Internacional

Advertido sobre 'linhas vermelhas' de Pequim, secretário de Estado dos EUA cobra China sobre Ucrânia e Oriente Médio

Antony Blinken teve reunião longa com o chanceler chinês, Wang Yi, e encontrou-se com o presidente Xi Jinping, nesta sexta-feira

Agência O Globo - 26/04/2024
Advertido sobre 'linhas vermelhas' de Pequim, secretário de Estado dos EUA cobra China sobre Ucrânia e Oriente Médio
Blinken - Foto: Reprodução

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, cobrou uma participação mais ativa da China na desescalada dos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, nesta sexta-feira, durante reuniões com o presidente chinês, Xi Jinping, e o chefe da diplomacia do país, Wang Yi, em Pequim. Em uma série de reuniões, o representante de Washington foi advertido sobre avanços americanos contra interesses de Pequim e que os dois países têm muitos assuntos pendentes a serem resolvidos.

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Em uma reunião que durou mais de cinco horas, os diplomatas trataram de temas sensíveis da relação entre os dois países, bem como de assuntos correntes na comunidade internacional. Blinken cobrou a Wang que a China exerça o seu papel na situação do Oriente Médio, através de sua relação com o Irã.

— Penso que as relações que a China tem podem ser positivas na tentativa de acalmar as tensões, prevenir a escalada, evitar a propagação do conflito — disse Blinken a jornalistas, ao fim da reunião, afirmando que o ministro chinês concordou em manter contato no Oriente Médio.

O secretário de Estado também disse aos repórteres, logo ao fim da reunião, que demonstrou a preocupação de Washington com o apoio chinês à Rússia. Oficialmente, Pequim nega apoiar o esforço de guerra russo, mas os EUA acusam o país de facilitar a vida de Moscou por meio de incentivo econômico e envio de componentes que estão sendo usados com fins militares.

— A Rússia iria sofrer para manter a invasão na Ucrânia sem o apoio da China — disse Blinken aos repórteres.

As relações entre Estados Unidos e China desceram a um nível preocupante nos últimos anos. Os países cortaram comunicações militares em alto nível e encamparam, cada um à sua maneira, uma guerra comercial importante. A viagem de Blinken à Ásia tem por objetivo avançar com alguns temas menores e pragmáticos, e manter um contato ativo, mesmo que uma série de questões estratégicas sigam como um impasse, incluindo políticas comerciais e conflitos territoriais no Mar da China Meridional e em relação a Taiwan.

O ministro chinês foi claro ao advertir Blinken de que embora reconheça que a relação entre os dois países esteja começando a se estabilizar, "fatores negativos" continuam a surgir entre os dois países, e que qualquer tentativa americana de se opor a interesses considerados legítimos por Pequim poderiam levar a uma "espiral descendente" .

— Os legítimos direitos de desenvolvimento da China foram injustificadamente suprimidos e os nossos interesses fundamentais enfrentam desafios. Devem, a China e os EUA, manterem-se na direção certa para avançar com estabilidade ou regressar a uma espiral descendente? — disse Wang, em um pronunciamento traduzido.

Wang acrescentou um alerta para os EUA "não pisarem nas linhas vermelhas da China relativamente à soberania, segurança e interesses de desenvolvimento da China".

Os chanceleres também trocaram impressões sobre a região do Pacífico, cerne da maior tensão militar entre os dois países. A China acusa os EUA de trabalharem para cercar os interesses chineses no Pacífico — como por meio do último pacote de ajuda militar aprovado no Congresso americano, que previa repasses a Taiwan.

Blinken não mencionou o território que Pequim considera como parte de seu território, mas fez um alerta sobre as Filipinas, nas imediações, prometendo defender o aliado em caso de qualquer avanço expansionista chinês.

— Deixei claro que, embora os EUA continuem a diminuir as tensões, os nossos compromissos de defesa com as Filipinas permanecem firmes — disse Blinken, acrescentando que abordou “ações perigosas de Pequim no Mar do Sul da China”.

'Parceiros, não rivais'

Ao concluir a agenda de horas de duração com Wang, o secretário de Estado teve um encontro mais breve com o presidente da China, Xi Jinping. Em uma aparição pública mais amena, o líder chinês disse que Pequim e Washington deveriam ser "parceiros, não rivais", embora tenha reconhecido que os dois países registraram "alguns progressos positivos" desde que ele se reuniu com o presidente americano, Joe Biden, no fim do ano passado.

— Muitos problemas que precisam ser resolvidos [persistem] e ainda há espaço para esforços adicionais — declarou o líder chinês. — Eu propus três princípios principais: respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação benéfica para todos. A Terra é grande o suficiente para abrigar o desenvolvimento comum e a prosperidade da China e dos Estados Unidos. (Com AFP e NYT)