Esportes
Afegã dribla o Talibã e vai a Paris pelo time de refugiados
Primeira mulher do país praticante de breaking, Manizha Talash conseguiu asilo na Espanha e, agora, disputará a Olimpíada
Normalmente, atletas se tornam refugiados porque, em algum momento da vida, foram obrigados a deixar seu país por causa de conflitos ou guerras. O caso de Manizha Talash, de 22 anos, é um pouco diferente. Entre os motivos que a levaram a deixar o Afeganistão em 2022 está justamente a modalidade que pratica: o breaking. Na última quinta, ela foi confirmada ao lado de outros 35 nomes como membro do time de refugiados do Comitê Olímpico Internacional (COI) que participará dos Jogos de Paris, entre julho e agosto.
Quando Manizha se tornou conhecida da imprensa internacional, em 2020, como a “primeira afegã praticante de breaking”, o país vivia a tensão de um iminente retorno dos talibãs ao poder. Com 18 anos, ela não havia vivido os anos sob domínio do grupo ultraconservador, encerrado em 2001. Mas já sentia o que estava por vir.
A fama adquirida por Manizha na época pôs a equipe da qual fazia parte (a Superiors Crew) na mira dos radicais. Na interpretação ultraconservadora do Islã, dançar não é permitido às mulheres.
A academia virou alvo de ataques em Cabul. Num deles, uma pessoa foi ao clube fingindo estar interessada. De repente, dezenas de oficiais militares correram para prendê-la. Era um homem-bomba.
— Quando penso no possível retorno do Talibã e que talvez não possa continuar praticando breaking, fico muito preocupada — disse na ocasião à agência Reuters. — Quero servir de modelo, uma pessoa que realizou seus sonhos.
O temor de Manizha se confirmou. Os talibãs retomaram o poder em agosto de 2021. Não só o direito de dançar foi tirado das mulheres, mas também o de estudar e de trabalhar. Até mesmo sair de casa passou a estar sob restrições.
Trinta e seis atletas
A nova realidade afetou todo o Superiors Crew, pois qualquer forma de entretenimento, como dança e canto, é proibida pelo ultraconservadorismo talibã. Após um período de clandestinidade e indefinição, tanto Manizha quanto seus companheiros de equipe deixaram o país em 2022.
Ela saiu com um irmão. Cruzaram as montanhas e foram parar no Paquistão. Após 11 meses, conseguiu asilo na Espanha com o apoio de uma ONG.
Na nova vida, Manizha e os Superiors Crew passaram a participar de eventos e a competir por toda a Europa. Agora, o foco se volta para os Jogos de Paris. A despeito da proibição dos talibãs, o mundo inteiro verá uma afegã praticando breaking.
Ela não será a única do país no time de refugiados. Há cinco atletas com a mesma origem. Ao todo, 11 nações estarão representadas na delegação, que competirá em 12 modalidades.
Dos 36 atletas, um é medalhista olímpico. Ouro na canoagem em Tóquio-2020 por Cuba, Fernando Dayán deixou a ilha em 2022. Aproveitou período de treinamento no México e cruzou a fronteira com os EUA em busca de vida nova. Hoje mora e treina em Miami.
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