado nesta fase inicial incluiria mulheres, homens mais velhos e os doentes e feridos que estão entre os mais de 100 que se acredita ainda estarem em cativeiro. Os israelenses inicialmente queriam que 40 fossem libertados na primeira fase, mas o Hamas alegou que não teria tantos reféns que se encaixassem nos critérios em seu poder.

Autoridades israelenses afirmaram que a contraproposta do Hamas não é aceitável, por prever uma retirada total das tropas de Gaza e um cessar-fogo definitivo. Nesta terça, o Exército prosseguiu com uma esperada ofensiva contra a cidade de Rafah, no extremo sul do enclave palestino. Embora o Exército do país tenha falado em uma operação de contraterrorismo limitada a alvos específicos, a ação foi vista com preocupação por integrantes da comunidade internacional, incluindo o Brasil. Autoridades do Hamas e do , condenaram a operação israelense e disseram que a ação militar compromete os esforços diplomáticos.

Mesmo com a ofensiva — que Israel garante ter sido aprovada por unanimidade no Gabinete de Guerra — o governo israelense enviou uma delegação de negociadores para o Cairo nesta terça-feira. Ainda de acordo com a Reuters, o grupo é composto principalmente por funcionários de média patente dentro da burocracia estatal, em um indicativo que há pouca expectativa de um avanço das tratativas em direção a termos considerados aceitáveis.

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O governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enfrenta pressões internas sobre que direção tomar em relação ao acordo. Se por um lado há um movimento crescente de famílias que têm parentes mantidos em cativeiro em Gaza, para que qualquer acordo que os traga de volta seja aceito, dentro do Gabinete de Netanyahu, alas mais linha-dura defendem a continuidade da operação militar.

Milhares de manifestantes saíram às ruas para pressionar o governo a fazer um acordo e bloquearam estradas importantes em Jerusalém e Tel Aviv, na noite de segunda-feira, após a contraproposta do Hamas. Em sentido oposto, na manhã desta terça-feira, o ministro de Finanças israelense, Bezalel Smotrich, afirmou que a decisão do governo de enviar uma delegação ao Cairo era "um erro" e pediu mais pressão militar contra o Hamas em Gaza.

— Este é o momento de colocar cada vez mais pressão sobre Sinwar e o Hamas até que sejam destruídos. Falemos apenas com fogo. Não devemos ceder à pressão internacional e não devemos parar até a vitória e a submissão do inimigo. Esta é a nossa Guerra da Independência e devemos vencê-la — disse, em fala registrada pelo jornal israelense Haaretz. (Com AFP e NYT).