Internacional

Lela MC: conheça a menina migrante que se tornou prodígio do hip-hop na Colômbia

Com apenas 13 anos, Lela sobreviveu a um incêncio e começou a cantar rap em linhas ônibus, até que viralizou na internet

Agência O Globo - 19/04/2024
Lela MC: conheça a menina migrante que se tornou prodígio do hip-hop na Colômbia

Gabriela Brito, mais conhecida como Lela MC, tem apenas 13 anos e já conquistou uma carreira surpreendente na cena do hip-hop, com uma vida que parece saída de um filme: sobreviveu a um incêndio, fugiu da crise na Venezuela, cantou em ônibus para ganhar dinheiro e, atualmente, é uma estrela do rap na Colômbia.

'Free Willie': bar nudista LGTB+ de Amsterdã busca combater a intolerância

Veja também: Menino de 9 anos resolve ter polvo de estimação e faz sucesso no TikTok

Com cabelos longos até a cintura, aparelho nos dentes e roupas folgadas, Lela deixa de lado a timidez sempre que sobe ao palco ou grava um clipe. Ela se transformou em uma cantora prodígio que faz rap sobre a migração, sua paixão pela música e temas adolescentes que cativam mais de 300 mil fãs nas redes sociais.

Aos seis anos, após a morte de sua avó, ela migrou de Caracas com sua família, de ônibus, assim como muitos dos três milhões de venezuelanos que chegaram à Colômbia fugindo do colapso econômico. Suas primeiras músicas, no entanto, retratam as memórias de tempos menos encantadores:

"Não imagina as adversidades que passei / os obstáculos que encontrei no caminho (...) decidi migrar com o propósito de um futuro melhor / mas encontrei portas fechadas no caminho / muros erguidos", cantava ela há alguns anos atrás nas linhas de ônibus colombianas, ao lado de seu padrasto Jesús Sanz, de 32 anos, que a menina considera seu pai.

Incêndio

Os irmãos Gabriel e Gabriela Brito compartilham não apenas o nome e um vínculo familiar. As cicatrizes em seus braços lembram o dia em que uma explosão quase os matou, em 2017. Sua avó faleceu no incêndio causado por um vazamento de gás.

Em Berlim: Zoológico comemora o 67º aniversário de Fatou, gorila mais velha do mundo

"O herói Gabriel", na época com 8 anos, se jogou em cima da irmã de 6 anos para protegê-la das chamas, relatou a mãe Hayleén Volcán. As crianças ficaram com queimaduras graves. Gabriel passou vários meses no hospital e seis dias no CTI.

— Sua vida é um milagre — disse a mãe.

Com a morte de sua avó, as crianças não tinham com quem ficar na Venezuela. Isso as obrigou a irem morar com a mãe, que havia migrado para a Colômbia alguns meses antes. Hoje, Gabriel tem 15 anos e acompanha Lela no palco. Embora seja tímido, está aprendendo a usar a mesa controladora e é o DJ de sua irmã.

"Lela" é um nome artístico inspirado no irmão que salvou sua vida. Quando era pequeno, tinha dificuldade para pronunciar Gabriela, então a chamava de "Lela".

Do ônibus ao palco

Quando chegaram à Colômbia, "foram meses vendendo café, vendendo em um semáforo, vendendo água, vendendo amendoim", contou a mãe de 35 anos.

Em Paris: Moradores andam mais de bicicleta do que de carro, diz estudo

Até que um dia, junto com seu pai, Sanz, que fazia rap nas linhas de ônibus de Bogotá para levar dinheiro para casa, Lela decidiu "pegar o microfone", lembrou Hayleén. Tinha oito anos quando alguém a gravou cantando uma música sobre o drama da migração e o vídeo viralizou na internet.

A canção composta pelo pai chegou aos ouvidos do produtor Jairo Peñaranda, conhecido como Mctematico no mundo do hip-hop. Ele se tornou o empresário de Lela, profissionalizou suas habilidades e encaminhou sua carreira artística.

Ele impôs uma única condição: que Gabriela e seu irmão mais velho voltassem à escola e recebessem acompanhamento psicológico. A falta de escolaridade afeta 29,7% das crianças venezuelanas na Colômbia, segundo a autoridade estatística do país.

Em 2021, lançaram sua primeira música. Pouco a pouco, ela aprendeu técnica vocal, modulação e desenvoltura no palco.

— Sou uma pessoa que não fala, mas depois da primeira música é como se eu me perdesse, com minha atitude eu aproveito o show — diz Lela MC sorrindo.