Internacional

Colonos israelenses são suspeitos de matar motorista de ambulância que socorria palestinos feridos na Cisjordânia

Acidente ocorre em meio à conclusão da operação contra campo de refugiados com 14 mortos; incidente separado matou outros dois jovens na região

Agência O Globo - 21/04/2024
Colonos israelenses são suspeitos de matar motorista de ambulância que socorria palestinos feridos na Cisjordânia

Um motorista de uma ambulância da Sociedade do Crescente Vermelho (PRCS) foi morto por colonos israelenses enquanto transportava palestinos feridos, informaram o Ministério da Saúde palestino e a organização humanitária no sábado à CNN. Em outro episódio, uma equipe médica foi impedia de entrar em um hospital na região de Tilkarm, também na Cisjordânia. Os casos ocorreram em meio à conclusão neste domingo da incursão israelense ao campo de refugiados de Nur Shams, próximo a Tulkarm, que deixou ao menos 14 mortos, segundo a Cruz Vermelha. No mesmo dia, o Ministério da Saúde palestino informou a morte de outros dos palestinos, enquanto as Forças Armadas de Israel alegam ter "neutralizado" dois "terroristas".

O motorista da ambulância foi identificado como Mohammed Awad Allah Musa, de 50 anos, e trabalhava para a organização humanitária, de acordo com o Ministério da Saúde. À rede americana, o Crescente Vermelho afirmou que Musa teria morrido quando foi atingido por disparos realizados por colonos israelenses contra o veículo. Os militares estão investigando o caso, segundo o Haaretz.

Em outro caso separado, mas também envolvendo médicos da PRCS, uma equipe de ambulância foi barrada por soldados israelenses na porta de entrada do hospital Thabet Thabet, em Tulkarm, segundo a organização humanitária. Os agentes, ainda segundo o Crescente Vermelho, foram detidos e interrogados. Imagens compartilhadas pela organização com a CNN mostram a equipe dentro de um veículo do Exército, cercada por militares.

O Ministério da Saúde, também citado pela CNN, condenou ambos os casos, descrevendo a morte do motorista como um "assassinato deliberado [...] enquanto cumpria seu dever humanitário no transporte de (pessoas com) ferimentos causados por tiros de colonos perto da cidade de Al-Sawiya, ao sul de Nablus".

Balas 'reais' x balas da 'ocupação'

A violência e as detenções contra os agentes humanitários ocorreram em meio à escalada da tensão na Cisjordânia, que alcançou patamares históricos nos últimos dias. Desde quinta-feira, a Cruz Vermelha contabilizou 14 pessoas mortas durante a operação israelense contra o campo de deslocados Nur Shams. O Exército deu a operação como concluída, segundo a CNN, e afirmou por sua vez ter matado "10 terroristas" e prendido "oito suspeitos procurados".

As mortes somam-se a outras duas registradas também neste domingo. O Ministério da Saúde afirmou que os jovens Muhammad Majid Musa Jabareen, de 19 anos, e Mahmud Musa Jabareen, de 18, foram mortos por soldados israelenses, enquanto as Forças Armadas contam uma versão diferente: os militares confirmaram em uma publicação no X (antigo Twitter) terem "neutralizado" dois "terroristas" após frustrarem um ataque pela manhã.

Fontes de segurança palestinas, citadas pela agência de notícia Wafa, afirmam que o episódio ocorreu próximo à aldeia de Beit Einun, perto da cidade de Hebron. "Os soldados responderam à balas reais", afirmou o comunicado israelense, enquanto a pasta palestina fala que as mortes foram causadas por "balas da ocupação [israelense]".

Desde os ataques do Hamas em 7 de outubro, mais de 480 palestinos foram mortos na Cisjordânia por soldados e colonos israelenses, de acordo com o Ministério da Saúde palestino. No mesmo período, pelo menos 19 israelenses foram mortos por palestinos na Cisjordânia e em Israel, de acordo com o serviço de inteligência israelense Shin Bet.