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'Minha cabeça agora está legal. Antes, estava terrível', diz Cláudio Adão sobre luta contra o Parkinson

Casado a fotógrafa Paula Barreto há quase 45 anos, ex-jogador realiza treinos para retardar a doença e se dedica a ser avô

Agência O Globo - 21/04/2024
'Minha cabeça agora está legal. Antes, estava terrível', diz Cláudio Adão sobre luta contra o Parkinson

“Se você não falar pra parar, a gente vai ficar se beijando aqui até amanhã”, brinca Cláudio Adão com o fotógrafo. À vontade, o ex-jogador de 68 anos mostra que os cabelos brancos não esfriaram o casamento de quase 45 com a produtora cinematográfica Paula Barreto, de 64. Uma união que gerou dois filhos e cinco netos (Bella, filha da primogênita Camilla, chega em julho) , sobreviveu à falta de rotina das carreiras de ambos e se aproxima do cinquentenário apoiada não só no amor, mas no bom humor e na parceria. Ingredientes indispensáveis para encararem os seguidos problemas de saúde que perseguem Adão desde 2019.

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Durante dois anos, o artilheiro de quase tudo que disputou — em 30 anos jogando em grandes clubes do país, entre eles os quatro do Rio, e depois na seleção de futebol de areia — viveu entrando e saindo do hospital. Covid grave, com direito a 12 dias de internação. Boop (bronquiolite obliterante com pneumonia em organização), doença pulmonar inflamatória que afeta os bronquíolos e os alvéolos — e lhe rendeu mais 12 dias internado. Arritmia cardíaca. Plastia (espécie de plástica que restaura tecidos ou estruturas) da válvula mitral cardíaca. E, por último: Parkinson. A doença neurológica, que afeta os movimentos do paciente e não tem cura, foi diagnosticada em setembro de 2022. Mas só agora, mais de um ano e meio depois, ele consegue falar sobre o assunto.

— A minha cabeça agora está legal. Antes, estava terrível — admite Adão, que revelou o problema a amigos próximos, como Cantareli e Zico, apenas no mês passado, na festa de aniversário do Galinho de Quintino: — Fui entendendo que estava com um problema. E hoje estou levando. Ela (Paula) me ajudou muito nisso.

Os tremores, sintoma mais visível da enfermidade, atingiram apenas o braço esquerdo, e de forma leve. Mas o ex-jogador ainda está aprendendo a lidar com todo o resto: lentidão nos movimentos, distúrbios do sono, falta de apetite, cansaço constante, dificuldade de evacuar. Já perdeu dez quilos desde o início dos problemas — hoje pesa 72kg, com 1,75m de altura. Precisou limitar o vinho a uma taça no almoço ou no jantar. E desistiu das peladas e do futevôlei sagrado de todos os dias nas areias da praia. Até hoje referência de força e disposição em campo, mesmo aposentado há quase 30 anos, Adão tem dificuldade em aceitar as limitações impostas pelo Parkinson.

— Faz falta tudo que eu fazia 100%. Com mais de 60 anos, jogar futevôlei já é complicado, mas eu tinha condições físicas invejáveis. Os caras falavam: “Pô, o que você tem? Como consegue?”. Esses filhos da p... me secaram — diz ele, meio sério, meio dando risada.

Sargento Garcia no pé

Paula entrega que o marido só não continua batendo bola com os amigos porque não conseguiria ter a mesma performance de antes.

— Ele não admite jogar nesta nova fase, quer ser quem ele era. Outro dia, foi a uma pelada, não jogou, mas voltou dizendo: “nossa, está todo mundo muito velho, estão uma porcaria, jogando mal demais”. Falei: “viu, podia ter jogado”. Mas você é muito exigente, Cláudio, a autocrítica é grande — afirma a produtora, mãos dadas com Adão, no sofá da enorme sala da casa onde eles vivem num condomínio no Itanhangá, Zona Oeste do Rio, na companhia do yorkshire Fumaça.

— Paula, os velhos estão uma merda, mas estão correndo. Quer dizer, se movimentando. E eu, que não posso nem me movimentar? — rebate ele: — Essa doença me enganou, me tirou a força. E sem força você não é nada, não é ninguém.

A revolta, que às vezes dá às caras, não impede Cláudio Adão de seguir firme no tratamento para retardar o Parkinson. Ele não toma nenhum remédio alopata, faz uso apenas do canabidiol, que ajuda a amenizar sintomas da doença, como a insônia. Pratica execícios por uma hora diariamente, seis vezes por semana. Faz massagem para aliviar as dores e aulas semanais com uma professora para exercitar escrita e leitura.

A rotina é coordenada de perto pela Sargento Garcia (atrapalhado inimigo de Zorro, numa série da década de 1950), apelido carinhoso que o ex-jogador deu à mulher. É ela quem “enche o saco” para ele se levantar e ir treinar, mesmo cansado. É ela quem orienta o funcionário do casal a não deixá-lo ficar sem se alimentar, apesar da falta de apetite. É ela quem insiste para que o marido saia de casa, encontre os amigos e a acompanhe num show de samba.

— Eu sei que é bom para mim ela ser chata. Porque, se não tem ela, minha vida estava pior — reconhece.

Planos para o futuro

Homem de fé, Adão se diz católico, mas também frequenta a umbanda. Até pouco tempo atrás, peregrinava todo ano de Ipiabas (RJ) até o santuário de Nossa Senhora Aparecida, de quem é devoto, no interior de São Paulo, numa caminhada que levava oito dias. No último dia 1º de janeiro, pediu licença a Iemanjá para entrar no mar pela primeira vez naquela data — algo que nunca havia feito em respeito às oferendas colocadas ali na véspera. Assim, medo de morrer ele assegura que não tem, nem teve durante a Covid e os outros problemas de saúde:

— Só fico preocupado porque meus netos são todos pequenos. Penso neles: “pô, vão perder o avô cedo...”.

Hoje, além de cuidar da saúde, Cláudio Adão se dedica a ser vovô, especialmente para Joaquim, de 4 anos, e Flora, de 6, filhos de Felipe, ex-atleta de futebol que aos 38 joga futevôlei pelo Botafogo — ele convive menos com Bernardo, de 10, e Enzo, de 15 anos, que são netos de criação. Adora levá-los às aulas de jiu-jítsu, balé e natação. Joaquim, é claro, também faz futebol — ao lado de Tom, neto de Zico. Toma lições particulares com o avô famoso, que experimentou ser técnico entre 2007 e 2013 e não abandonou totalmente essa ideia:

— Pretendo voltar a ser treinador. Se eu ficar legal, volto.